Diz
a Constituição vigente que “a família está sob a proteção do Estado”. E, como
já tivemos ocasião de acentuar, esse foi um dos dispositivos que mais
predispuseram, nos arraiais alheios à política partidária, os admiradores do
Estado Novo a lhe depositar confiança. Porquanto, se tal dispositivo, já
existente na Carta Constitucional de 1934, fosse cancelado na de 10 de
novembro, o alarme da opinião pública seria incalculável.
Ora, não podemos deixar de considerar como
altamente nociva à popularidade das instituições atuais a constante elaboração,
por parte de órgãos bafejados pela proteção do Estado, e que portanto, deveriam
ser ciosos da popularidade deste, de projetos de lei que destoam absolutamente
da proteção que a família deve ter por parte do Estado.
Não
há para a família, legitimamente formada - e só esta é que constitui legalmente
uma família - injúria maior nem ameaça mais grave do que a tendência de a
equiparar a “famílias” ilegítimas. Isto implica em torpedear pela base as
instituições familiares.
Deplorável,
e deplorabilíssimo, pois, é que órgãos como a DASP (Diretória Administrativa de Serviço Público) e o Instituto
de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado, formulem projetos de lei
que beneficiam os “filhos de qualquer natureza”, com o apoio de pensões e
outras medidas de proteção, até aqui reservadas exclusivamente aos filhos
legítimos.
* * *
Registramos
a notícia, veiculada pelos diários desta Capital, de que o conflito existente
entre a Alemanha e a Santa Sé se agravou por motivo da atitude simpática à
Polônia, assumida recentemente por esta última.
A
atitude assumida pelo Vaticano em tal emergência irritou infundadamente os
círculos nazistas, que acusam a Santa Sé de se não ter conservado neutra no
conflito.
Segundo
declarações do “Osservatore Romano”, realmente, a Santa Sé não foi neutra. Mas
os católicos brasileiros não precisam de explicações por essa violação de
neutralidade. O Papado tomou a única atitude que lhe competia tomar.
* * *
Cada
vez mais, no cenário internacional, vão sendo apagadas as supostas divergências
ideológicas durante muito tempo ostentadas por certos países em relação a
outros. Assim, a Itália, cujo governo se erigiu, em tempos, inimigo irreconciliável
de toda e qualquer expansão comunista, depois de ter fornecido em larga escala
à marinha de guerra da Rússia, enviou recentemente três navios para o México.
A
notícia, como é obvio, prova que na ordem concreta dos fatos, as relações entre
a Itália e o México não são nada tão más.
*
* *
A
orientação seguida pelo Sr. Chamberlain continua a
provocar, na Inglaterra, sérias apreensões. Assim é que aquele político tem
tido que enfrentar oposições de vulto. Entre elas, se
destaca a do “Daylly Express”,
que combateu a distribuição de boletins pelas forças aeronáuticas inglesas
sobre território alemão. Pondera aquela folha que uma derrota militar desprestigiaria
muito mais o Sr. Hitler do que o bombardeio de boletins que contra ele tem
feito o governo inglês.
Por
outro lado, na Câmara dos Comuns, um deputado conservador, em interpelação
dirigida ao governo, manifestou seu receio de que os víveres negociados pela
Inglaterra com a Rússia, e fornecidos a esta última, sejam reexportados para a
Alemanha, com visível prejuízo para o bloqueio promovido pela Inglaterra.
Finalmente, o deputado major Atlee acusou o governo
de não manter a moral da população no grau de entusiasmo e otimismo que convém
ao estado de guerra.
Todas
estas notícias mostram claramente a apreensão que reina na Inglaterra.
* * *
Não
parece que participe dessa apreensão o Sr. Neville Henderson, personagem da maior influência na política
inglesa, e ex-embaixador da Inglaterra no Reich, até
o momento em que foi declarada a guerra.
Há
poucos dias, aquele diplomata publicou um livro sobre os motivos da guerra.
Mostra-se ele de um otimismo o mais categórico possível a respeito do futuro. E
para isto não lhe faltam razões.
Eis
como aquele diplomata vê, sem o menor “humour”, e sem a sombra da mais leve ironia, o chefe do
governo alemão. Não se pode negar que o seu depoimento é surpreendente:
“O
Sr. Hitler é, por si próprio, de índole artística e não política, pois
liquidada a questão da Polônia, pretende acabar seus dias como artista e não
como fazedor de guerra; não quer fazer da Alemanha somente uma caserna para
militares e não o fará, a não ser obrigado. Resolvido o problema polonês,
pretende levar vida tranqüila.”