Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 14 de abril de 1940, N. 396

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Ao mesmo tempo que em nosso artigo de fundo registramos o pesar do Vaticano pela conquista da Dinamarca e parte da Noruega por parte das forças alemãs, temos o desprazer de noticiar, nesta seção, o júbilo que tal acontecimento provocou nos arraiais fascistas. A este respeito, nada é mais expressivo do que o comunicado da agência oficial italiana “Stefani”, que colide categoricamente com o ponto de vista do “Osservatore Romano”. Diz o comunicado:

“A opinião pública italiana, que condenou a violação da neutralidade norueguesa pelas potências democráticas, considera inteiramente legítimas as medidas tomadas esta madrugada pela Alemanha em relação à Noruega e Dinamarca. O golpe que os aliados pretenderam desencadear contra a Alemanha foi contraproducente e feriu os próprios aliados. Do ponto de vista estratégico, o alto comando alemão conquistou posições de primeira classe para a vigilância da Escandinávia e domínio do Mar do Norte. A Alemanha pode, agora, vigiar as minas escandinavas que já foram cortadas à Inglaterra. Qualquer resistência norueguesa será apenas formal, como foi o protesto da Noruega contra a agressão franco-britânica.”

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Não será supérfluo acrescentar que toda a imprensa fascista secundou a agência “Stefani” na atitude por esta assumida. Neste sentido, quase todos os jornais fascistas publicaram vistosas manchetes em que externavam seu ruidoso contentamento pela agressão alemã às duas monarquias setentrionais, e prognosticavam com jubilo a próxima vitória do III Reich. Do III Reich e evidentemente, implicitamente, inegavelmente, indubitavelmente, da III Internacional, se bem que a esta não se referissem os órgãos fascistas.

Tempora mutantur! [como os tempos estão mudando!]

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Teríamos o direito de esperar que a Espanha, recentemente libertada das garras do comunismo, protestasse energicamente contra essa nova expansão do eixo totalitário Berlim-Moscou no Báltico e Mar do Norte. Esta atitude seria imposta pela mais elementar coerência com os princípios que constituíram a medula da revolução nacionalista.

Não nos consta que tenha sido esta a atitude da imprensa espanhola toda ela oficiosa.

A possível invasão do território holandês gera em nós uma séria preocupação. Ao norte do Brasil está a Guiana Holandesa. Se a invasão da Holanda determinasse a anexação dessa colônia ao Reich alemão, quem não percebe os evidentes perigos que daí decorreriam?

Felizmente, porém, a integridade territorial da América está garantida por numerosos pactos internacionais, e temos o direito de esperar que não se venha procurar neste continente um “espaço vital”, que é vital para o conquistador e mortal, muito frequentemente, para seus vizinhos.

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O Sr. Ivo de Aquino, Secretário da Educação de Santa Catarina, fez ao “Correio do Povo” certas declarações segundo as quais a campanha pró nacionalização daquele Estado tem encontrado óbices em certas agremiações religiosas em que se tem disfarçado os estrangeiros para escapar à ação da polícia.

Basta conhecer, ainda por alto, o “Legionário” para perceber que ele só pode considerar com simpatia qualquer campanha tendente a nacionalizar aquele Estado. Entretanto cumpre acentuar ser impossível que as “associações religiosas” a que alude aquela autoridade sejam associações católicas. Não há associações católicas autênticas que funcionem sem aprovação eclesiástica. Por outro lado, a aprovação nunca seria dada pelos Bispos a associações que não tivessem todas as garantias de seriedade de propósitos e de honestidade. E, caso alguém conseguisse burlar a vigilância eclesiástica, uma simples denúncia devidamente justificada e comprovada das autoridades civis levaria certamente as autoridades eclesiásticas a eliminar o abuso.

Nada, pois, pode autorizar a suposição que se trate de associações católicas, mas apenas de entidades protestantes ou cismáticas. E nada há que possa explicar, ao menos remotamente, qualquer violação aos direitos da Santa Igreja.

Queremos dar este sentido às declarações do Sr. Ivo de Aquino, a respeito das quais os telegramas só nos forneceram uma notícia muitíssima sucinta.


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