Legionário,  N.º 382, 7 de janeiro de 1940

7 DIAS EM REVISTA

Esta folha se associa calorosamente às múltiplas homenagens de que tem sido alvo, não só em sua Arquidiocese, como nesta Capital, S. Excia. Revma., o Sr. D. Francisco de Aquino Correia, Arcebispo de Cuiabá, por motivo da comemoração de seu jubileu.

Possuidor de grandes virtudes, de uma inteligência notável e de um sólido saber, é S. Excia. Revma. uma das figuras mais notáveis do Episcopado, tendo prestado à Santa Igreja relevantes serviços. A tais méritos se somam ainda os de uma atuação política muito marcante, quando foi sua Excia. Revma. governador do próprio Estado de que também é Arcebispo. O dissídio dos partidos políticos havia atingido tal intensidade que só se poderia evitar um conflito gravíssimo sendo entregue o governo do Estado a uma pessoa inteiramente neutra e de grande autoridade moral. O Arcebispo do lugar estava, pois, automaticamente indicado. Aceitando, movido pela caridade, tal ônus, S. Excia. Revma. reconciliou as facções e, esgotado o seu quadriênio, abandonou definitivamente a política, deixando o Estado em plena paz.

Como literato, tem S. Excia. Revma. grandes méritos, que a Academia de Letras reconheceu, inscrevendo-o na lista de seus membros.

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Foi nomeado embaixador da Alemanha na Itália o Sr. von Papen. O "Legionário" já se tem ocupado freqüentemente da figura desse trânsfuga das fileiras católicas. Embaixador da Alemanha junto ao Vaticano, preparou a concordata que o Sr. Hitler tão abertamente violou. Embaixador na Áustria, preparou o Anschluss, de triste memória. Ao que consta, esteve em Moscou para preparar o recente pacto Ribbentrop-Stalin, também ele de famosa memória.

Em missão especialíssima, esteve também na Turquia. E agora vai para a Itália.

O Sr. von Papen é o embaixador predileto do Sr. Hitler para as grandes ocasiões...

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A perseguição religiosa na Polônia continua. Dois Bispos, naquele inditoso país, segundo notícia oficial alemã, foram aprisionados sob pretexto de guardarem armas em seu poder. Depois a Corte alemã comutou a pena de morte em prisão, "atendendo à condição eclesiástica dos réus".

Quem tem dois dedos apenas de senso católico, sabe bem o que deve pensar a respeito da acusação lançada contra aqueles Prelados. Mas nem sequer é preciso ter senso católico para tanto. Quem conhece um pouco de História, especialmente da história do liberalismo (...) e do comunismo, sabe perfeitamente que foi sob pretexto de que guardavam armas que foram saqueados inúmeros conventos, palácios episcopais e até instituições de caridade. Como se vê, o pretexto não é novo.

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Já que falamos em História, lembremos um pequeno incidente da vida do grande e santo Tomás Morus. Esse doutíssimo ex-chanceler do Rei Henrique VIII fora condenado à morte por não querer renunciar à Religião Católica. Quando ele já se encontrava a caminho do patíbulo, aproximou-se um emissário real que leu um decreto em que o tirano mitigava "por misericórdia", segundo rezava o documento oficial, alguns particulares da sentença, mantendo embora a pena máxima. Morus ouviu tranqüilamente aquela leitura e, enfronhado do "ato de misericórdia" do Rei que fora seu grande e íntimo amigo, teve a exclamação irônica que ficou célebre: "Deus livre os meus da misericórdia do Rei". Efetivamente, tal misericórdia, do que vale?

Seria o caso de todos os Prelados polacos dizerem o mesmo. Deus que os livre de tais provas de consideração do nazismo.

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Publicamos há dias uma notícia a respeito da qual temos uma ligeira retificação a fazer. O distintivo da Ação Católica do Rio de Janeiro, tendo em sua parte inferior um pequeno laço com as cores marianas, não foi tornado obrigatório pelo Eminentíssimo Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, mas sim aprovado por Sua Eminência para a Ação Católica da Arquidiocese.

Tal aprovação, proveniente da mais alta autoridade eclesiástica do Brasil, demonstra, aliás, exuberantemente a conformidade daquele distintivo com as normas e princípios que regem a Ação Católica.

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Todos os católicos devem acolher com respeitosa simpatia as irradiações que a estação emissora do Vaticano fará especialmente para o Brasil. Trata-se de uma prova expressiva do amor paternal com que a Santa Sé procura estreitar os liames que ligam o Brasil ao Papado.

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Pouca coisa temos a dizer de positivo sobre o incêndio verificado no edifício da Chancelaria Apostólica. Tal edifício é a Cúria de Roma, ou seja, o prédio no qual se faz a administração espiritual da Diocese de Roma. Encontra-se ele destacado do Estado do Vaticano, mas está em regime de extra-territorialidade, isto é, nele não se exerce de modo pleno a soberania italiana.

Há quem acentue ser este o segundo incêndio verificado ali, dentro de um pequeno espaço de tempo. Essa circunstância faz lembrar a irritação que a recente aproximação da Casa Real com o Vaticano causou em certos círculos. As autoridades competentes parecem não ter sido indiferentes a tais suspeitas, uma vez que foram aprisionados vários operários que trabalhavam nas obras.

Entretanto, é muito cedo para se ajuizar convenientemente do assunto, que exige suma prudência e grande circunspecção.