Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 30 de março de 1941, N. 446

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Merece registro que por ocasião das festividades que assinalaram o 22º aniversário da instauração do fascismo, os tons dos discursos e artigos dos elementos os mais representativos do pensamento fascista se revestiram de um cunho acentuadamente revolucionário.

Em Roma, discursou o presidente do Senado, que enalteceu a “epopeia do esquadrismo, e a luta conduzida contra os burgueses cujo espírito ainda hoje encontra a mais completa expressão no mundo anglo-saxão”. Em mensagem dirigida ao Sr. Mussolini, o secretário geral do partido fascista qualificou a guerra movida pelo fascismo a seus atuais adversários de “guerra revolucionária”. Dias antes, o “Popolo di Roma” acentuara que a atual guerra era sustentada pela “Itália proletária” contra os “plutocratas”, e que ela constituía em última análise uma luta “dos ricos, dirigida contra a classe dos trabalhadores”. E, para remate, o jornal acrescentou que é “contra esta casta de plutocratas que a Itália se bate”.

Para um partido político que ainda se compraz em se colocar como porta-estandarte do anticomunismo, seria francamente desejável uma linguagem menos própria a exacerbar a luta de classes que, como se sabe, é o caldo de cultura para a disseminação dos ideais marxistas.

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Não se suponha, por esta observação, que o “Legionário” nutre qualquer forma de incondicionalismo em suas simpatias ou antipatias. Em matéria de incondicionalismos, só professamos o incondicionalismo católico, pois que, sendo a Igreja infalível, só este incondicionalismo é legítimo.

O “Legionário” já tem, com viva insistência, demonstrado como foi nefasto à causa do antitotalitarismo o espírito de acomodação, de imprevidência, de cegueira incoerente, que se costumou justamente a chamar “espírito de Munique”. Assim, qualquer país que esteja firmemente determinado a preservar o mundo do flagelo do totalitarismo deve estar igualmente resolvido a combater como perigo de suprema importância qualquer manifestação do espírito de Munique. Já disse com muita razão um jornalista que é este espírito que tem valido ao totalitarismo maiores triunfos de que jamais poderia ter conquistado com a força das armas que dispõe.

Ora, a Inglaterra, cujos filhos vem lutando com tanta coragem, a Inglaterra ainda tem na sua retaguarda algo daquele funestíssimo espírito, sem o qual sua vitória jamais poderá ser efetiva.

Causou-nos pesar, e, mais do que isto, real indignação saber, por um telegrama recente, que na “BBC” se permite que execute números artísticos certas pessoas que se encontram ligadas ao movimento comunista inglês, quando tudo indica que este movimento é, hoje, o nervo mais forte da propaganda de retaguarda desenvolvida pelo totalitarismo na Inglaterra.

Não é só com sangue e com coragem que se vence. É preciso ainda, e sobretudo, possuir coerência de ideais, firmeza inquebrantável de vontade e perspicácia à prova de qualquer dolo.

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Telegrama publicado na semana p.p. nos dá a dolorosa notícia de que foi fechado pela “Gestapo”, na Alemanha, o convento de São Bonifácio das Virgens da Imaculada, sendo forçadas a abandoná-lo 110 religiosas. Como os pretextos até aqui alegados estão muito gastos, o nazismo arranjou, para esta nova violência, outra alegação: as Religiosas estavam consumindo mais víveres do que o racionamento permite. Mas quem ainda acredita nestas invencionices?

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É curioso que enquanto as proclamações do totalitarismo se tornam cada vez mais acentuadamente revolucionárias, e o Sr. Rosenberg, na Alemanha, se compraz em prever a ação profundamente niveladora que decorrerá na organização social do mundo nazista (?!) de pós guerra, na vitória do Reich, o comunismo se aburguesará acentuadamente.

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Por ocasião da chegada do S.A. Matsuoka a Moscou, soubemos, graças a um pormenor de um telégrafo, que a Rússia possui um chefe de protocolo, cargo este que, evidentemente, supõe honrarias, distinções, desigualdades, enfim tudo aquilo cuja supressão o Sr. Rosenberg e seus correligionários tanto desejam.

É ainda curioso notar que os detentores do poder da infelicíssima Rússia não julgam incoerente aceitar os ricos presentes que lhes oferecem o plenipotenciário nipônico: a Stalin, um valioso quadro japonês do XIII século, representando cenas de caçada, e a Molotov, uma caixa preciosa, na qual os japoneses têm o hábito de guardar... suas relíquias de ouro e prata!

Mas quando o Sr. Rosenberg e os comunistas vociferam pela igualdade, evidentemente não entendem que essa igualdade se exerça em detrimento deles. Essa igualdade é dirigida não em favor dos que possuem menos que eles, mas contra os que têm a audácia de possuir mais.


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