Legionário, N.º 447, 6 de abril de 1941

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[...] Suicidou-se, na Hungria, o Conde Teleki, presidente do Conselho de Ministros. Muitos jornais apresentaram o ato do desgraçado estadista como uma saída aceitável para o impasse em que se encontrou. O “Legionário” entretanto, não pode deixar de acentuar que o suicídio, em qualquer caso e qualquer situação, é sempre um pecado gravíssimo que jamais pode ser justificado por um verdadeiro católico. A este respeito a doutrina da Santa Igreja já está irretratavelmente definida.

Isto posto, não deixa de ser verdade que aquele aristocrata e político magiar se encontrava em situação dificílima. Não tendo, como tantos e tantos outros estadistas, clarividência suficiente para perceber que é uma verdadeira insane procurar desarmar, a custa de tratados e de docilidade, elementos políticos agressivos e intratáveis, empolgados pelo espírito de dominação e de conquista, aproximou-se ele de seus atuais aliados, facilitando-lhes consideravelmente a penetração nos Balcãs. Ao mesmo tempo teve a ingenuidade de supor que a Hungria se conservaria como uma ilhota de independência e de liberdade, no meio do oceano revolto dos países em luta latente com os novos dominadores. Agora, começou a perceber o contrário. E morreu suicidando-se, ao menos segundo informam os jornais.

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Conta-se que o último rei mouro ao se retirar de Granada, da cidade que capitulara pela pressão das tropas da grande Isabel, do alto de uma colina por onde passava a caminho do exílio, voltou-se mais uma vez para a sede perdida do reino, e se pôs a chorar. Então, acercou-se dele sua mãe que lhe disse: “chora, agora, meu filho, como uma mulher, o reino que não soubestes defender como homem”.

A propósito do propalado suicídio do conde Teleki, bem se poderia dizer: “foge agora, como um pagão, de uma situação que não soubeste evitar nem vencer como católico”.

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Enfim, um último fato, consolador este. Conta-se de um santo que placidamente contemplava um rio, quando um suicida se atirou de uma ponte, imergindo dentro da água, onde morreu. Alguém então se lamentou, perto do Santo, pela perda eterna daquela alma. E o Santo teve este comentário confortador: da ponte ao rio, há um instante, no qual a graça de Deus ainda pode operar. Fazemos nossas mais ardentes preces para que, no caso de realmente se ter suicidado o conde Teleki, antes da morte ainda se tenha podido arrepender.