Legionário, N.° 355, 2 de julho de 1939

 

7 Dias em Revista

 

No dia 29 pp. a Santa Igreja comemorou o dia dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo — aquele o primeiro Papa, e este último o padroeiro de nosso Estado e cidade.

Em todas as Igrejas celebraram-se solenidades religiosas especiais. A Cúria Metropolitana, as repartições e instituições eclesiásticas cerraram suas portas.

Não tendo sido decretado feriado ou ponto facultativo, funcionaram normalmente o comércio e as repartições públicas.

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Foi causa, para nós, do mais autêntico júbilo, o fato de ter o Conselho Nacional do partido espanhol, conselho este no qual tem assento elementos ideológicos de matizes diversos, rejeitado um projeto de lei de cunho totalitário e anticatólico, referente à organização sindical.

Essa vitória foi devida aos votos dos elementos católicos e dos monarquistas, contrários aos remanescentes da antiga corrente falangista, a qual é de tendências manifestamente censuráveis.

A vitória foi tanto maior quanto à testa desta corrente falangista se encontra o Sr. Serrano Suñer, o mais influente dos Ministros de Estado da Espanha e cunhado do general Franco.

Não se desmente, assim, a esperança de que a Espanha continuará na gloriosíssima senda de seu destino histórico, que consiste em ser o arauto e o campeão da Igreja.

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O “Legionário” tem insistido repetidas vezes sobre o estreito nexo doutrinário existente entre o fascismo e o nazismo. A esta afirmação temos muitas vezes acrescentado, como prova, frases proferidas pelos próprios ditadores da Itália e da Alemanha. Hoje destacamos uma frase dirigida a 24 p.p. pelo Sr. Hitler a uma delegação de ex-combatentes italianos. Depois de falar das revoluções fascista e nazista, disse ele: “Estou convencido de que todos os ataques desse mundo se inutilizarão diante da indestrutível comunidade das duas nações e seus ideais revolucionários, e que o futuro pertence à Itália fascista e à Alemanha nacional-socialista”.

Assim, pois, há uma “comunidade” entre os ideais da revolução fascista e da revolução nazista. E note-se bem, quem o diz não é apenas o “Legionário” , é Hitler.

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Certo jornal desta Capital dá-nos a notícia, comentando em tom desolado, de que foi novamente adiada a macumba da qual participará Josephine Baker, macumba esta realizada com o cerimonial próprio, a ser irradiada pela Rádio Tupi.

É simplesmente deplorável que se dê tanto interesse a tais macumbas, e coisas análogas, como se elas fossem características de nosso povo.

Se alguém tivesse a audácia de dizer que o brasileiro se caracteriza pela superstição a mais baixa, pela lascívia a mais desabusada e pelo mais absoluto primitivismo cultural e artístico, haveria por este Brasil afora um vozerio imenso, aliás, perfeitissimamente justificável.

Mas quando alguém afirma que a macumba, na qual se manifesta exatamente a mais baixa superstição, aliada quase sempre à mais desabusada lascívia, e manifestada através de ritos cultural e artisticamente próprios a povos selvagens, é coisa característica do Brasil, os protestos são poucos.

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Esta incoerência é característica do espírito moderno. O que, entretanto é digno de nota nesta incoerência, é que ela se exerce sempre às expensas da Igreja. Nunca, ou muito e muito raramente se nota uma incoerência em que a Igreja seja acidentalmente beneficiada... e da qual esta última, aliás, essa não faria a menor questão, pois não precisa da incoerência de ninguém.

É uma destas incoerências que o ilustre escritor francês Pierre l'Ermite acentua em um dos últimos números de “La Croix”. Mostra ele que a França está cheia de monumentos a toda a espécie de ex-combatentes, pertencentes às mais variadas profissões ou classes sociais. Só um monumento até agora não foi erguido: ao padre ex-combatente. Só agora, 20 anos depois da guerra, e às portas de outra guerra, é que se cuida disso. E, no entanto, ninguém ignora que os sacerdotes foram de um heroísmo que primou entre quaisquer outras classes de ex-combatentes.

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Lembramos este fato, para pôr em relevo outro fato análogo que, aliás, já comentamos.

Todas as iniciativas leigas que visem o desbravamento do nosso sertão e o contato civilizador com os nossos índios,  são cercadas de um imenso interesse popular, aliás, muitas vezes perfeitamente legítimo. Assim, enchem-se as colunas dos jornais com amplo noticiário referente à expedição, e todos os feitos de bravura — que não são, aliás, poucos — são postos em relevo com justa ufania.

E, enquanto isto, quem se lembra de glorificar os pobres e abnegados missionários que, em um trabalho obscuro, dedicam a essa mesma obra, não apenas alguns meses, ou um ano, mas a vida inteira?

A tal ponto isto é verdade que os valorosos desbravadores da Bandeira Anhanguera proclamaram em alto e bom som os méritos dos missionários católicos. Mas ninguém fora deles teve o cuidado de acentuar esta nota do seu depoimento leal, através dos grandes meios modernos de publicidade.

Enquanto entre nós, todo o mundo enche a boca para falar em Nóbrega e Anchieta, muito pouca gente se interessa pelos missionários que fazem em nosso sertão, em nossos dias, o mesmo que Nóbrega e Anchieta fizeram.