Legionário, N.º 415, 25 de agosto de 1940                                       

7 DIAS EM REVISTA

Não é sem viva apreensão que consideramos a notícia dada por certa agência telegráfica de que o Sr. Lloyd George substituirá, no gabinete britânico, o Sr. Chamberlain e Lord Halifax. Seria substituir dois municheanos por um germanófilo da velha guarda. Já em 1914-1918, Lloyd George não ocultava seu pesar de combater contra a Alemanha, e, ultimamente, fez ele declarações que não deixavam a menor dúvida sobre a sua simpatia para com o espírito pacificador municheano... não há outro adjetivo para uma coisa tão sui generis quanto o “munichismo”... que vem orientando a política internacional britânica.

Será possível que se queira encobrir com as cãs de Lloyd George a mesma defecção que na França se procurou coonestar com as dragonas de Pétain?  Será possível que dois grandes homens de 1918 sejam meros Seyss-Inquart em 1918?

* * *

O general De Gaulle fez ao mundo uma revelação de que não podemos deixar de tomar nota: o governo de marechal Pétain mandou entregar às tropas neo-pagãs algumas dezenas de aviões franceses, nesta semana.

Isto não obstante, e a despeito de tanta docilidade e de tanta vontade de agradar, que inquestionavelmente tem revelado os estadistas de Vichy, os alemães... ou melhor os nazistas, pois que o “Legionário” jamais consentiu em confundir uma coisa com outra... parecem achar ainda insatisfatória a submissão do velho marechal. A  “Frankfurter Zeitung”, por exemplo chamou Pétain de “velho comissário de uma falência”, e, em uníssono com o resto da imprensa alemã, procura mostrar que a França deve caminhar ainda muito mais fundo na reforma das instituições.

* * *

A realidade é que o III Reich, que entende muito bem de propaganda política, sabe que não é sobre os ombros vacilantes de um ancião que pode ser posto o fardo considerável de um governo totalitário. Pétain foi uma figura boa para um momento de transição. Era preciso apresentar, para encobrir um gesto como o dele, um vulto que tivesse o epíteto de “Herói de Verdun”. Agora, seu papel está chegando ao termo. E parece que a propaganda “quinta colunista”... outro neologismo que se impõe por mais deselegante que seja, pois que a quinta coluna não faz questão de elegância... está agora sabotando o velho marechal, para o substituir por pessoa mais jovem e mais capaz de empolgar as massas.

Quem seria? Há muita gente em vista. Mas parece reunir probabilidades especiais o Sr. Adrien Marquet, atual ministro do Interior. Assim, de um momento para outro, Pétain desaparecerá do cenário. Ou a Providência o chamará ante o Justo Juiz, ou o sopro do desfavor hitlerista o atirará ao ostracismo. E então, com um chefe jovem à testa do governo francês, o Sr. Hitler se sentirá inteiramente à vontade.

* * *

O “Legionário” registra com uma homenagem especial o falecimento de S. E. o Cardeal-Primaz da Espanha, Arcebispo de Toledo. Prelado de inegáveis virtudes, esteve à testa dos destinos religiosos daquela gloriosíssima Espanha, em situações muito críticas, onde teve excelentes oportunidades para manifestar seu zelo e prudência.

Seu falecimento provocou, não apenas na Espanha como ainda em todo o mundo católico, explicável pesar.

* * *

Pouco temos a dizer sobre a morte de Trotzky. O famoso agitador caiu sob as mãos de um verdadeiro verdugo, recebendo assim já neste mundo um justo castigo pelas idéias celeradas que sempre professou e divulgou, bem como pela sua longa e infame carreira de agitador político, que fez dele um autêntico flagelo da humanidade. Vitimou-o o braço de um agente de Stalin, segundo tudo indica, deixando curso à iniquidade dos dirigentes comunistas. Permitiu Nosso Senhor que aquele fautor de iniquidade fosse assassinado por outro fautor de iniquidade. Que os mortos enterrem seus mortos, diz o Santo Evangelho.

A única coisa que nos resta é pedir a Deus, cuja misericórdia é inefável e cujo tesouro de bondade é infinito, que se apiede de sua alma pecadora.