Legionário, N.º 422, 13 de outubro de 1940

7 DIAS EM REVISTA

As palavras pronunciadas pelo Sr. Winston Churchill, nesta semana, na Câmara dos Comuns, a propósito da passagem impune, por Gibraltar, de navios pertencentes ao governo Vichy, dão razão, indiretamente, às considerações feitas por esta folha sobre a “quinta coluna” e seu papel neste triste acontecimento.

Efetivamente, reconheceu o “premier” britânico que foi tal a irregularidade do fato, que o Ministério da Guerra se viu na obrigação de aplicar várias penalidades às pessoas encarregadas da defesa de Gibraltar.

Evidentemente, S. Ex.a se referiu principalmente à “incúria” dos culpados. O chefe do governo britânico não poderia reconhecer, sem desdouro para seu país, que a quinta coluna havia esgueirado seus tentáculos até mesmo no famoso estreito que é uma das chaves do Império e do mundo.

Mas esta “incúria” o que significa?

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Examinemos mais detidamente o caso, e teremos a resposta.

Gibraltar, todos o sabem, é uma posição de capital importância no mapa do Império inglês. Comanda a histórica fortificação toda a passagem entre dois grandes mares, o Atlântico e o Mediterrâneo. Por sua posse, a Inglaterra seria capaz de todas as guerras. E por isto, se bem que o cobiçadíssimo promontório já tenha atraído o apetite de vários países, ninguém ousou, até o momento, tentar sua conquista.

Assim, pois, compreende-se facilmente que, para guarnecer Gibraltar e dirigir ali as operações bélicas, sempre tenham sido escolhidos elementos de escol das forças militares inglesas. De escol sob um duplo ponto de vista: competência técnica militar, e qualidades psicológicas adequadas a tão melindrosa situação.

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Se tal se daria em tempo de paz, quanto mais em tempo de guerra. Evidentemente, o gabinete inglês não passaria de um inofensivo jardim de infância, ou sua atenção jamais se desviaria da grande tarefa central de assegurar, por meio de elementos de “elite”, a posse dos grandes pontos nevrálgicos do Império e sua utilização efetiva em tempo de guerra.

Isto posto, como conceber que exatamente em Gibraltar, e precisamente em tempo de guerra, se tenha verificado uma “incúria” monstruosa, em virtude da qual as armas inglesas sofreram um revés... ou, pior do que isto, um fiasco como o de Dakar?

No momento em que a esquadra que conduzia ao porto africano o General De Gaulle se apressava para deixar a Inglaterra, não teria sido o caso de mandar um avião militar inglês a Gibraltar, avisando o comandante dessa fortaleza que não deixasse passar nenhum navio não britânico?

Entretanto, a triste realidade aí está: Gibraltar foi tão inofensiva aos marinheiros de Vichy quanto se estivesse em mãos de inimigos da Inglaterra.

Como explicar isto, senão por uma ação da 5ª coluna, já que toda a história da guerra na França não foi também senão uma sucessão intérmina de “incúrias” como a de se esquecerem as autoridades militares de defender o Mosela?

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 O mês de Outubro costuma ser dedicado às Missões. Não é demais que, sobre este tema, façamos alguns comentários.

O primeiro consiste na obrigação especialíssima em que está o Brasil de contribuir generosamente para o desenvolvimento missionário.

A “Propaganda Fide”, cujas atividades estão confiadas, em nossa terra, ao zelo e talento do distinto Sacerdote Cordimariano Pe. Dictino De La Parte, tem publicado estatísticas em que se prova exuberantemente que as quantias fornecidas, no Brasil, pela liberalidade pública, não são suficientes para alimentar o movimento missionário que se desenvolve em nossas selvas. É preciso que o Vaticano mande para cá um auxílio.

Ora, a verdade é que, bem preparada a opinião pública para compreender a grandeza da tarefa missionária, deveria o Brasil ao menos bastar-se a si mesmo. Outra coisa não se compreende em se tratando de um país que se ufana em ser, hoje em dia, uma das maiores nações católicas do globo.

Graças a Deus, já se tem conseguido significativos resultados em matéria missionária, entre nós, resultados estes que são uma coroa para os que tanto se vem esforçando neste assunto. Mas só deveremos descansar quando nossas contribuições, quer materiais quer morais, e sobretudo pela oração, estiverem à altura de nossos recursos e de nosso zelo.

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Mas há ainda outra consideração a fazer.

Com sobra de razões muito se tem falado, ultimamente, a respeito da grande obra de Anchieta, tão justamente posta em evidência a propósito do IV Centenário da Companhia de Jesus.

Ora, não se compreende que estejamos a tecer merecidas loas ao que fizeram os missionários no passado, sem ao mesmo tempo apoiar a ação dos missionários do presente. Anchieta morreu para a vida terrena; mas seu heroísmo sobrenatural revive hoje em nossos sertões, na dedicação, na renúncia e na humildade dos missionários que devassam nossas selvas à procura de almas para ganhar Jesus Cristo. Admiramos o que fez Anchieta? Apoiemos o que fazem seus continuadores.