Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

Legionário, N.o 470, 14 de setembro de 1941

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(...) Cresce, na França, o movimento de hostilidade ao governo de Vichy. Na semana passada, noticiou-se que um venerando magistrado, o juiz Didier, de 62 anos de idade, recusou publicamente a prestar juramento de fidelidade ao velho Marechal Pétain. O protesto do magistrado foi público, e a notícia nos informa que um verdadeiro frisson de entusiasmo percorreu toda a sala de audiências em que o fato ocorreu.

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Devemos, dentro da mesma ordem de idéias, registrar a adesão de 12.000 franceses da Ásia Menor ao exército do Gen. de Gaulle. Ao mesmo tempo, a reação na França continua. Segundo telegrama da A.P., publicado nos jornais desta Capital, afixou-se em Paris o seguinte edital das autoridades germânicas de ocupação.

“No dia 22 de Agosto último, verificando-se o assassínio de um membro do exército alemão, foi anunciado que se se verificassem quaisquer novos ataques, reféns franceses seriam fuzilados. A despeito dessa advertência, um membro do exército alemão foi vítima de um novo ataque no dia 3 do corrente. O inquérito procedido demonstrou que o culpado não poderia ser senão um comunista francês. Em represália a essa ação covarde foram fuzilados três reféns franceses”.

Na noite de sábado para domingo da semana passada, ocorreram três incidentes de sabotagem em Paris. Foi a própria agência do Sr. Pétain que os noticiou: um incêndio em uma garagem requisitada pelos nazistas, um ferroviário nazista foi molestado por dois indivíduos, e um oficial também nazista recebeu na rua vários tiros de revolver.

Quanto à origem comunista de tais atentados, o “Osservatore Romano” já mostrou que, se bem que alguns elementos comunistas se possam ter envolvido neles, é um flagrante erro achar que o comunismo é a causa única de uma inquietação que tem tantas outras causas. Aliás, é curioso acrescentar que tanto os russos monarquistas como os russos comunistas estão sendo presos em Paris.

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Ainda a insuspeitíssima agência do Marechal Pétain distribuiu aos jornais desta capital o seguinte comunicado:

Nantes, 8 (H.T.M.) – O jornal “Phare de la Loire” publica a seguinte sentença da Corte Marcial:

“Por ter favorecido, como cúmplice, a fuga de prisioneiros de guerra franceses da zona não ocupada, e ter com isso contribuído para reforçar as forças inimigas, visto que os referidos prisioneiros tinham possibilidade de se reunir aos partidários de de Gaulle, ou ao exército inglês, o marinheiro Poirie, preso em Nantes, foi condenado pela Corte Marcial à pena de morte, tendo sido fuzilado em 31 de Agosto de 1941.”

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É curioso que, segundo telegrama da A.P., as altas autoridades alemãs de ocupação receberam o partido único fundado pelo Marechal Pétain para apoiar na França o governo de Vichy. O que significa isto senão a confessada solidariedade do Sr. Pétain a Berlim?

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Merece a máxima atenção o telegrama que abaixo transcrevemos:

Londres, 6 (De Gervilie Reache, da A.P.I. para a Reuters) – Personalidades eclesiásticas neutras, que acabam de regressar do Vaticano, anunciam que o “eixo” está fazendo uma formidável pressão junto ao Papa no sentido de que Sua Santidade adote uma posição favorável à Alemanha pelo menos com relação à cruzada anticomunista.

Em seus esforços, os diplomatas do “eixo” lançaram mão de zumbaias e promessas, principalmente promessas políticas de fazer concessões muito liberais aos católicos alemães. Não tendo essas promessas dado resultado, teriam sido tomadas medidas destinadas a colocar o Vaticano em dificuldades, falando-se na possibilidade de lhe serem retirados, gradualmente, todos os privilégios concedidos pelo Tratado de Latrão.

O primeiro pretexto aproveitado teria sido de nivelar as condições alimentares e outras no Vaticano, às das outras cidades italianas e, particularmente, às do resto de Roma. Isto teria permitido à polícia romana, obedecendo, aliás, instruções de Berlim, exigir o controle rigoroso do fornecimento e da distribuição dos gêneros alimentícios, e outros artigos que entram no território pontifical.

As autoridades italianas teriam declarado mais, que isso não tem senão “o começo e que se o Papa recusasse colocar seus bons ofícios à disposição do “eixo”, seriam canceladas as disposições do Tratado de Latrão”.

Os círculos neutros, portadores dessas notícias, afirmam que o Vaticano permanece insensível a todas essas ameaças, recusando-se terminantemente a permitir que a causa do catolicismo se associe à do pan-germanismo, tanto por ocasião da guerra contra a Rússia como em todas as outras circunstâncias.

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Deixamos para o próximo número a jocosíssima sessão em que o Sr. Salomão Ferraz preconizou em termos dulçurosos e desleais, a separação de Roma, de todos os católicos brasileiros. Não está com Cristo quem não está com a Igreja Católica, e não está com a Igreja Católica quem não está com a Sé Romana, Cátedra infalível da Verdade. Onde está o sucessor de São Pedro, aí está a Igreja. Sem o Papa, não há Igreja. E os católicos brasileiros não podem senão considerar uma abominação as idéias impregnadas de um herético e falso nacionalismo do Sr. Salomão Ferraz.

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Causou sorriso entre os que o leram um telegrama de Peiping, em que se anunciava que a sociedade budista daquela cidade descobrira em uma prisão um porco que seria a encarnação de Buda. Não se sabe porque o pobre porco morreu depois, e no local em que foi enterrado, isto é, no próprio pátio da prisão, se ergueu um monumento, ao qual afluíram muitos sacerdotes budistas a fim de fazerem um serviço fúnebre de homenagem ao ilustre morto.

É realmente ridículo, e causa dó ver-se que as almas imortais, criadas para adorar a Deus, se prestem a adorar um porco. – Aproxima-se o mês das missões, e necessário se torna pensar bem nisto.

Mas à margem deste fato, quereríamos fazer uma pergunta: do ponto de vista religioso, há muita diferença em adorar um porco ou adorar árvores, fontes, florestas, a raça, o sangue, etc., etc., como entre muitos povos “civilizados” que retornam gradualmente à prática do neo-paganismo? (...)


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