Legionário, N.º 402, 26 de maio de 1940

7 DIAS EM REVISTA

Continuam, pela Europa afora, as tristes e vergonhosas façanhas da “quinta coluna”. E em todas ou quase todas elas há uma confirmação clara e frisante dos conceitos emitidos por esta folha sobre a “internacional das direitas”.

Dada a complexidade do assunto, julgamos não dever abordá-lo mais uma vez sem antes recapitular, em duas palavras, conceitos que em outras edições já emitimos.

Muito haveria de escrever sobre tema tão momentoso. Uma reflexão, entretanto, será suficiente por hoje. Os fatos estão mostrando claramente que os partidos da “direita” existentes no mundo inteiro mantém entre si uma conexão extraordinária, que se traduz em uma colaboração eficaz, meticulosa e pontual como o mais pontual dos relógios. Nesta colaboração, nenhuma desinteligência, nenhum equívoco, nenhum atraso se nota. Sempre e por toda parte, a traição, secundada pelos partidos da “direita”, desempenha admiravelmente seu papel. E não há notícia de um único caso em que a imperícia ou algum inesperado assomo de brio patriótico dos membros das “direitas” tivesse sustado a marcha serpentinamente sinuosa da traição. Este fato tanto mais desconcertante se torna quanto é em nome do nacionalismo que as “direitas” se levantaram por toda a parte. E agora são elas que abrem aos inimigos as portas mais secretas e os pontos mais vitais da defesa nacional!

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Algum basbaque poderia pretender que a simples solidariedade ideológica seria suficiente para explicar tudo isto: como os nacionalistas da “direita” do mundo inteiro tem o mesmo programa, é natural que colaborem entre si.

A esta reflexão respondemos com um exemplo concreto que prova o contrário. Ninguém ignora que também os comunistas mantém entre si uma íntima solidariedade. Esta solidariedade mais facilmente se transporta para o plano internacional quanto é fora de dúvida que o comunismo prega a abolição de todas as pátrias, e assim o comunista, ao contrário do “nacionalista-direitista”, está na mais plena conformidade com o seu grupo político quando abre as fronteiras de seu país à penetração russa dos agentes da III Internacional!

Ora, a despeito de tudo isto, as forças que empreenderam pelo mundo inteiro a propaganda comunista julgaram que a solidariedade doutrinária não seria capaz de produzir, na ordem concreta dos fatos, os frutos esperados se não tivesse como ponto de apoio uma vasta organização internacional - a III Internacional hoje em dia - que estruturasse como um grande organismo comum todos os partidos comunistas do mundo, e a todos sujeitasse com mão férrea, ao jugo de uma autoridade central única.

Ora, se o comunismo, a cujos fautores não se pode negar grande capacidade técnica, julgaram não poder proceder de outro modo, por  que considerar absurdo que atrás de tantas solidariedades das “direitas” também haja uma “internacional”?

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No discurso patético e alarmante que Sr. Paul Reynaud pronunciou perante o Senado, encontramos alguns fatos que fazem suspeitar invencivelmente uma traição.

Explicando a inesperada facilidade com que os alemães conseguiram transpor o Mosa, o “premier” francês informou que “o Mosa é um pequeno rio de aspecto difícil, sob o ponto de vista militar, mas fora considerado erroneamente como obstáculo importante para a ação do inimigo.” Por isto, acrescenta S. Ex.a, não fora suficientemente defendido.

Em outros termos, enquanto o Estado Maior francês julgava o Mosa um obstáculo militar capaz de embaraçar a ação das tropas invasoras, o Estado Maior alemão, que é estranho no país e que portanto tem muito menos obrigação de conhecer os rios franceses, não se iludiu, e tentou resolutamente transpor o rio.

Quem conhece a inteligência lúcida, penetrante, alerta e viva do francês dificilmente deixará de concordar em que esta explicação é um pouco simples demais, e que agentes de execução do Estado Maior traíram a confiança deste.

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Outra informação do Sr. Reynaud, que causa mossa a qualquer leitor, é que por uma coincidência - sempre as “coincidências”, estranhas, lamentáveis, curiosas, únicas abrindo as portas ao invasor - o exército do general Korep, que guarnecia este ponto vulnerável, estava desfalcado de seus melhores elementos que haviam seguido para a Bélgica. Assim, pois, só restavam os outros recrutas mal treinados, que por mais uma “coincidência”, evidentemente também muito curiosa, nem sequer estavam à beira do rio, encontrando-se à certa distância dele, e não se tendo dele aproximado, “embora tendo os movimentos mais livres e mais curto o caminho para percorrer para atingir o ponto nevrálgico”, como afirma o chefe do Governo francês.

Não é muita coincidência? E também não é estranho que durante toda esta guerra, jamais se tenha ouvido falar em coincidências que barrassem o caminho à Alemanha?

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Infelizmente não se parou aí a série de “coincidências”. Disse o Sr. Reynaud no mesmo discurso: “Mas ainda não é tudo: em conseqüência de faltas inconcebíveis e que serão punidas (longos aplausos dos senadores) as pontes sobre o Mosa não haviam sido destruídas. Por essas pontes passaram as “Panzer divisionem”, lançadas ao ataque contra divisões cheias de claros e pouco treinadas para esses ataques. Podeis assim compreender agora o desastre: a desorganização total do Exército Korep.”

Não é o cúmulo das coincidências? E os “longos aplausos” não provam à saciedade que a França está farta de tantas coincidências?

Francamente, daqui para o futuro deverá a Santa Igreja introduzir na ladainha das rogações mais esta súplica, de uma suprema importância nos dias que correm:

Das “coincidências”, livrai-nos Senhor.

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O Sr. Reynaud menciona ainda outra “coincidência”: em muitos lugares da França receberam as autoridades telefonemas que, em nome do Governo, as convidavam a abandonar precipitadamente os postos à vista da aproximação do inimigo.

Quem deu estes telefonemas?

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Felizmente não é só ao “Legionário” que os fatos desta ordem tem impressionado profundamente. Um matutino publicou, há dias, uma reportagem de um Sr. Joy Arbold, distribuída pela “Agência Norte-americana”, em que o autor afirmava no título que “os alemães contam com todos os partidos fascistas do mundo para a obra de espionagem”. E, em seguida, o Sr. Arbold fornecia neste sentido interessantes indicações.

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Convém prevenir o espírito de nossos leitores contra uma manobra que inevitavelmente o III Reich tentará, caso lhe seja favorável o sucesso das armas. Consistirá em propor à França uma paz extremamente “benigna” e tentar, assim, fazer uma luta em separado com a Inglaterra. Desunidos os dois grandes povos, seriam tragados separadamente pelo neo-paganismo totalitário do III Reich.

Esperamos que o espírito lúcido e vivo dos franceses não lhes permita cair em erro tão funesto.