Legionário, N.º 459, 29 de junho de 1941

7 DIAS EM REVISTA

Merece especial registro a notícia de que Sua Santidade o Papa Pio XII designou um cientista brasileiro, o Sr. Rocha Lima, para ocupar uma cadeira na Academia Pontifícia de Ciências.

Essa Academia, que é hoje um dos mais altos cenáculos científicos do mundo, conta entre seus membros as maiores sumidades que se tem destacado nos mais variados ramos do saber. A inclusão de um brasileiro na grande instituição fundada por Pio XI representa, além do reconhecimento dos méritos do cientista agraciado, uma distinção que honra todos os círculos intelectuais pátrios, e que constitui mais um expressivo testemunho de grande benevolência do Pontífice gloriosamente reinante por nosso Brasil.

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Publicamos em outro local as observações que o conflito teuto-russo nos sugeriu. Para esta seção, reservamos apenas algum comentário acerca do discurso em que o Sr. Adolf Hitler anunciou a declaração de guerra do III Reich à URSS. Como de costume as apreciações de natureza meramente temporal não nos interessam. Abstemo-nos, pois, de verificar se a culpa dessa nova guerra cabe a um ou a outro dos combatentes.

 Só o aspecto ideológico do problema merece nossa análise.

Deste ponto de vista o documento apresenta um interesse transcendental. O discurso pronunciado pelo “Fuherer” em hora tão solene, e difundido insistentemente não só em todo o território germânico mas no mundo inteiro, contém uma pormenorizada explicação dos motivos que levaram o III Reich a empreender esta nova guerra, e constitui por isto um documento feito com a intenção de valer, perante a opinião pública mundial e perante a História, como justificação de motivos da Alemanha. O documento é extenso e contém um relatório pormenorizado de todas as vicissitudes por que passaram as relações germano-soviéticas. Vê-se que ele foi redigido com o cuidado de não omitir um único dos argumentos que poderiam tornar simpática a causa nazista. Os motivos da guerra, o caracter que ela se reveste, sua finalidade, etc., tudo foi exposto ou interpretado de maneira a favorecer a Alemanha. Assim, só os que queiram prestar-se ao ridículo de serem “mais hitleristas do que Hitler” poderiam ver no conflito germano-russo causas mais nobres, intuitos mais altos, preocupações mais elevadas do que as do chefe do governo alemão externou.

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Ora, importa sobremaneira notar que o Sr. Hitler não deu uma única vez, à guerra com a Rússia, o caracter de uma  luta santa para a restauração da civilização cristã. Evidentemente, essa alegação seria vantajosa aos dirigentes nazistas, o que se comprova pela assiduidade com que em outros tempos o Sr. Hitler se arvorou em novo Constantino. No entanto, tal e tão evidente tem sido a perseguição do nazismo contra a Igreja, que o Sr. Hitler achou imprudente tocar nesta tecla, já muito gasta. Caberia apenas a algum de seus endeusadores nestas longínquas plagas o privilégio de ter uma ingenuidade maior do que o “Fuherer” poderia supor, e, assim, imaginar que é realmente em nome da Religião que ele combate contra a URSS.

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Nem procura o Sr. Hitler insinuar que as suas relações com a Rússia foram um disfarce que lhe permitiria, ulteriormente, atacar mais comodamente os sovietes, ferindo assim pelas costas esse inimigo da civilização ocidental e católica. Muito pelo contrário, o Sr. Hitler procura demonstrar longamente que, depois do pacto Ribbentrop-Molotov, no qual teve “o desejo de dar um fim à tensão com a Rússia e chegar, se possível, a estabelecer com a mesma harmonia duradoura”, essa harmonia só foi perturbada pelos manejos desleais dos sovietes. Quanto à Alemanha, jamais pensou em intervir na Rússia e derrubar o comunismo, pois que ela “jamais se envolveu na Rússia e jamais lhe desejou levar sua concepção nacional-socialista”.

Todas as palavras que publicamos entre aspas figuram no próprio texto do chanceler alemão.

Desiludam-se, pois, os ingênuos e não queiram saber a respeito desta guerra mais do que sabe o Sr. Hitler. A guerra teuto-russa não é uma guerra ideológica. Essa grande tese, que desenvolvemos pormenorizadamente em outra seção desta folha, é a única que a análise circunstanciada dos fatos autoriza.

Mais uma vez, repetimos que os aspectos temporais do problema não nos interessam. Mas esse aspecto ideológico, fazemos questão que não fique obscuro no espírito de nossos leitores.