Legionário, N.º 425, 3 de novembro de 1940

7 DIAS EM REVISTA

Se bem que as agências telegráficas noticiem com censurável e estranho laconismo o precário estado de saúde em que se encontra, no momento em que escrevemos, o Marechal Mannerheim, não podemos deixar de erguer nossas preces a Deus, que é Autor de todo o bem, no sentido de prolongar a existência e apiedar-se da alma do glorioso militar.

O Marechal Mannerheim, chefe das tropas finlandesas, no recente conflito que seu país teve com a Rússia soviética, não é apenas um bravo militar, digno por este título do respeito e da simpatia dos seus contemporâneos. Mais do que isto, é ele um verdadeiro benemérito da humanidade, e o vulto dos serviços por ele prestados à causa da civilização é tal que não hesitamos em afirmar que eles fundamentam a esperança de que, ao menos na última hora, lhe dará Deus a graça da conversão ao catolicismo.

Os grandes malfeitores da humanidade, que hoje a desolam e reduzem a ruínas, não são propriamente grandes homens, são pelo contrário, homens pequenos que encontram pela sua frente adversários ainda menores do que eles. O grande flagelo de nosso século não está apenas na audácia dos maus, como na timidez, imprevidência e inconstância dos que, a qualquer título, devem defender os interesses da civilização católica na ordem temporal.

Ora, dentre os adversários do mal, uma figura das mais salientes foi a do Marechal Mannerheim, que por sua bravura provou como são débeis os esforços das potências do mal quando encontram por sua frente não pálidas figuras de estadistas minados pelo “espirito de Munich”, mas homens autênticos, no mais alto e nobre sentido desta palavra. (...)

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Quando se apoderou do governo na Alemanha, e, depois de uma rápida trégua com os católicos, iniciou a perseguição religiosa o governo nazista, e, em lugar de fechar o grande jornal católico “Germania”, preferiu introduzir em sua redação elementos nazistas, que excluíram totalmente o elemento verdadeiramente católico, e começaram a imprimir, sob rótulo religioso, àquele jornal, uma feição tipicamente hitlerista. A manobra, pérfida embora, era proveitosa, porquanto muitas pessoas simples do povo ignoravam a substituição do pessoal dirigente do jornal, e continuavam a ver nele a expressão do pensamento da Igreja. E, assim, era revestido de pele de ovelha, que o nazismo conquistava as almas.

Parece que esta manobra que está sendo empregada pelos nazistas, atualmente ocupantes de Paris, em relação ao benemérito jornal católico “La Croix”.

Esse jornal que sempre primou por uma linha de inquebrantável disciplina em relação à Autoridade Eclesiástica, e por uma invariável moderação de atitudes, tem ultimamente tomado posições surpreendentes, que servem altamente aos interesses nazistas.

Assim, em recente editorial - para não citarmos senão um fato - “La Croix” assinalava a fundamental analogia de atitudes existentes entre a diplomacia do Santo Padre e a do Marechal Pétain, e em virtude disto incitava o Vaticano a convocar um Congresso de soldados de todos os países beligerantes, a fim de promover a aproximação entre eles.

Quanto à identidade de política do Santo Padre e do “homem de Compiégne”, ex-“herói de Verdun”, fazemos todas as reservas, as mais categóricas e formais. Mas o que queremos sobretudo acentuar é o que há de profundamente anormal nesta “sugestão” feita por um jornal católico à Santa Sé. Uma proposta filialmente humilde e respeitosa, enviada por via confidencial juntamente com protestos de incondicional obediência nada teria de censurável. Mas uma sugestão pública, feita em termos tais que pode sua rejeição causar embaraço à Santa Sé, forçando-a a se pronunciar indiretamente - ainda que pelo silêncio - a respeito de um assunto quanto ao qual, na sua sabedoria, julgara ela preferível ainda não se manifestar, é um desplante.

Ora quem, como nós, conhece as tradições de “La Croix”, não pode deixar de suspeitar que haja alguma modificação substancial no corpo redatorial do jornal.