Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 5 de maio de 1940, N. 399

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Nossas considerações anteriores sobre “Quisling, Mosley & Cia.” tiveram imprevista e sensacional confirmação com as declarações do Eng.º Mussert, Führer do Partido Nazista holandês, segundo as quais, caso a Alemanha invadisse a pequena e simpática monarquia da Rainha Guilhermina, os holandeses filiados àquela agremiação cruzariam os braços.

Tais declarações, que dispensam comentários, foram feitas à Columbia Broadcasting, e reproduzidas com explicável indignação pela imprensa dos Países Baixos.

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Merecem especial registro as declarações formuladas à United Press pelo Sr. Hambro, Presidente do Parlamento norueguês. Essa alta personalidade política, que fugiu juntamente com o Rei Haakon, não querendo submeter-se ao jugo iníquo das tropas nazistas, teve afirmações que ilustram singularmente certos conceitos emitidos por esta folha.

Começou ele declarando ter provas de que a invasão da Noruega foi preparada pelos alemães meses antes de ser levada a efeito, e que disto tinham conhecimento os serviços de espionagem francês e inglês, que se abstiveram, entretanto, de comunicar ao governo do Rei Haakon uma só informação! Será crível que, sem manifesta traição, durante meses a fio os alemães pudessem estar .....[ilegível no original] Noruega, sem que a polícia daquele país percebesse algo? Só uma traição de elementos noruegueses filiados ao grande consórcio totalitário internacional explicaria tal fato. Por outro lado, como explicar este mutismo da França e Inglaterra?

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Ainda acentuou o Sr. Hambro que o cônsul alemão em Trondheim, e ulteriormente em Narvick, é um certo Herr Nolda, ex-cônsul no Havre, que se retirou daquela cidade por ter sido suspeitado pelas autoridades francesas de haver preparado o incêndio do navio “Paris” a fim de que o “Normandie” saísse do porto!

O Sr. Hambro declarou haver premunido em tempo o governo norueguês contra este indivíduo, sem entretanto lograr resultado!

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Por que não ofereceu a Noruega resistência maior? O Sr. Hambro o explica. Em primeiro lugar porque “desgraçadamente para a integridade territorial norueguesa, a ausência de navios de guerra britânicos quando os alemães ocuparam os portos noruegueses, deram a mais desastrada prova de que a Grã-Bretanha não estava preparada, em absoluto, para desembarcar tropas na Noruega. Isso também o indica o fato de somente terem desembarcado as primeiras tropas britânicas nove dias depois de se terem estabelecidos as tropas alemãs solidamente em território norueguês”. Em segundo lugar porque “a Noruega, não suspeitando da gravidade da situação, nenhum preparativo tinha realizado. O Sr. Koth, Ministro do Exterior, tinha além disto grande confiança no ministro alemão, que havia manifestado oficialmente sua simpatia pela Noruega”.

Para tais palavras, só um comentário é possível: confere!

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O “Legionário” publicou, no início deste ano, uma notícia em que mostrava ser dificílimo - para não dizer mais - o bloqueio da Alemanha, que poderia receber de diversas fontes o alimento necessário.

Nossas considerações tiveram interessante confirmação com a inquietude manifestada pelo Sr. Cross, em banquete realizado na Câmara Americana de Comércio em Londres, quando demonstrou de modo irrefutável que o Porto de Vladivostok serve de meio para eliminar quaisquer tentativas de bloqueio, recebendo através dele os alemães, as matérias primas que desejarem!

Também confere!

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É com amorosa apreensão que pensamos no Vaticano, ao escrever estas linhas. As relações ítalo-alemãs, cada vez mais estreitas, culminaram agora em matéria de cordialidade, com a nomeação do embaixador italiano no Vaticano, Sr. Dino Alfieri, para embaixador em Berlim. O Sr. Alfieri - ex-embaixador junto ao Chefe da Cristandade! - é um dos fascistas mais nazificantes e mais amigos da Alemanha. A ele se deveu, quando ministro da Propaganda, um intenso trabalho no sentido de tornar popular na Itália fascista a Alemanha nazista. E a imprensa fascista, ao noticiar sua transferência para Berlim, mostra nela um indício de novo estreitamento dos vínculos políticos e culturais do eixo totalitário teuto-italiano.

Depois disto, que grandes resultados se podem esperar da nomeação do Sr. Bernardo Attolico junto ao Vaticano?

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Sabemos que nossas palavras causarão irritação não pequena em certos círculos. Disto, entretanto, não nos arrependemos. Estes círculos são ligados aos que desenvolvem agora, na Itália, furiosa campanha contra o benemérito “Osservatore Romano” por ter este censurado a nomeação de um alto comissário alemão em Oslo.

 

Roberto Farinacci (1892-1945), político fascista-socialista italiano, com atividades no Partido Social Italiano, Partido Popular Italiano, Partido Nacional Fascista, Partido Fascista Republicano

Toda a imprensa fascista move atualmente grande campanha contra a Santa Sé, campanha esta na qual se destaca o órgão do Sr. Farinacci. Pedem os jornais oficiosos ou oficiais na península - não há outros - que o “Osservatore” não seja lido na Itália. O Sr. Farinacci chegou a dizer que, se quiser circular na península, deverá o órgão do Vaticano ocupar-se exclusivamente de assuntos de Teologia, Moral e Hagiografia.

Em primeiro lugar, não compreendemos esta distinção entre o “Osservatore” e o Papa. Impedir a circulação do “Osservatore” é impedir a difusão do pensamento do Papa. E se é isto que se quer, por que não ter a hombridade de o dizer abertamente?

Em segundo lugar, o fascismo se jacta de ter destruído o liberalismo. O que, entretanto, se pode imaginar de mais totalmente liberal e rançoso do que a afirmação de que a Igreja não pode tratar dos assuntos políticos, sociais e econômicos relacionados com sua doutrina?

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Finalmente, a irritação da imprensa fascista também tem outro motivo, largamente alegado por ela: a condenação da Santa Sé de todas as obras do filósofo fascista [Alfredo] Oriani.

A atitude é curiosa. Se o fascismo fosse realmente católico, como às vezes ele se diz ser, deveria agradecer à Santa Sé o ter denunciado este lobo, cujas doutrinas o Partido deveria ser o primeiro a renegar. Entretanto, o Partido se irrita. O que pensar, à vista disto, de suas convicções religiosas?


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