Legionário, N.º 435, 12 de janeiro de 1941

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Tem o mais delicado e transcendental significado, quer do ponto de vista religioso, quer patriótico, o gesto da peregrinação baiana que, trazendo à São Paulo a imagem do Senhor do Bonfim, vem agradecer o gesto de fraternal cordialidade dos católicos paulistas, que presentearam a Bahia com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.

O “Legionário”, que sempre foi inimigo resoluto de quaisquer bairrismos mesquinhos ou separatismos criminosos, não pode deixar de acolher com júbilo a fidalga e piedosa prova de amizade dos católicos baianos.

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Entretanto, seja-nos lícito realçar o significado profundo do fato. Vale ele por um ato de Fé, imediatamente aplicado a um dos problemas fundamentais do Brasil, que é o de nossa unidade.

É muito conveniente que se procure, por todos os meios, estreitar uma unidade orgânica e inteligentemente entre todos os Estados do Brasil. O “Legionário” sempre aplaudirá todos os esforços que neste sentido se desenvolverem.

Isto não obstante não deixa de ser absolutamente verdadeiro que tais esforços, por mais meritórios e constantes que sejam, serão inteiramente vãos sempre que não tiverem por base Nosso Senhor Jesus Cristo. Com Cristo, e em Cristo, que o Brasil deve ser unido. Sem esta base, esta união não será outra coisa senão uma palavra oca.

Assim se explica largamente o júbilo piedoso e patriótico com que São Paulo recebeu a peregrinação baiana.

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Notícia proveniente da Noruega afirma que o governo do tristemente famoso Sr. Quisling acaba de resolver que a polícia tem o direito de violar o sigilo profissional dos advogados e dos médicos, bem como... o do confessionário!

Evidentemente, o fato implica no desencadeamento de uma verdadeira perseguição religiosa na Noruega. Jamais um Sacerdote católico poderá consentir em violar o segredo do confessionário para satisfazer a curiosidade criminosa da polícia “norueguesa”. O martirológio não está vazio de nomes de mártires do sigilo do confessionário. O Sr. Quisling esbarrará diante do mesmo obstáculo sobrenatural e insuperável diante do qual outros tiranos já esbarraram.

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Ai do país em que uma pessoa não pode mais abrir-se francamente com seu médico, a fim de obter a cura de seu corpo. Ai do país em que uma pessoa não se pode mais abrir com seu advogado, para obter a defesa de seus direitos. Mas mil vezes mais infeliz o país que tenta violar a paz das consciências, o segredo augusto do Sacramento da Penitência para transformar o Ministro de Deus em um vil traidor de seus deveres, o Pastor em lobo devorador, a confiança filial do penitente em meio miserável de exercer a delação!

Evidentemente, não é a Noruega nem é a Alemanha que responsabilizamos por este tristíssimo fato. Mas os ideólogos que semearam germens doutrinários que produzem tais conseqüências; estes não podem deixar de ter severíssimas contas a acertar perante Deus.