Legionário, N.º 441, 23 de fevereiro de 1941

7 DIAS EM REVISTA

Mais uma vez, reedita-se hoje em São Paulo, aos olhos de toda a cidade e de todo o Brasil, a grande façanha mariana dos retiros de carnaval.

Enquanto escorre rios de dinheiro para se conservar uns restos de vida a esta velha e triste tradição do carnaval, abrem de par em par as portas de muitas casas religiosas de São Paulo, a fim de receber centenas e centenas de jovens que vão fazer seu retiro espiritual. As ruas que se engalanam dispendiosamente de luzes iluminarão apenas umas ralas e magras fileiras de automóveis, que constituem o último e lânguido filete do espírito carnavalesco da cidade. O rei momo, aparatosamente vindo do Rio, assistirá sob a iluminação farta da prefeitura, a agonia de sua realeza. Os últimos foliões sentirão uma dissonância cada vez maior entre as suas fantasias e seus gracejos, e o interesse que lhes vota o público. E, assim, pequeno e triste carnaval de 1941, se encerrará fazendo prenunciar, para 1942, um carnaval ainda menor e ainda mais triste.

Enquanto isto ocorre, será cada vez mais densa a massa dos jovens de todo o interior do Estado, de todas as Paróquias da Arquidiocese, de todas as classes e de todas as condições, que disputará o ingresso nos retiros de carnaval. “Disputará” é bem exatamente o termo, pois que sei de verdadeiros torneios amigais desferidos a respeito da posse de um lugar nos retiros de carnaval. A mocidade de hoje não é, graças a Deus, como a de ontem, e não troca por gracejos de palhaços a palavra de Deus, enunciada pelos Pregadores de retiro.

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Assim, os retiros promovidos pela Ação Católica e pela federação Mariana vão crescendo paulatinamente, enquanto o carnaval decai a olhos vistos.

Mas haveria uma lamentável superficialidade de espírito em considerar o fato apenas em seus aspectos mais próximos. Não é só o carnaval que morre, é os retiros que crescem. Há uma mentalidade do carnaval como há uma mentalidade de retiros. O que está morrendo é a mentalidade carnavalesca. E o que está crescendo é a mentalidade religiosa. Não nos iludamos sobre isto. Esta mocidade que se recolhe nas casas de retiro não é apenas uma falange de almas puras que procura sua própria salvação. É muito mais do que isto. É uma civilização nova, pura, forte e católica que nasce.

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Enquanto se dilatam as fileiras católicas, o protestantismo continua a rolar pelo abismo de contradições e de erros em que se encontra.

O “Legionário” tem informado circunstanciadamente seus leitores a propósito do movimento esquerdista que, sob o bafejo da III Internacional, se desenvolve na Inglaterra contra o governo do Sr. Churchill. Esse movimento, sob pretexto de atender às reivindicações das classes operárias, na realidade promove uma larga série de agitações que paralisam as indústrias bélicas britânicas e, para tanto, ao par de certas reivindicações plausíveis, formula exigências de todo em todo descabidas.

Pois a seita anglicana protestante, a qual incumbem pesadas responsabilidades cívicas já que constitui o culto oficial inglês, em lugar de desenvolver o que possa ter de influência para fazer face ao perigo, pelo contrário, estimula-o com declarações demagógicas e imprudentes de seus chefes.

Assim, o “arcebispo” anglicano de York, em plena expansão desse movimento esquerdista, baixou na semana passada uma “encíclica” (?!) em que dá a esta um vigoroso estímulo à desordem.

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Entretanto, ninguém se pode iludir sobre os objetivos anticatólicos e anti-patrióticos daquele movimento. Ainda recentemente, o major Attlee, discursando em uma cidade do interior da Inglaterra, denunciou essa agitação comunista, mostrando que ela constitui evidentemente uma manobra que beneficia largamente o nazismo. Quem é o major Attlee? Um conservador empedernido que vê perigos onde não existem? Um burguês tímido que só entende dos interesses de sua classe e por este motivo não sabe interpretar os anseios do operariado? Longe disto. Ele é um dos “leaders” do movimento trabalhista inglês.

Só mesmo o pseudo-arcebispo de York se poderia iludir sobre o assunto. Aliás, a esta altura uma reflexão acode ao autor destas linhas. Sobre o que estará ele iludido, quando proclama a compatibilidade dessa agitação sovietisante com os princípios do “cristianismo”? Será que sua ilusão versa mesmo sobre a natureza desta agitação? Evidentemente, não. É sobre o “cristianismo” que versa toda a sua ilusão. Não é este movimento operário que ele desconhece. O que ele desconhece é evidentemente o Cristianismo em nome do qual, indevidamente, presume poder falar.