Legionário, N.º 413, 11 de agosto de 1940

7 DIAS EM REVISTA

Lamentamos a atitude deselegante de um jornal fascista publicado na Itália que criticou severamente o Santo Padre porque este teria escrito ao governo de Londres, pedindo-lhe que não fosse bombardeada a Cidade Eterna.

Disse aquela folha que a invulnerabilidade de Roma não depende dos pedidos do Santo Padre, mas da eficácia das armas antiaéreas do fascismo, pelo que a capital da Itália não precisava da interferência do Sumo Pontífice.

Seria difícil pensar com menos bom senso. Uma cidade pode ser protegida contra derrota ou a destruição total, por suas baterias antiaéreas. Não há, porém, baterias capazes de preservar de um ataque aéreo. Isto é tão evidente que dispensa demonstração.

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O que é preciso acrescentar é que o Santo Padre, se fez tal pedido, não precisou da procuração de nenhuma autoridade temporal e humana. Ele é Bispo de Roma e, como tal, por sua própria autoridade, pode tomar a iniciativa de preservar aquela gloriosa metrópole de qualquer flagelo.

De mais a mais, os católicos, que tem o espírito de fé, bem sabem que mais vale o auxílio de Deus do que mil baterias antiaéreas. Diz o Espírito Santo, na Sagrada Escritura, que se o Senhor não defender uma cidade, em vão trabalham os que procuram defendê-la.

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(...) Renasce no pavilhão francês a Cruz de Joana d'Arc.

É esta a notícia auspiciosíssima que nos veio da Europa. O Gal. De Gaulle mandou que em todos os aviões, navios franceses, etc., sob seu comando, fosse hasteado um pavilhão contendo a Cruz de Joana d'Arc, conhecida também por “Cruz de Lorena”, como emblema da futura libertação do solo francês, das tropas neo-pagãs de  nossos dias.

Quem não poderia sentir-se tocado ante esta atitude tão expressiva?

Belíssima foi a idéia de S. E. o Cardeal Hinsley, Arcebispo de Londres, de presentear com 2.500.000 crucifixos os soldados britânicos. Este presente adquire especial significação se tomarmos em conta que não serão raros os militares, especialmente escoceses, que pertençam à seita que professam o repúdio às imagens. A veneração de uma imagem significa para eles uma ruptura com o protestantismo. E a notícia que recebemos informa que já foram distribuídos 500.000 destes crucifixos!

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Enquanto a Inglaterra está sob o peso de uma tremenda ameaça que, talvez, quando estas linhas forem publicadas se tenha convertido em realidade, parece incrível o trabalho que os “homens de Munich” desenvolvem no sentido de abrandar a resistência da opinião pública ao blitzkrieg alemão. Assim, um membro da Câmara dos Lords não encontrou, na semana passada, assunto mais importante para tratar na Casa do Parlamento do que a necessidade de não exercer excessiva vigilância sobre os estrangeiros residentes na Inglaterra e pertencentes a potências inimigas. É possível que em uma Inglaterra vitoriosa e prestes a derrubar o adversário esta preocupação não fosse imprudente e significa-se um cavalheirismo real. Mas hoje em dia? Realmente, não terá outros assuntos para tratar na Câmara dos Lords?

Por outro lado, nada indica que haja excessos neste sentido, ao menos a julgar segundo o tratamento dispensado aos fascistas ingleses.

A este propósito, a United Press publicou o seguinte telegrama: A VIDA DOS FASCISTAS INGLESES NA PRISÃO.

LONDRES, 4 (U.P.) - Alguns órgãos da imprensa londrina tratam hoje da vida que os fascistas britânicos levam nos cárceres de Bristol e Hollowy, o que poderia constituir objeto de interpelações no Parlamento. Diz-se que “SirOswald Mosley, chefe do fascismo britânico, realiza freqüentes reuniões com seus partidários, durante as quais jogam “bridge” e bebem champanha. Os fascistas saúdam-se da forma caracteristicamente conhecida.

Lady Mosley toma banhos de sol nos jardins da prisão. Segundo o “Reynold's News”, os fascistas ingleses presos realizam também verdadeiras assembléias “sem vigilância alguma”, durante as quais traçam planos para o futuro “Estado britânico fascista”.   

Não seria melhor que se preocupasse com isto o ilustre “lord” tão solícito com o conforto e segurança dos prisioneiros estrangeiros? Em todo o caso, parece que essa preocupação não o impressionou, porque até o presente momento o Parlamento não cuidou do assunto.