Um
dos fatos mais animadores da vida do “Legionário” é a indefectível fidelidade
com que ele tem sabido interpretar o pensamento da Santa Sé, até mesmo em
questões susceptíveis, por sua complexidade quase inexaurível, de suscitar uma
grande variedades de opiniões. Neste sentido, é significativo o fato de, muito
e muito freqüentemente, o vulto dos acontecimentos internacionais forçar o
“Legionário” a se pronunciar sem ter o tempo necessário para aguardar os
exemplares do “Osservatore”, vindos de Roma. É mesmo esta a regra geral.
Entretanto, jamais se deu o caso de nossa opinião, emitida antes de lermos o
órgão oficioso do Vaticano, discordar ainda que somente em meros detalhes, do
pensamento da Santa Sé.
* * *
Mais
uma vez, o fato acaba de se dar com a guerra européia. Como o “Legionário”
acentuou logo no início do conflito, dois aspectos devem ser claramente
focalizados na atual situação: o aspecto ideológico e o temporal. Quanto ao
primeiro, não há neutralidade possível, máxime para
católicos. Quanto ao segundo, se bem que os católicos possam ter
individualmente sua opinião, ditada por motivos de ordem patriótica, como
católicos entretanto devem ser rigorosamente neutros. Daí a atitude francamente
contrária à agressão nazistico-soviética contra a
Polônia, que assumimos. Nunca foi nosso propósito – declaramo-lo muito
explicitamente - debater e tomar posição a respeito dos problemas
internacionais, políticos ou econômicos, relacionados com a independência
polaca. Mas o fato que nos impressionou, dominou nosso espírito e lhe ditou sua
atitude, foi a nazificação e a bolchevização
de um país fundamentalmente católico.
* * *
Ora,
foi exatamente esta a atitude que o Santo Padre assumiu no discurso com que saudou,
no dia 17 pp., o embaixador da Lituânia que lhe entregava suas credenciais.
Disse Sua Santidade que “consciente dos deveres atinentes a seu alto cargo de
pastor supremo, não deixará que sua ação seja envolvida em controvérsias
puramente temporais e competições territoriais entre os Estados”. Mas
acrescentou que não pode ser indiferente aos perigos incomensuráveis que “a
sombra sinistra do pensamento e da ação dos inimigos de Deus” faz surgir sobre
a Europa inteira.
* * *
A
este propósito é oportuno acrescentar que o “Legionário” agiu em estrita
conformidade com sua missão, quando sustentou desassombradamente
sua posição hostil à paganização da Polônia.
Deste
desassombro, deu um belo exemplo o “Osservatore Romano”, em nota publicada no
dia 14 p.p. e transmitida a nossos diários pelo telégrafo. O jornal oficioso da
Santa Sé censurou vivamente, em tal nota, os que acusavam o Santo Padre de se
ter conservado indiferente à bolchevização e paganização da Polônia, quando pelo contrário ele exprimira
de modo claro “a dor e a angústia que sentia em face dos acontecimentos que se
estavam desenrolando na Polônia”.
Em
outros termos, afirmar ou insinuar que a Santa Sé fora indiferente ao conflito,
ou procurara ao menos ocultar sua dor para agir com prudência (?!) é coisa
inteiramente alheia às intenções do Pontífice.
* * *
Causou-nos
viva satisfação a atitude assumida pelo governo brasileiro, que continua a
manter relações diplomáticas normais com o governo polonês estabelecido
atualmente em Paris. Esse belo gesto de nossas autoridades, que seguiram assim
a linha geral imposta pelas condições políticas do continente americano, prova
que o Brasil se soube conservar uma explicável neutralidade, não quis dar a tal
neutralidade o sentido de uma indiferença apática ante aquilo a que, em recente
discurso, o Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo de São Paulo chamou com razão “os
efêmeros triunfos do direito sobre a força”.
* * *
As
manobras dos pescadores de águas turvas, que incessantemente reaparecem entre
nós, infelizmente ainda não chegaram ao seu ponto final, do qual aparecem bem
distantes. Assim, a questão do exame pré-nupcial continua novamente a ser
ventilada pelo “Diário da Noite”, do Rio de Janeiro, com sua costumeira
parcialidade. E a obra de desagregação da família, à qual se referiu tão
oportunamente o Ex.mo Rev.mo Sr. Bispo de Bragança em sua Pastoral, continua a
encontrar o deplorável apoio de certas autoridades judiciárias. No Paraná, o
Tribunal de Apelação, resolveu em recente sentença sobre seguros de vida,
equiparar os direitos de filhos ilegítimos e legítimos.
Assim,
pois, os filhos das trevas não dormem. Vejam-no os filhos da luz, os membros da
Ação Católica sobretudo, para que neste momento de confusão não mereçam a
queixa do Divino Mestre: “Não pudestes vigiar comigo uma hora?”