Legionário, N.º 391, 10 de março de 1940

7 DIAS EM REVISTA

A semana passada se assinalou por uma especial atividade do “Osservatore Romano” no que diz respeito ao totalitarismo. Como é esta a heresia de nosso século, e a arena na qual devemos preferivelmente lutar, desejamos apresentar aos leitores do “Legionário” uma análise pormenorizada dos textos publicados pelo órgão oficioso da Santa Sé.

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Como ninguém ignora, os países em que vigora a forma de governo liberal-democrática concedem ampla liberdade à imprensa, pelo que o governo se vê na impossibilidade de controlar a linguagem empregada por esta. Assim, pois, seria vão querer procurar-se, na atitude da imprensa não oficial, a expressão do pensamento governamental.

Isto posto, é obvio que os jornais que se editam nas democracias liberais tratam cada qual a seu talante da política internacional, e que, se o próprio governo do país não tem recursos para coibir essa liberdade, a fortiori países estrangeiros não o podem tentar. Não pensou assim a Alemanha. Por isto, entendeu a imprensa nazista que as nações neutras deveriam obrigar as respectivas imprensas a evitar qualquer ataque à Alemanha. E, se não o fizessem, estariam rompendo a neutralidade, e se exporiam a uma agressão alemã. Em um editorial bem lançado, o “Osservatore Romano” mostra a improcedência absoluta da argumentação nazista e toma francamente a atitude de defesa quanto à Suíça e Noruega, especialmente visadas por essa manobra alemã. Diz o órgão da Santa Sé que a Alemanha, pretendendo coarctar a liberdade da imprensa dos países neutros, obriga-os implicitamente a mudar de forma de governo, o que constitui uma grande violação de todas as regras internacionais.

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Importantíssimo foi também outro editorial em que o “Osservatore Romano” denuncia a crescente intransigência do chanceler Hitler em aceitar qualquer solução pacífica, ao mesmo tempo honesta e honrosa, para a atual situação européia. O órgão do Vaticano acrescenta que a semelhança entre o hitlerismo e o nazismo se acentua cada vez mais, e mostra como Hitler, atacando como tem feito ultimamente as tradições imperiais e monárquicas da Alemanha, tira ao movimento nazista certas aparências tradicionalistas que conservara, e de que alguns de seus adeptos se serviram para o distinguir do comunismo.

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Quem tem olhos para ver, ouvidos e inteligência para pensar, medite sobre as seguintes palavras do Santo Padre na recente homilia que pronunciou por ocasião do primeiro aniversário de seu pontificado: “O Jesus, fazei com que os homens deponham as armas aos Vossos pés; fazei com que as mentes e as vontades discordantes dos que dominam os destinos das nações Vos ofereçam a Vós, autor e amante da paz, no altar da paz cristã, desconhecida para as legiões pagãs de César, a confiança e a sinceridade recíprocas, necessárias à restauração da honra e da harmonia entre os povos, por meio do amor e da justiça.”

Quem são, hoje, aquelas “legiões pagãs de César” às quais tão subtilmente se refere o Pontífice?