A semana passada se assinalou por uma especial atividade
do “Osservatore Romano” no que diz respeito ao totalitarismo. Como é esta a
heresia de nosso século, e a arena na qual devemos preferivelmente lutar,
desejamos apresentar aos leitores do “Legionário” uma análise pormenorizada dos
textos publicados pelo órgão oficioso da Santa Sé.
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Como ninguém ignora, os países em que vigora a
forma de governo liberal-democrática concedem ampla
liberdade à imprensa, pelo que o governo se vê na impossibilidade de controlar
a linguagem empregada por esta. Assim, pois, seria vão querer procurar-se, na
atitude da imprensa não oficial, a expressão do pensamento governamental.
Isto posto, é obvio que os jornais que se editam
nas democracias liberais tratam cada qual a seu talante da política
internacional, e que, se o próprio governo do país não tem recursos para coibir
essa liberdade, a fortiori
países estrangeiros não o podem tentar. Não pensou assim a Alemanha. Por isto, entendeu a imprensa nazista que as nações
neutras deveriam obrigar as respectivas imprensas a evitar qualquer ataque à
Alemanha. E, se não o fizessem, estariam rompendo a neutralidade, e se exporiam
a uma agressão alemã. Em um editorial bem lançado, o “Osservatore Romano”
mostra a improcedência absoluta da argumentação nazista e toma francamente a
atitude de defesa quanto à Suíça e Noruega, especialmente visadas por essa manobra alemã. Diz o
órgão da Santa Sé que a Alemanha, pretendendo coarctar a liberdade da imprensa
dos países neutros, obriga-os implicitamente a mudar de forma de governo, o que
constitui uma grande violação de todas as regras internacionais.
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Importantíssimo foi também outro editorial em que o
“Osservatore Romano” denuncia a crescente intransigência do chanceler Hitler em
aceitar qualquer solução pacífica, ao mesmo tempo honesta e honrosa, para a
atual situação européia. O órgão do Vaticano acrescenta que a semelhança entre o
hitlerismo e o nazismo se acentua cada vez mais, e
mostra como Hitler, atacando como tem feito ultimamente as tradições
imperiais e monárquicas da Alemanha, tira ao movimento nazista certas
aparências tradicionalistas que conservara, e de que alguns de seus adeptos se
serviram para o distinguir do comunismo.
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Quem tem olhos para ver, ouvidos e inteligência
para pensar, medite sobre as seguintes palavras do Santo Padre na recente
homilia que pronunciou por ocasião do primeiro aniversário de seu pontificado:
“O Jesus, fazei com que os homens deponham as armas aos Vossos pés; fazei com
que as mentes e as vontades discordantes dos que dominam os destinos das nações
Vos ofereçam a Vós, autor e amante da paz, no altar da paz cristã, desconhecida
para as legiões pagãs de César, a confiança e a sinceridade recíprocas,
necessárias à restauração da honra e da harmonia entre os povos, por meio do
amor e da justiça.”
Quem são, hoje, aquelas “legiões pagãs de César” às
quais tão subtilmente se refere o Pontífice?