Legionário, N.o 465, 10 de agosto de 1941

7 DIAS EM REVISTA

Anda sendo distribuída uma brochura, aparentemente impressa nos Estados Unidos, se bem que escrita em português, na qual se assevera que o Catolicismo, o comunismo e o  nazismo são solidários na obra de destruição da democracia, e que, portanto, a famosa quinta coluna outra coisa não é senão uma vanguarda católica.

Essa brochura torpíssima já foi clandestinamente depositada na caixa do correio de várias famílias católicas.

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É evidente a confusão que esse impresso pode causar nos espíritos incautos e desorientados. Assim, pois, para se saber qual foi seu autor, bastará apelar para o famoso princípio de que devem ser suspeitados da autoria de um crime aqueles a quem o crime aproveitou. A quem aproveitou essa confusão: apenas à seita protestante em cujo nome os folhetos são distribuídos? Ou, ainda, ao nazismo, que assim encontra um modo sutil de desacreditar completamente todos os boatos referentes à quinta coluna? Quem, pois, deve ser suspeitado?

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Evidentemente, não deduzimos daí que a referida seita não seja autora dos folhetos. Mas não seria esta a única vez em que o nazismo se serve de seitas protestantes como instrumentos de ação. [...]

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Mas como é possível que semelhante disparate encontre campo na opinião pública? Como há ainda quem tenha a audácia de afirmar que a Igreja, que tão duramente luta contra o nazismo e o comunismo, é aliada de um e de outro?

A culpa, em boa parte, cabe aos católicos de meias tintas, aos católicos expostos a acessos de nervosismo misericordioso, ou misericórdia nervosa, que os enche de inexplicáveis ternuras, finas suscetibilidades, agudo espírito de fraternidade para com todos os inimigos da Igreja. Se um católico ataca um adversário da Igreja, contra quem se indignam tais indivíduos? Contra o adversário da Igreja? Não, contra o católico. Mais os irrita um possível excesso contra os adversários, do que os notórios excessos dos adversários contra a Igreja.

Isto eqüivale a ter mais pena de Malco do que de Nosso Senhor. Ter pena de Malco é bom: Nosso Senhor nos deu disto exemplo. Mas chorar sobre a orelha de Malco, e irritar-se contra S. Pedro a ponto de perder qualquer presença de espírito para pensar nos sofrimentos de Nosso Senhor e na infâmia de Judas, não será evidente desacerto?

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Tais católicos, evidentemente, com seus perpétuos panos quentes, tendem a ocultar a luta titânica do papado contra o totalitarismo. E, assim, eles abrem flancos a calúnias que, em parte não pequena, correm por conta da própria responsabilidade deles.