Legionário, N.º 395, 7 de abril de 1940

7 DIAS EM REVISTA

Depois da crise francesa, veio a crise inglesa. Descontente a opinião pública na França com a política exterior e inércia militar do governo, a queda do ministério se impunha como uma conseqüência forçosa. E a demissão de Daladier teve repercussão desfavorável sobre a situação de Chamberlain, que também se vê agora a braços com a oposição crescente de seus patrícios.

De há muito, o “Legionário” vinha acentuando a pusilanimidade, a curteza de vistas e a inércia sistemática de Daladier e de Chamberlain. Certos estrangeiros aqui residentes se magoaram com nossa atitude. Imaginaram eles candidamente que, em tempo de guerra, o melhor que se tem é fechar sempre os olhos para todos os disparates governamentais, a fim de não por em risco a unanimidade da opinião pública. Há nisto um ilogismo fundamental. Quando se trata de questões secundárias esta atitude é um dever. Mas quando a orientação do governo é tal que ele caminha inevitavelmente para a derrota (um “novo Munich” seria apenas uma derrota disfarçada), deixá-lo seguir seu curso livremente, só para evitar cisão na opinião pública, seria apenas acompanhá-lo no caminho do abismo. Neste caso, uma reação se imporia. E foi esta reação que o “Legionário” preconizou, e a opinião franco-inglesa está realizando.

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A este propósito, cabe entretanto um comentário. Os telegramas desta semana anunciaram que o Sr. Bonnet, ex-ministro do gabinete Daladier, está chefiando um movimento de oposição ao Sr. Reynaud, por achar errônea a orientação de firmeza que alguns gestos deste último tem deixado até certo ponto transparecer... relativamente. Acrescentam os comunicados telegráficos que o Sr. Bonnet é favorável a um “nova Munich”. É incompreensível como possa um francês ser favorável a um tal desfecho para a atual guerra.

Só uma cegueira que transpusesse os limites da normalidade poderia chegar a explicar esta atitude. Tome-se qualquer francês médio, ou mesmo de ínfima extração social: ele urraria de indignação diante da perspectiva de uma capitulação diplomática disfarçada. Será possível que os inconvenientes claríssimos deste desfecho para a atual guerra, perceptíveis para qualquer homem da rua, não firam a atenção de um parlamentar experimentado dos negócios públicos e que já esteve à testa de uma das mais importantes pastas  ministeriais?

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Paralelamente a este gesto do Sr. Bonnet, deve ser assinalada a atitude do Sr. Chamberlain. O “premier” inglês, diante da onda crescente de descontentamento que sua política vai suscitando, não quis, entretanto, reformar o ministério. Se ele tivesse o propósito de dar um caráter sério à atual guerra, não lhe seria difícil incluir no ministério os homens que a opinião aponta como os únicos capazes de arcar com as responsabilidades do momento. Ao menos, ser-lhes-ia fácil dar lugar de maior saliência aos Srs. Churchill e Eden, pessoas que parecem dotadas de todas as qualidades para tocar avante as operações militares desde que o queiram fazer. Esses dois políticos já fazem parte do ministério, mas em condições tão secundárias, que qualquer ação energicamente propulsionadora da guerra está fora de seu alcance. O Sr. Chamberlain teria um meio simplicíssimo de desarmar a oposição nas fileiras de seu próprio partido, e não nas linhas oposicionistas, encontraria ele os homens que fariam calar todos os protestos. Por que, então, não os chama ele ao governo? Se ele quer fazer a guerra, por que não desarma a oposição, dando deste seu propósito garantias seguras? E se ele não quer fazer a guerra, por que não o declara, francamente? E por que não há de querer fazê-la?

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Devemos acolher como uma manobra vulgar a notícia de que Monsenhor Godfroy, representante do Santo Padre em Londres, teria comunicado ao Vaticano, a pedido do Foreign Office, a inquietação deste por motivo dos progressos que está fazendo a opinião católica nos Balcãs. O Ministério do Exterior da Inglaterra teria alegado que a conversão de importantes massas cismáticas à Santa Igreja acarretaria uma forte preponderância italiana naquela península, o que, evidentemente, não favoreceria a Inglaterra.

Em primeiro lugar, é pouco provável que o Monsenhor Godfroy se incumbisse de transmitir tal recado. Qual seria seu objetivo? Que a Santa Sé deixasse de chamar os cismáticos à comunidade da Santa Igreja? Isto seria o absurdo dos absurdos. Em segundo lugar, é muito questionável que a conversão dos cismáticos tivesse como conseqüência um fortalecimento da influência italiana. As razões que para tanto se pudessem alegar teriam contra si o argumento muito forte de que mais de uma vez os prelados cismáticos tem servido de instrumentos nas mãos do nazismo. É este, por exemplo, o caso do clero cismático iugoslavo, que sob pressão do Sr. Hitler se opôs tenazmente à concordata do governo sérvio com a Igreja. Pelo contrário, os Prelados católicos não podem deixar de considerar com apreensão um aumento da influência totalitária.

Finalmente, o Sr. Chamberlain, o pacífico, inerte, otimista, inocente, tranqüilo, despreocupado Sr. Chamberlain, que dorme tão bem em Londres apesar da concentração das tropas alemãs no Reno, teria motivos de sobressaltos sérios ante esta simples hipótese de uma consolidação da influência italiana nos Balcãs.