Legionário, N.o 467, 24 de agosto de 1941

7 DIAS EM REVISTA

Os telegramas provenientes da Europa nos tem informado das múltiplas manifestações de desagrado com que o povo da heróica França vem acolhendo a política nazificante do Marechal Pétain.

Um telegrama da United Press, de Vichi, transmitiu-nos um trecho precioso de um discurso do Sr. Burckel, governador nazista da Lorena, que é muito expressivo a esse respeito. Depois de se referir a todo um grupo de jovens da Lorena que preferiu fugir de sua terra a se sujeitar a servidão do totalitarismo, o Sr. Burckel diz: “A responsabilidade do gesto destes moços recai sobre seus pais. Dou-lhes a possibilidade de reparar o erro. Se os rapazes não regressarem até o dia 15 do corrente, agirei contra suas famílias, que serão enviadas para o Reich no dia 16”. Em outros termos, as famílias inocentes expiarão um “crime” que não praticaram.

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Em sinal de protesto contra a política nazista do Sr. Pétain, renunciaram a seus cargos o ministro e secretário da legação francesa em Costa Rica aumentando assim o número dos diplomatas que aderiram a De Gaulle.

Oficiais e tripulantes do navio francês “Ile de RE”, abandonaram esse cargueiro em sinal de protesto contra a política do Sr. Pétain. Declararam eles que essa deliberação foi tomada “em virtude de terem verificado em suas últimas viagens que os portos de Marselha, Argel, e Casa Blanca tem todas as docas fiscalizadas por autoridades que envergam uniforme italiano ou alemão”.

Confere.

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Também foi noticiado que, há mais tempo, duzentos oficiais e marinheiros do “Normandie” abandonaram seus postos em sinal de protesto contra a política do Sr. Pétain.

Tantos diplomatas, tantos marujos valentes, tantos oficiais que ficam reduzidos à situação precária renunciando a seus postos, serão porventura adversários da França? Não compreenderão como franceses de inexplicável psicologia, que os que, como o “Legionário”, deploram a influência nazista sobre a França, não são inimigos da gloriosa “primogênita da Igreja”, mas os melhores amigos de sua nação?

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Os adeptos do totalitarismo gostam de blasonar inveterado rancor às associações secretas. Esse rancor, como bom número dos rancores totalitários, seria nobre se fosse autêntico e eficaz. Mas acontece infelizmente que o anti-maçonismo dos totalitários é absolutamente tão duvidoso quanto seu anticomunismo.

Disto deu provas muito interessantes o recente golpe totalitário levado a cabo no Japão contra um Ministro de Estado incriminado de não conduzir com o necessário vigor a política de cooperação do Império do Sol Nascente com o “eixo”. Essa acusação originou um atentado que quase custou a vida à infeliz vítima.

Ora, quem planejou o golpe? Informa-nos que esse serviço prestado ao totalitarismo se deve, nada mais nada menos, a uma sociedade secreta denominada “dragão negro”, que faz um vasto trabalho pela totalitarização da Ásia, com ramificações no Japão, Índia, e provavelmente muitos outros países.

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Muito curioso foi o que se deu com a maçonaria na França. -  Como ninguém ignora, a Agência telegráfica “Havas” foi adquirida pelo governo francês, ao qual passou a servir de agência oficial, ou oficiosa, com o nome de “Havas Tele-Mondial”. Um telegrama desta agência, datado de 20 p.p., expedido de Vichi, depois de se referir às extensas medidas tomadas pelo Sr. Pétain contra a maçonaria, acrescenta textualmente.

“O “Journal Officiel” publica todos os dias novas listas de dignitários da maçonaria que não poderão mais ocupar cargos públicos. Já foram publicados mais de 1.500 nomes. Nesse total figuram apenas 18 parlamentares, aliás sem profissão, salvo o antigo presidente do Conselho, Sr. Camile Chautemps”.

Que significa isto? Evidentemente que o Sr. Pétain poupa os figurões da maçonaria, e só fere a “raia miúda”. Em outros termos o velho Marechal agrada aos católicos, sem romper com os leaders do movimento anti-católico.

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Bem já dizia o “Legionário” que o partido rexista belga, como seus congêneres dos demais países, não passa de mero instrumento da Internacional Totalitária. Disto deu mais uma prova o Sr. Degrelle, o famoso Quisling belga, determinando que, para facilitar a utilização das tropas alemãs de ocupação nas frentes de combate, os rexistas se incumbissem de policiar as fábricas que margeiam o canal marítimo de Bruxelas à Antuérpia, conservando-as bem submissas ao domínio nazista. São requintes de estratégia nazista: os maus belgas, depois de terem trabalhado para que seu país ficasse inteiramente nazista, são hoje, nas mãos do Sr. Hitler, os carrascos de sua própria pátria!

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 Outra prova de que a solidariedade internacional dos totalitários é completa foi-nos fornecida a semana passada pelo convite que a Srtª Primo de Rivera, famosa leader totalitária espanhola, recebeu do Reich para montar na Alemanha uma certa organização feminina nazista.

Em outros termos, a mentalidade e técnica da Srtª Primo de Rivera são tais que ela é utilizada pelo Sr. Hitler para missões de confiança, como se fosse uma nazista alemã.