O Departamento Nacional de Propaganda do Reich
distribuiu um comunicado em que afirma não estarem sofrendo perseguição
religiosa os católicos da Bohemia e a Morávia, atualmente colocados sob “protetorado” alemão.
O tom jactancioso em que o comunicado elogia por
isto o regime nazista indica que o Governo alemão se gaba dessa liberdade
concedida aos católicos.
Por outro lado, entretanto, a Santa Sé, em
repetidos documentos, quer oficiais quer oficiosos, já tem denunciado a
perseguição crudelíssima a que estão submetidos os católicos residentes na
Alemanha.
A contradição do nazismo é, pois, frisante. Por que
motivo se gaba ele de fazer na Bohemia e Morávia aquilo que constitui preocupação capital do nazismo
na Alemanha?
Mas qual será o ingênuo que ainda se espantará
vendo cair em contradição os elementos nazistas, uma vez que estes fizeram da
contradição a nota característica de sua mentalidade e a arma mais vantajosa de
sua política?
* * *
Recebemos com esperança e satisfação a notícia de
que se começa a cogitar do reconhecimento do casamento religioso no Brasil. Até
aqui, nossa lei, estabelecendo o casamento meramente civil e ignorando
oficialmente o religioso, se colocou em situação de insolúvel divórcio com a
opinião pública que, sendo católica, não reconhece casamento sem Sacramento. A
cessação desse doloroso estado de coisas constituirá certamente um precioso
benefício para o país.
Entretanto, convém que não nos esqueçamos de que a
matéria é eriçada de dificuldades. Não é necessária muita clarividência para se
perceber que o reconhecimento de todo e qualquer casamento religioso implicaria
na implantação do divórcio a vínculo entre nós, pois que várias
seitas heterodoxas e protestantes admitem a dissolução do vínculo conjugal.
Além desta dificuldade, será necessário que a lei
seja feita com a preocupação de respeitar escrupulosamente a liberdade
intangível e sagrada da Santa Igreja de Jesus Cristo. Os católicos ainda se
lembram, com ressentimento e pesar, da péssima lei sobre casamento
religioso, aprovada pela última
legislatura liberal-democrática que tivemos. Essa lei
foi tal que o Episcopado não a pode aceitar, e jamais foi ela posta em prática
em todo o território nacional.
E os católicos desejam ardentemente que tal
situação não venha a ser reafirmada pela lei que consta estar atualmente em
elaboração.
* * *
Ao mesmo tempo que se cogita do reconhecimento do
casamento religioso, cogita-se também do amparo aos filhos ilegítimos. É o que
nos afirmam os telegramas.
Este assunto é por demais árduo e complexo, para
poder ser analisado a fundo em um simples tópico desta seção.
Será, entretanto, conveniente acentuar que os
católicos, sempre desejosos de apoiar qualquer iniciativa de amparo a todos os
desprotegidos, nem por isto aplaudiriam qualquer lei que viesse apagar a linha demarcatória nítida e firme que nossa atual legislação
estabelece, quer sob o ponto de vista moral quer jurídico e econômico, entre os
filhos legítimos e ilegítimos. Essa linha demarcatória
é a “linha Maginot” da indissolubilidade do vínculo
conjugal.
* * *
Convém acentuar que o “Legionário”, apontando em
toda a sua complexidade os problemas que estão sendo estudados pelas autoridades
competentes, tem em vista colaborar com estas em sentido construtivo.
Reiteradamente, os elementos com suficiente autoridade para falar em nome do
Estado Novo tem afirmado que este deseja acompanhar passo a passo o roteiro que
lhe é apontado pelos anseios da opinião brasileira em demanda de um futuro
mais glorioso e melhor. Ora, dessa
opinião pública fazem parte - e em que proporções! - os católicos. Tudo, pois,
deve levar-nos a crer que o Estado Novo não deseja afastar-se ou divorciar-se
do pensamento católico brasileiro. O dever do jornalista católico consiste em
ser o órgão público do pensamento católico. Ele deve, pois, afirmar serena e
claramente a doutrina católica. É famosa a exclamação de um guerreiro: ai dos vencidos. Hoje em dia mais do que
nunca, se poderia dizer: ai dos mudos e dos inertes, ai dos que se comprazem a
recriminar amargamente leis... feitas e a chorar sobre fatos consumados. Por que
não procuraram eles diligentemente agir em tempo oportuno? Por que
não preferiram ser, no sentido mais
amplo e inteligente da palavra, colaboradores enérgicos e eficazes, a
oposicionistas inconsoláveis em razão de males que talvez pudessem ter sido
evitados?