Legionário,
N.° 357, 16 de julho de 1939
7 Dias em Revista
Como noticiamos na seção oportuna, o Governo Federal,
por meio do Ministério das Relações Exteriores, convidou a um grande banquete a
ser realizado no Itamaraty, os Padres Conciliares ora
reunidos no Rio de Janeiro.
Recusado por S. Ema o Cardeal Arcebispo do Rio de
Janeiro o convite do Itamaraty, o Ex.mo Sr.
Presidente da República escreveu pessoalmente uma carta a S. Ema o Sr. D.
Sebastião Leme fazendo-lhe diretamente um convite idêntico. À vista disso, o
convite foi aceito, devendo realizar-se no próximo dia 18 o grande banquete que
se revestirá certamente da maior solenidade.
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Toda a opinião católica aguarda com o máximo interesse
a realização daquela homenagem do nosso Governo ao Episcopado.
Efetivamente, o banquete oferece um ensejo magnífico
para que sejam de vez desautorizados os boatos que de quando em quando
ressurgem visando alarmar a população, insinuando a existência, atrás das leis
de nacionalização e de certas leis do ensino, de propósito muito diversos das
aspirações do nosso povo católico. Mais ainda: o banquete seria uma ocasião sem
igual para que o Governo anunciasse o revigoramento
de certos dispositivos da Constituição de l934, ali introduzidos a custo pelos
deputados católicos, e que a Constituição de l937 suprimiu. Entre eles, figura
o artigo referente às capelanias militares e ao serviço militar dos clérigos.
Assim, a homenagem do Governo ao Episcopado
transcenderia de muito a esfera de um significativo ato de cortesia, para se
transformar em uma oportuníssima proclamação de rumos
e de diretrizes.
A profunda Fé que nosso povo professa, bem como a
inegável argúcia de visão que se atribui ao Presidente da República, justificam
essa esperança.
* * *
O Ex.mo Sr. Presidente da República condecorou com a
Grã Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul o gen. Lazaro Cardenas, presidente do México.
* * *
Deploramos profundamente que tenha sido conferido pelo
governo italiano o Colar da SS. Annunziata a Ribbentrop, insigne perseguidor dos católicos alemães.
* * *
Lamentamos vivamente que a França promova com tanto
brilho os festejos do 150o aniversário da Revolução Francesa. Sem entrar em
digressões históricas para provar o caráter diabólico da Revolução, bastará
olhar para as ruínas que enchem o mundo contemporâneo para que alguém se
persuada da inoportunidade dessa comemoração.
É certo que elas têm alguma vantagem internacional
para a França, por servirem de ocasião para manifestações patrióticas no
momento crítico que atravessamos. No entanto, nem assim se pode justificar que
uma revolução que atentou contra os mais sagrados direitos da Santa Igreja de
Deus, uma revolução que foi anti-católica na sua
essência e assim se conservou até o fim, seja de tal maneira comemorada pelo
governo francês.
* * *
Isto, não obstante, achamos perfeitamente ridículos os
comentários que o ministro italiano Sr. Farinacci
publicou em um jornal fascista, contra o Congresso Eucarístico de Nice.
Entre outras coisas, diz aquele político que os
católicos franceses são quase todos judeus e maçons, pelo que insinua que a
Santa Sé não deveria permitir a realização daquele Congresso. Conclui o Sr. Farinacci afirmando que os católicos italianos devem
desviar suas simpatias dos católicos franceses para os da Espanha.
Não há motivo para que os católicos italianos amem
mais os católicos espanhóis do que os franceses. Todos são filhos da mesma Mãe,
a Igreja, e estão, portanto, integrados no Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Por que razão amar mais a uns do que a outros quando para isto só
existiriam razões políticas?
Aliás, os católicos franceses são por demais
valorosos, e os da Itália por demais zelosos e inteligentes, para que essa manobrinha do Sr. Farinacci surta
efeito.
* * *
A presença da atriz Josephine
Baker no Brasil levou um de nossos leitores a nos dar
uma informação curiosa. Diz ele ter lido em uma revista européia que aquela
atriz devendo efetuar bailados em um lugar da Europa Central, receberam os
católicos do lugar uma estrita proibição de comparecerem aos seus espetáculos.
E, na hora em que estes se realizavam, o Bispo da Diocese mandou tanger todos
os sinos, a fim de recordar aos fiéis a proibição diocesana.
Incontestavelmente, a notícia é digna de registro.