Legionário, N.º 387, 11 de fevereiro de 1940

7 DIAS EM REVISTA

Nossas afirmações sobre o fracasso do carnaval e o êxito dos retiros espirituais se confirmam plenamente. A despeito da iluminação e dos tablados que com dispêndio não pequeno a Prefeitura de São Paulo ofereceu à população, a despeito da propaganda intensa dos diários e dos rádios, a despeito do policiamento do trânsito, que foi feito com amor maternal para com o carnaval, consagrando-lhe uma faixa tão extensa de ruas que ele a custo as cobria de ponta a ponta, a despeito da proibição dos automóveis não ocupados por “carnavalescos” transporem as ruas destinadas ao corso, mesmo quando ali este era tão ralo que uma lesma as poderia atravessar sem perigo, a despeito de tudo isto, o carnaval agonizou. Como dissemos, a polícia reservou ao corso a maior extensão que lhe seria possível. Essa extensão, o corso esteve muito e muito longe de a cobrir. E ela não era, entretanto, nem sequer a terça parte da extensão ocupada pelo corso há anos atrás!

Enquanto isto, e enquanto uma verdadeira multidão de excursionistas procurava fugir à alegria de encomenda decretada para aqueles dias, retirando-se para o interior e o litoral, em sentido inverso uma verdadeira multidão de moços, provenientes de todo o Estado, se dirigia a São Paulo para os retiros espirituais.

Os fatos falam por si, e não exigem comentários!

* * *

Conforme edital da Cúria Metropolitana, festejou-se no dia 5 p.p. o aniversário natalício do Ex.mo Rev.mo Mons. Ernesto de Paula, Vigário-Geral desta Arquidiocese.

As afetuosas manifestações de apreço que recebeu de S. Ex.a Rev.ma o Sr. Arcebispo Metropolitano, S. Rev.ma viu somarem-se, neste dia, as de todos os que, tendo admirado suas notáveis qualidades intelectuais e morais, sua rara energia e capacidade de ação, delicadeza de trato e faculdades de mando, são seus admiradores calorosos.

O “Legionário” telegrafou a S. Ex.a Rev.ma, manifestando-lhe seus sentimentos de obediência incondicional e filial afeto.

* * *

Convém às vezes, em política e em Religião, usar do famoso princípio “similia similibus curantur”, e atacar um mal pelo outro.

O “Estado de São Paulo” de 8 p.p., publicou um artigo de Hermann Rauschinigg, ex-íntimo colaborador do Sr. Hitler e antigo presidente do Senado de Dantzig, contendo a seguinte curiosa declaração sobre os protestantes:

“Os pastores protestantes, disse ainda Hitler, não tem sequer a idéia do que seja uma Igreja. Pode-se fazer tudo a eles, sempre se dobrarão. Estão habituados às humilhações. Aprenderam a suportá-las junto aos morgados que aos domingos os convidavam a comer pato assado. Mas não tinham assento à mesa; comiam com as crianças ou os preceptores. Já se consideravam satisfeitos com não ser obrigados a partilhar a refeição dos domésticos...”

Em outro artigo do Sr. Rauschnigg, publicado no mesmo jornal, encontramos sobre o imperialismo nazista na América Latina os seguintes projetos que devem fazer refletir profundamente, e que o Sr. Hitler manifestou ao autor na intimidade:

“Esperaremos alguns anos, se preciso e os ajudaremos a desembaraçar de tudo isso (Hitler falava de democracia). Naturalmente será preciso mandar gente nossa para lá. Nossa juventude deve aprender a colonizar. É uma tarefa que não se consegue com burocratas perfeitos e governantes prudentes. O de que precisamos para lá são jovens destemidos. Não se trata de mandá-los ao sertão, nem de desbravar o mato. Não, o que é preciso são jovens que tenham acesso na boa sociedade e que ao mesmo tempo se ponham em contato com as camadas mais baixas, com os índios e os mestiços.

Servir-nos-emos de uns e de outros, meu caro Pf...”, interrompeu Hitler, com alguma impaciência. Insuflaremos dois movimentos diferentes: um, de defesa legal, outro, revolucionário. Achais isto difícil? Creio que já demos prova de que sabemos fazer um trabalho desses, e se não tivesse sido assim, não estaríamos agora um em face do outro. Nossa intenção não é fazer como Guilherme o Conquistador, não iremos desembarcar tropas para nos apoderarmos do Brasil. Nossas armas são invisíveis. Aos nossos “Conquistadores”, meu caro, cabe uma tarefa mais difícil que aos de outrora; suas armas, do mesmo modo, são de manejo mais delicado”.