Legionário,
N° 358, 23 de julho de 1939
7 Dias em Revista
Os discursos pronunciados durante o banquete oferecido
pelo Ex.mo Sr. Presidente da República ao Episcopado Brasileiro foram dignos de
nota.
A oração do Sr. Dr. Getúlio Vargas foi atenciosa e
correta. A magnífica oração do Ex.mo Rev.mo Sr. D. Álvaro Augusto da Silva foi
uma proclamação eloqüente e incisiva dos direitos da Santa Igreja de Deus, e de
sua benemerência para com a Pátria.
Os tópicos do discurso do Chefe da Nação, em que este
manifesta a sua simpatia para com a obra da Igreja Católica, tão digna de
profunda admiração, continuam a alimentar a esperança de que diversas questões
sociais de importância vital para os católicos, questões estas que estão
pendentes de solução legislativa, encontrem brevemente solução favorável.
* * *
Destas questões, uma, aliás abordada pelo próprio Pio
XII na carta que escreveu ao Episcopado por ocasião do recente Concílio, está
agora na sua fase culminante.
Ninguém ignora a alarmante extensão que tem tido entre
nós a propaganda espírita. De todas as partes têm chegado a este jornal
notícias sobre a intensidade do proselitismo espírita. Ainda, há poucos dias, o
nosso correspondente em Araraquara nos informava de
uma verdadeira ofensiva protestante e espírita naquela localidade, ofensiva
esta desfechada através do rádio e da imprensa, publicando as folhas
protestantes e espíritas os horários.... [faltam algumas palavras no original]
convidando insistentemente todo o povo a ouvi-las.
Ora, exatamente enquanto o Concílio se reunia para
delinear, entre outros assuntos, sobre a debelação do espiritismo e enquanto o
governo do país manifestava a sua reverência para com o Episcopado na
soleníssima homenagem que noticiamos, dava entrada no Ministério da Justiça uma
petição da Sociedade de Medicina e Cirurgia, propondo a proibição do
proselitismo espírita.
Segundo informava os jornais, o diretor da Divisão de
Assistência aos psicopatas daquele Ministério opinou
favoravelmente à petição. Aguardamos com a mais viva ansiedade o pronunciamento
do Ex.mo Sr. Ministro da Justiça.
Como dissemos as palavras do Ex.mo Sr. Dr. Getúlio
Vargas ao Episcopado Nacional fazem esperar uma solução favorável a tal pedido.
Sem entrarmos no mérito direto da questão, sem
discutirmos a indiscutível nocividade social da propaganda espírita, devemos
fundar nossa expectativa no fato de ter S. Ex.a implicitamente em seu referido
discurso reconhecido que o Brasil é católico, ao Catolicismo deve as suas
melhores tradições e nele procura hoje as suas melhores esperanças.
Se a obra do Catolicismo é de tal modo benemérita,
como admitir-se, em um Estado que em suas leis repudiou o liberalismo venenoso
que nos intoxicava, que uma propaganda intencional e insidiosa venha tentar a
destruição completa desta obra?
* * *
Os jornais desta Capital trouxeram esta semana
notícias confusas sobre uma resolução do Episcopado Francês segundo a qual
teria sido autorizada novamente a leitura do jornal “Action Française”, leitura essa proibida para os católicos há
alguns anos atrás.
Sem pretendermos historiar novamente, nesta rápida
nota, aquela rumorosa e complexa questão, acentuemos apenas alguns pontos que
são bastante claros naquelas notícias: a) A Santa Sé condenou, sob Pio XI, os
erros da “Action Française”,
as obras de Daudet e de Maurras
e o órgão daquela corrente; b) ao que parece, aqueles dois escritores
retrataram por escrito seus erros, dirigindo a retratação à Santa Sé; esta,
absolvendo-os de sua rebeldia, manteve, entretanto, na íntegra, todas as
condenações fulminadas por Pio XI quanto às obras anteriores à retratação;
assim, pois, continua absolutamente proibida a leitura dos exemplares do jornal
“Action Française”
anteriores à retratação; como, porém, é de se supor que, depois da retratação,
aqueles escritores não reincidam em seus erros, não é proibida a leitura dos
jornais que, daqui por diante, eles publicarem.
Quando, porém, recebermos da Europa informações mais
detalhadas sobre esta importantíssima questão, transmiti-la-emos aos nossos
leitores.