Anda sendo
distribuída uma brochura, aparentemente impressa nos Estados Unidos, se bem que
escrita em português, na qual se assevera que o Catolicismo, o comunismo e
o nazismo são solidários na obra de
destruição da democracia, e que, portanto, a famosa quinta coluna outra coisa
não é senão uma vanguarda católica.
Essa brochura torpíssima
já foi clandestinamente depositada na caixa do correio de várias famílias
católicas.
* * *
É evidente a
confusão que esse impresso pode causar nos espíritos incautos e desorientados.
Assim, pois, para se saber qual foi seu autor, bastará apelar para o famoso
princípio de que devem ser suspeitados da autoria de um crime aqueles a quem o
crime aproveitou. A quem aproveitou essa confusão: apenas à seita protestante
em cujo nome os folhetos são distribuídos? Ou, ainda, ao nazismo, que assim
encontra um modo sutil de desacreditar completamente todos os boatos referentes
à quinta coluna? Quem, pois, deve ser suspeitado?
* * *
Evidentemente, não deduzimos daí
que a referida seita não seja autora dos folhetos. Mas não seria esta a única
vez em que o nazismo se serve de seitas protestantes como instrumentos de ação.
[...]
* * *
Mas como é possível que semelhante disparate encontre
campo na opinião pública? Como há ainda quem tenha a audácia de afirmar que a
Igreja, que tão duramente luta contra o nazismo e o comunismo, é aliada de um e
de outro?
A culpa, em boa parte, cabe aos católicos de meias
tintas, aos católicos expostos a acessos de nervosismo misericordioso, ou
misericórdia nervosa, que os enche de inexplicáveis ternuras,
finas suscetibilidades, agudo espírito de
fraternidade para com todos os inimigos da Igreja. Se um católico ataca um
adversário da Igreja, contra quem se indignam tais indivíduos? Contra o
adversário da Igreja? Não, contra o católico. Mais os irrita um possível
excesso contra os adversários, do que os notórios excessos dos adversários
contra a Igreja.
Isto eqüivale a ter mais pena de Malco do
que de Nosso Senhor. Ter pena de Malco é bom: Nosso
Senhor nos deu disto exemplo. Mas chorar sobre a orelha de Malco,
e irritar-se contra S. Pedro a ponto de perder qualquer presença de espírito
para pensar nos sofrimentos de Nosso Senhor e na infâmia de Judas, não será
evidente desacerto?
* * *
Tais católicos, evidentemente, com
seus perpétuos panos quentes, tendem a ocultar a luta titânica do papado contra
o totalitarismo. E, assim, eles abrem flancos a calúnias que, em parte não
pequena, correm por conta da própria responsabilidade deles.