Legionário, N.º 430, 8 de dezembro de 1940

7 DIAS EM REVISTA

Lamentamos profundamente que não tenha sido estabelecida entre os beligerantes uma trégua no Natal.

Nos vinte séculos de História, que conta a Igreja, o Santo Natal sempre despertou, entre os fiéis, os sentimentos de comiseração, de fraternidade, de doçura, que, não sendo senão erro e ilusão longe de Cristo, são em Cristo, uma realidade maravilhosa. Seria, pois normal, que os ódios silenciassem, os canhões emudecessem, as lágrimas cessassem de correr, e só se ouvisse, pela Europa desolada, o bimbalhar dos sinos anunciando “paz aos homens de boa vontade”.

Mas o Natal virá e, ao que parece, não haverá trégua. Por que? Evidentemente porque diminuiu extraordinariamente o número de homens de boa vontade, e os que ostentam tal máscara, outra coisa não são senão os fariseus de nosso século. Ter boa vontade é ter fome e sede de santificação, é amar acima de tudo o Reino de Deus é, pois, colocar a Santa Igreja como a fonte inspiradora de todos os atos da vida, ideal supremo de todas as realizações, objeto o mais alto de nosso mais puro e mais entusiástico amor. Isso é ser realmente um homem de boa vontade. Ser homem de boa vontade não é estender a Caim impenitente um ramo de oliveira, enquanto o sangue de Abel brada ao Céu pedindo vingança. Para o pecador penitente, tudo. Para que o impenitente chegue a se penitenciar, tudo. Mas contra a liberdade diabólica do impenitente de fazer o mal ao próximo, tudo também.

Mas quem, no mundo confuso de hoje, pode compreender isso? E é por causa dessa incompreensão que não há paz.

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O “Legionário” já tem afirmado reiteradamente que a mascarada nazi-soviética pode, de um momento para outro, recomeçar e que, hoje ou amanhã, bem pode ser que Moscou e Berlim reencentem a comédia de seu recíproco antagonismo, com a qual tão sensíveis vantagens auferiram há algum tempo atrás.

Disto seria um índice expressivo o tratado anti-soviético firmado pelo governo japonês com um grupo de chineses por este elevado à categoria de governo da grande república oriental. Aliado da Alemanha, o Japão não poderia entrar em colisão com os sovietes sem afetar, indiretamente, a solidez das relações russo-germânicas. A atitude do Japão não teria, certamente, sido tomada sem uma sondagem prévia em Berlim, onde teria sido declarado que um atrito nipo-soviético e um conseqüente esfriamento germano-russo não desgostariam Berlim. E, assim, a precariedade das relações entre o comunismo e o nazismo transpareceria claramente.

Tudo isso parece claro e bem racionado. Mas é errado.

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Para que se perceba quanta farsa há em toda a política internacional de nossos dias, será suficiente o pequeno episódio que vamos narrar, publicado por um correspondente do Diário de S. Paulo, correspondente este de nome italiano e de orientação intelectual visivelmente simpática ao Sr. Mussolini: portanto  de um correspondente bem insuspeito.

Relata ele que a Secretaria de Estado de Washington, alarmada com a crescente expansão do Japão no Extremo-Oriente, chamou o “camarada” Constantino Oumanky, embaixador soviético na capital yankee, ao qual informou que os Estados Unidos apoiariam todas as pretensões de expansão territorial russa na Ásia oriental, desde que os sovietes concordassem em auxiliar Chang-Kai-Chec, cujos interesses estariam sendo profundamente prejudicados porque a Rússia não mais lhe fornecia armamentos.

Assim, se a Rússia tivesse o menor interesse em contrariar os planos do governo chinês criado pelo Japão, auxiliando o adversário desse governo, que é o Sr. Chang-Kai-Chec, poderia fazê-lo: os Estados Unidos lhe dariam pleno apoio.

O que fizeram os sovietes? Recusaram-se. Não é uma prova de que o Sr. Chang-Kai-Chec não mais os interessa, e que a expansão nipônica na China está longe de ser para eles um espantalho?

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Cada vez mais se patenteia a solidariedade internacional de todos os grupos totalitários. Na cerimônia ocorrida em Bucareste, no quartel general da Guarda de Ferro, em comemoração dos partidários daquela organização mortos no tempo do Rei Carol, estiveram presentes representantes dos Srs. Mussolini, general Franco, governo japonês, etc., além de se notar a presença de coroas enviadas pelos governos alemão e italiano. O sr. Antonescu compareceu pessoalmente.