Constitui documento da mais alta transcendência, e
da mais oportuna significação, o decreto assinado pelo Presidente da República,
acerca do IV Centenário da benemérita e gloriosa Companhia de Jesus.
Transcrevamo-lo:
“Considerando que a Companhia de Jesus, durante os
primeiros séculos da história do Brasil, constituiu a mais vigorosa força
espiritual da colonização, espalhando a fé que se tornou comum, imprimindo à
sociedade em formação a disciplina moral que perdurou, organizando a educação
em todos os seus aspectos, segundo métodos e diretrizes que possibilitaram a
existência de uma cultura nacional do mais alto sentido; considerando que
tamanha obra realizada com amor, dedicação, sacrifício, é reconhecida pelos
historiadores brasileiros, como base, das mais importantes, da civilização
nacional, o Presidente da República decreta:
“Artigo único. Consideram-se nacionais as
homenagens que ora se prestam em todo o país a Companhia de Jesus por motivo da
comemoração do 4 Centenário de sua fundação, e a ela se
associa o governo federal.”
* * *
Um punhado de pequenas notícias nacionais:
a) continua a estruturação na Universidade de São
Paulo, da associação protestante que se apresenta sob o rótulo de “associação
cristã de universitários”;
b) a imprensa diária deu ampla divulgação à seção
suplementar que os jornalistas espíritas desta capital realizaram na sede da
Associação Paulista de Imprensa. Na presidência da seção foi a pedido dos
jornalistas espíritas, convidado o sr. Dr. José Maria Lisboa, Presidente da A.P.I. , em cuja sede a reunião se
realizava. Fez-se representar por pessoa de seu gabinete, em caráter oficial, o
sr. Dr. Adhemar de Barros,
interventor Federal;
c) a “Gazeta” trouxe a notícia com a fotografia, de
um sacerdote persa, que veio fazer propaganda de sua religião no Brasil.
* * *
Um telegrama desta semana informa-nos de que foi
reaberta, no Louvre, à visitação pública, a seção
de esculturas de grandes proporções. O Conde Wolf Metterich, “protetor alemão da arte francesa”, informou que as
outras seções seriam reabertas logo que fosse possível.
“protetor alemão da arte francesa”... o título merece
registro.
É por mais doloroso o incidente de Dakar, para que dele nos ocupemos muito pormenorizadamente. O
fato apresentou, entretanto, um aspecto que não queremos deixar de acentuar:
navios franceses conseguiram transpor o estreito de Gibraltar, e foram estes
navios, que dificultaram a conquista de Dakar!
Como foi
iludida a este propósito a vigilância inglesa em Gibraltar? Quem pode não
pensar em 5a coluna, diante de um fato como este?
* * *
Seja qual for o desfecho que tenha a ofensiva nazista
contra a Inglaterra, um fato é incontestável: o malogro de todas as
tentativas até agora desfechadas pelo Estado Maior do Sr. Hitler contra as
Ilhas Britânicas.
Falou-se muito em invasão. O próprio governo inglês
pareceu atribuir muita plausibilidade a este perigo. Os raids aéreos foram terríveis.
Entretanto, até o presente momento, nenhum resultado positivo conseguiram obter
os esforços germânicos.
Pode ser que se pronuncie ainda um ou vários
ataques contra a Inglaterra. Uma coisa é entretanto indiscutível: a grande
investida nazista fracassou, e nada leva a crer que, dentro do atual panorama
político e militar, outra investida conte com maiores possibilidades de êxito.
* * *
“Dentro do atual panorama político e militar”,
acentuamos. Porque duas grandes hipóteses ainda continuam de pé. Estas
hipóteses, que não se excluem, mas reciprocamente se completam, podem
perfeitamente imprimir aos fatos um rumo espetacular e inesperado, acarretando
uma mudança súbita de toda a situação. A presente guerra foi fecunda em
mudanças assim. A invasão da Noruega e da Dinamarca, o desabamento da Holanda
que ruiu como um castelo de cartas, a capitulação de Leopoldo III, a façanha de
Pétain, o que foi tudo isto, senão uma série de
“surpresas” que alteraram em favor dos nazistas panoramas que o exclusivo
emprego da força militar teuta não teria sido
suficiente para operar? Em outros termos, todos estes episódios que coisa foram
senão rápidas modificações levadas a cabo pela 5ª coluna para superar
obstáculos que a força armada nazista não poderia vencer?
Ora, modificações como estas não podem ser
reputadas impossíveis no caso inglês. Se não fosse a 5ª coluna, julgaríamos a
guerra já perdida pela Alemanha. Mas a 5ª coluna torna sempre possível uma
brusca alteração no panorama interno inglês. E, por isto, julgamos que Hitler
tem muito mais a esperar dos banqueiros, jornalistas e parlamentares da 5ª
coluna, por ela alimentados em Londres, do que de sua força armada, ou mesmo
dos pára-quedistas, que seus aviões tem semeado em todo o solo inglês. Em um
brusco golpe da 5ª coluna consiste a primeira hipótese.
