Se bem que as agências telegráficas noticiem com
censurável e estranho laconismo o precário estado de saúde em que se encontra,
no momento em que escrevemos, o Marechal Mannerheim, não podemos deixar de erguer nossas preces a Deus, que é
Autor de todo o bem, no sentido de prolongar a existência e apiedar-se da alma
do glorioso militar.
O Marechal Mannerheim,
chefe das tropas finlandesas, no recente conflito que seu país teve com a
Rússia soviética, não é apenas um bravo militar, digno por este título do
respeito e da simpatia dos seus contemporâneos. Mais do que isto, é ele um
verdadeiro benemérito da humanidade, e o vulto dos serviços por ele prestados à
causa da civilização é tal que não hesitamos em afirmar que eles fundamentam a
esperança de que, ao menos na última hora, lhe dará Deus a graça da conversão
ao catolicismo.
Os grandes malfeitores da humanidade, que hoje a
desolam e reduzem a ruínas, não são propriamente grandes homens, são pelo
contrário, homens pequenos que encontram pela sua frente adversários ainda
menores do que eles. O grande flagelo de nosso século não está apenas na
audácia dos maus, como na timidez, imprevidência e inconstância dos que, a
qualquer título, devem defender os interesses da civilização católica na ordem
temporal.
Ora, dentre os adversários do mal, uma figura das
mais salientes foi a do Marechal Mannerheim, que por
sua bravura provou como são débeis os esforços das potências do mal quando
encontram por sua frente não pálidas figuras de estadistas minados pelo
“espirito de Munich”, mas homens autênticos, no mais
alto e nobre sentido desta palavra. (...)
* * *
Quando se apoderou do
governo na Alemanha, e, depois de uma rápida trégua com os católicos, iniciou a
perseguição religiosa o governo nazista, e, em lugar de fechar o grande jornal
católico “Germania”, preferiu introduzir em sua redação elementos nazistas,
que excluíram totalmente o elemento verdadeiramente católico, e começaram a
imprimir, sob rótulo religioso, àquele jornal, uma feição tipicamente hitlerista. A manobra, pérfida embora, era proveitosa,
porquanto muitas pessoas simples do povo ignoravam a substituição do pessoal
dirigente do jornal, e continuavam a ver nele a expressão do pensamento da
Igreja. E, assim, era revestido de pele de ovelha, que o nazismo conquistava as
almas.
Parece que esta manobra que está sendo empregada
pelos nazistas, atualmente ocupantes de Paris, em relação ao benemérito jornal
católico “La Croix”.
Esse jornal que sempre primou por uma linha de
inquebrantável disciplina em relação à Autoridade Eclesiástica, e por uma
invariável moderação de atitudes, tem ultimamente tomado posições
surpreendentes, que servem altamente aos interesses nazistas.
Assim, em recente editorial - para não citarmos
senão um fato - “La Croix” assinalava a fundamental
analogia de atitudes existentes entre a diplomacia do Santo Padre e a do Marechal Pétain, e em virtude disto incitava o Vaticano a convocar um
Congresso de soldados de todos os países beligerantes, a fim de promover a
aproximação entre eles.
Quanto à identidade de política do Santo Padre e do
“homem de Compiégne”, ex-“herói
de Verdun”, fazemos todas as reservas, as mais
categóricas e formais. Mas o que queremos sobretudo acentuar é o que há de
profundamente anormal nesta “sugestão” feita por um jornal católico à Santa Sé.
Uma proposta filialmente humilde e respeitosa,
enviada por via confidencial juntamente com protestos de incondicional
obediência nada teria de censurável. Mas uma sugestão pública, feita em termos
tais que pode sua rejeição causar embaraço à Santa Sé, forçando-a a se
pronunciar indiretamente - ainda que pelo silêncio - a respeito de um assunto
quanto ao qual, na sua sabedoria, julgara ela preferível ainda não se
manifestar, é um desplante.
Ora quem, como nós, conhece as tradições de “La Croix”, não pode deixar de suspeitar que haja alguma
modificação substancial no corpo redatorial do jornal.