Legionário, N.º 466, 17 de agosto de 1941

7 DIAS EM REVISTA

A política do marechal Pétain vai tendo os resultados que o “Legionário” previu. A neutralidade se transformou, cada vez mais, em colaboração. E só um cego poderia não ver que essa colaboração tende a se patentear cada vez mais claramente como uma subordinação. Assim, pois, o governo do Sr. Pétain arranjou meios de ligar gradualmente, mansamente, jeitosamente, às potências do eixo, os recursos morais e materiais de um dos maiores povos de todos os tempos.

Felizmente, entretanto, Pétain está longe de incarnar a França, e a reação dos verdadeiros franceses se faz sentir de modo cada vez mais enérgico. Quem nô-lo disse é o próprio Marechal quando tão acerbamente se queixou, em seu último discurso, da oposição crescente que vem sofrendo por parte de seus patrícios.

Mais uma vez repetimos que os aspectos puramente temporais deste problema não nos interessam. Mas quem poderia não ver que a política de Pétain se ajusta maravilhosamente aos desígnios daqueles que trabalham para o totalitarismo no mundo inteiro?

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A “Folha” publicou um telegrama da agência oficiosa alemã “T. O.”, que informa haver o diário dirigido pelo Sr. Farinacci, Ministro de Estado da Itália, pedido com urgência à Santa Sé que defina sua posição no conflito que os exércitos nazistas mantém contra os da URSS.

Diz o jornal do Sr. Farinacci que lamenta não poder enviar a todos os católicos um exemplar da Encíclica com que o Santo Padre Pio XI condenou o comunismo. A idéia realmente seria boa, se bem que a totalidade dos católicos já saiba hoje em dia que o comunismo e Catolicismo são coisas incompatíveis. Mas porque não se lembra o Sr. Farinacci de mandar, juntamente com a Encíclica contra o comunismo, a que o imortal Pio XI escreveu contra o Fascismo (“Non abbiamo bisogno”) e contra o nazismo (“Mit brennender Sorge”)? Evidentemente, há certos católicos que não sabem ainda que o nazismo está radicalmente condenado pela Igreja. E o Sr. Farinacci parece não ter o menor desejo de que eles venham a sabê-lo.

Por que é isto assim?

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A grande razão que o Sr. Farinacci alega para pedir a urgência à Santa Sé na sua decisão sobre a luta (?) nazi-comunista está na confusão em que se encontrariam muitas almas católicas. É o próprio Sr. Farinacci que o declara em palavras repassadas de melíflua piedade.

O Sr. Farinacci, acha pois, que é bom que a Santa Sé se defina, e até mesmo que ela o faça urgentemente. Será que a Santa Sé não percebeu essa urgência, que só feriu a atenção do Sr. Farinacci? Debruçados ambos, o Santo Padre e o Sr. Farinacci (.........) sobre a cristandade sofredora, só este viu uma necessidade e uma urgência que aquele não viu. Não é curioso?

O que entretanto é mais curioso, é que o Sr. Farinacci parece ter razão. Há tanta confusão em certos arraiais católicos. Por que não cumpre o Santo Padre seu dever de falar?

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Mas será que é mesmo o Santo Padre que deve falar, para fazer cessar a confusão? A Santa Sé já falou sobre o comunismo e o condenou. Falou também sobre o nazismo, e também o condenou, com vigor não menor. Agora que um luta contra o outro, que atitude tomar? Mas essa atitude já não estará implícita nas Encíclicas? Será duvidosa a linha de conduta que dela decorre? Entre dois perigos iguais que se entrechocam, deve-se optar pelo mais premente, pelo que mais meios de realizações tem no momento, pelo que maior capacidade de vencer tem revelado? Ou pelo mais ineficaz, mais desastrado e menos premente?

Se das Encíclicas papais não vêm nada que possa causar dúvida, de onde vem a confusão?

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Está aí um útil e fecundo tema de meditação para o Sr. Farinacci e para os indivíduos que seguem sua orientação. Para que a confusão cesse, não é preciso que o Santo Padre fale. A Santa Sé já falou, e só retornará a palavra quando na sua alta sabedoria julgar conveniente. Mas seria muito conveniente, para dissipar qualquer confusão, que o Sr. Farinacci se calasse. Pois que a confusão só vem dele e dos que escrevem segundo as idéias dele. Com efeito, se a situação já é suficientemente clara para que o Santo Padre não julgue necessário falar mais uma vez, onde a confusão senão na orientação seguida pelo Sr. Farinacci? O Sr. Farinacci deseja divulgar uma das Encíclicas papais e finge ignorar a outra. E, diante de princípios doutrinários que ele próprio procura assim mutilar, sustenta, exclama que há confusão. Ele mesmo oculta a palavra do Papa, e depois pede que o Papa fale! Quem é então o real autor da confusão?