* * *
Convém acrescentar que há outra hipótese em cena:
uma brusca alteração do mapa europeu. Seria este, por exemplo, o caso de um
ataque inesperado da Espanha a Gibraltar. Tal ataque, franqueando a saída do
Mediterrâneo à esquadra fascista, daria a investida do “eixo” contra a
Grã-Bretanha uma plausibilidade muito maior do que a que ora existe, tornando
possível um ataque em massa à Inglaterra.
Fora de uma ou outra hipótese, não
pensamos que haja perigos a temer.
* * *
O “Legionário” sempre apontou o Sr. Neville Chamberlain, o incontestável “leader” dos elementos nazistizantes
da Inglaterra, o aliado nº 1 do Sr. Hitler, aquele que, de todos, lhe era o mais fiel, o mais
constante, e sobretudo o mais útil.
Seria, pois, lógico que nos rejubilássemos com sua
saída do governo, tanto mais que o ex-premier inglês,
tido e havido geralmente como “moderado”, constituía em um gabinete de guerra a
mais clamorosa das aberrações. Jamais se poderá compreender como, estando
Londres sob a ação de um bombardeio incessante e
dramático, enquanto a população era condenada a passar noites inteiras nos
abrigos subterrâneos, e as famílias se dilaceravam, quer pela morte dos que
estavam no front
e das vítimas civis dos bombardeios, quer pelo êxodo trágico das crianças que
saiam para o Canadá, havia ainda quem fosse “moderado” no gabinete. A saída do
Sr. Chamberlain se impunha, se não por respeito à
opinião pública inglesa, ao menos em homenagem ao sangue e as lágrimas que a
guerra tem feito verter, e que não podem constituir para a civilização um
sacrifício inútil.
* * *
Entretanto, confessamos que esta saída já não nos
tranqüiliza. É preciso em primeiro lugar, acentuar que o fracasso de Dakar ocasionou na opinião pública britânica uma reação
profunda, expressa através de um verdadeiro dilúvio de críticas acerbas
dirigidas pela imprensa contra o governo. O tom geral dos comentários era de
uma acrimônia extrema, que bem mostrava que os ingleses não estavam dispostos a
suportar por mais tempo fiascos como estes. Não teria sido necessário
sacrificar ao furor da opinião pública uma vítima expiatória? Qual seria?
Evidentemente aquele a quem geralmente mais se tem responsabilizado pelo
insucesso inglês: o Sr. Neville Chamberlain.
Daí sua queda.
Por outro lado, entretanto, não nos esqueçamos de
que a manobra na França foi muito clara. Quando Gamelin - um verdadeiro Chamberlain fardado, que nunca fez de sua espada uso muito
diverso do guarda-chuva - se tornou por demais impopular graças a seus
inconcebíveis insucessos, foi-se buscar o velho Pétain,
para chefiar o exército francês. E foi atrás do vulto marcial do “Herói de Verdun”, que se urdiu e se executou o golpe derradeiro
contra a França. As dragonas de Pétain serviram para
acobertar uma situação que, criada por Gamelin,
jamais teria sido suportada. E o “herói de Verdun” se
transformou no “ancião de Vichy”.
* * *
Ora receamos que um “gabinete de guerra” escoimado
dos elementos moderados e pacifistas que outrora diminuíam seu prestigio
perante a opinião, venha a acobertar de modo mais eficaz e completo uma
capitulação que seria por demais clamorosa ser feita em um ministério de que
fizesse parte o longo e seco “herói do guarda-chuva”. É um receio. Mas, hoje em
dia, viver é prever, e prever é não raras vezes recear...
* * *
Não podemos deixar, tratando de 5a
coluna, de nos referir ao longo encontro que tiveram os Srs. Hitler e Mussert, na semana que hoje finda. Mussert
não é um estranho para os leitores do “Legionário”: já nos ocupamos
pormenorizadamente dele, quando da invasão da Holanda. É ele o chefe dos
fascistas holandeses, e implicitamente, o chefe da 5a coluna. O que
é a 5a coluna? Seriam muito e muito ingênuos os que supusessem que
ela se compõe exclusivamente de elementos estrangeiros. Os mais importantes, os
mais perigosos, para não dizer os únicos realmente perigosos e importantes, são
os nacionais que, arregimentados nesta ou aquela agremiação, fazem o jogo do
nazismo. É esta a verdadeira 5a coluna.
O que foram tramar juntos os dois “leaders”
totalitários?