Merece especial registro a notícia de que Sua
Santidade o Papa Pio XII designou um
cientista brasileiro, o Sr. Rocha Lima, para ocupar uma
cadeira na Academia Pontifícia de Ciências.
Essa Academia, que é hoje um dos mais altos
cenáculos científicos do mundo, conta entre seus membros as maiores sumidades
que se tem destacado nos mais variados ramos do saber. A inclusão de um
brasileiro na grande instituição fundada por Pio XI representa, além do
reconhecimento dos méritos do cientista agraciado, uma distinção que honra
todos os círculos intelectuais pátrios, e que constitui mais um expressivo
testemunho de grande benevolência do Pontífice gloriosamente reinante por nosso
Brasil.
* * *
Publicamos em outro local as observações que o
conflito teuto-russo nos sugeriu. Para esta seção,
reservamos apenas algum comentário acerca do discurso em que o Sr. Adolf Hitler anunciou a
declaração de guerra do III Reich à URSS. Como de costume as apreciações de natureza meramente temporal
não nos interessam. Abstemo-nos, pois, de verificar se a culpa dessa nova
guerra cabe a um ou a outro dos combatentes.
Só o aspecto
ideológico do problema merece nossa análise.
Deste ponto de vista o documento apresenta um
interesse transcendental. O discurso pronunciado pelo “Fuherer”
em hora tão solene, e difundido insistentemente não só em todo o território
germânico mas no mundo inteiro, contém uma pormenorizada explicação dos motivos
que levaram o III Reich a empreender esta nova guerra, e constitui por isto um
documento feito com a intenção de valer, perante a opinião pública mundial e
perante a História, como justificação de motivos da Alemanha. O documento é
extenso e contém um relatório pormenorizado de todas as vicissitudes por que
passaram as relações germano-soviéticas. Vê-se que
ele foi redigido com o cuidado de não omitir um único dos argumentos que
poderiam tornar simpática a causa nazista. Os motivos da guerra, o caracter que
ela se reveste, sua finalidade, etc., tudo foi exposto ou interpretado de
maneira a favorecer a Alemanha. Assim, só os que queiram prestar-se ao ridículo de serem
“mais hitleristas do que Hitler” poderiam ver no
conflito germano-russo causas mais nobres, intuitos
mais altos, preocupações mais elevadas do que as do chefe do governo alemão
externou.
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Ora, importa sobremaneira notar que o Sr. Hitler
não deu uma única vez, à guerra com a Rússia, o caracter de uma luta santa para a restauração da civilização
cristã. Evidentemente, essa alegação seria vantajosa aos dirigentes nazistas, o
que se comprova pela assiduidade com que em outros tempos o Sr. Hitler se
arvorou em novo Constantino. No entanto, tal e tão evidente tem sido a
perseguição do nazismo contra a Igreja, que o Sr. Hitler achou imprudente tocar
nesta tecla, já muito gasta. Caberia apenas a algum de seus endeusadores
nestas longínquas plagas o privilégio de ter uma ingenuidade maior do que o “Fuherer” poderia supor, e, assim, imaginar que é realmente
em nome da Religião que ele combate contra a URSS.
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Nem procura o Sr. Hitler insinuar que as suas
relações com a Rússia foram um disfarce que lhe permitiria, ulteriormente,
atacar mais comodamente os sovietes, ferindo assim pelas costas esse inimigo da
civilização ocidental e católica. Muito pelo contrário, o Sr. Hitler procura
demonstrar longamente que, depois do pacto Ribbentrop-Molotov, no qual teve “o desejo de dar um fim à tensão com a
Rússia e chegar, se possível, a estabelecer com a mesma harmonia duradoura”,
essa harmonia só foi perturbada pelos manejos desleais dos sovietes. Quanto à
Alemanha, jamais pensou em intervir na Rússia e derrubar o comunismo, pois que
ela “jamais se envolveu na Rússia e jamais lhe desejou levar sua concepção nacional-socialista”.
Todas as palavras que publicamos entre aspas figuram
no próprio texto do chanceler alemão.
Desiludam-se, pois, os ingênuos e não queiram saber
a respeito desta guerra mais do que sabe o Sr. Hitler. A guerra teuto-russa não é uma guerra ideológica. Essa grande tese,
que desenvolvemos pormenorizadamente em outra seção desta folha, é a única que
a análise circunstanciada dos fatos autoriza.
Mais uma vez, repetimos que os aspectos temporais
do problema não nos interessam. Mas esse aspecto ideológico, fazemos questão
que não fique obscuro no espírito de nossos leitores.