Legionário, N.o 464, 3 de agosto de 1941

7 DIAS EM REVISTA

O “Mensageiro do Coração de Jesus”, excelente revista que se publica na Capital do País, além de outras notícias dignas de nota, deu duas que não queremos deixar passar sem uma referência:

a) Na Alemanha, o governo nazista proibiu a todos os indivíduos válidos que ingressassem em seminários, pois que podem em outros campos servir melhor a Pátria;

b) sob pretexto de que havia perigo para a população, foram proibidas as Missas dominicais até às 10 horas, nos dias em que houvesse bombardeio promovido pelos ingleses.

A primeira das medidas traz à Religião um prejuízo incalculável, e significa a afirmação oficial de que o Sacerdócio é inteiramente inútil. A segunda medida só seria lógica se, em dias de bombardeio, também fossem suspensos todos os trabalhos comerciais e toda a vida civil. Mas, ao que parece, as bombas inglesas só são nocivas aos que vão à Missa.

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“Que temos nós com isto? Isto se passa na Alemanha. Quanto a nós, nem temos aqui nazistas, nem bombardeios ingleses. Cuidemos, pois, de outra coisa”. – De muitos lados, essa observação nos chega aos ouvidos.

Se alguém tivesse um irmão agonizando na Alemanha por excesso de frio, e respondesse: que tenho eu com isto? Aqui não há frio, e como o excesso de frio é problema só dos climas setentrionais, pouco me importa o que sucede a meu irmão; se alguém respondesse assim, o que diríamos? Quando nada, responderíamos que não seria imerecido que Deus, para punir a indiferença desse indivíduo, o atirasse bruscamente em uma região polar para por sua vez morrer de frio. Esses problemas que nos parecem indiferentes porque tão distantes, se algum dia tivermos de lutar com eles em casa para expiarmos nossa indiferença, nos farão olhar anciosamente para os confins do globo, à espera de auxílio. E aí a doutrina da indiferença nos parecerá uma pesada falta de caridade!

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Não precisamos estender-nos muito sobre o caso Indochina. A valentia com que o governo de Vichy resistiu à Inglaterra atirando-se amorosamente nos braços do Japão, denota uma tão evidente simpatia do velho Marechal para com  o “eixo” que confirma todas as previsões desta folha.

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Quanto ao caso dos Açores ninguém deseja mais ardentemente do que o “Legionário” que Portugal conserve sempre intacta a sua soberania e a unidade de seu império colonial. Como católicos e como brasileiros, sentimo-nos tão ardentemente ligados a Portugal  que não somos, para ele, partidários de um simples statu quo, mas de um engrandecimento que esteja em proporção com a grandeza histórica daquele gloriosíssimo país.

Por isto mesmo, perguntamos a nós mesmos, não sem ansiedade se, depois de tão bem defendidos os Açores contra as agressões extra-continentais, não haverá outras, quiçá maiores e mais eminentes a recear.