Legionário, N.° 350, 28 de maio de 1939 

7 Dias em Revista

Aproximando-se agora o Concílio Nacional, começam a se delinear certas manobras de uma deslealdade vil, levadas a cabo por inimigos mais ou menos disfarçados da Igreja.

Uma delas é o boato de que, no próximo Concílio, será abolido o uso da batina para Sacerdotes.

As declarações a esse respeito feitas ao “Diário da Noite” pelo Ex.mo Rev.mo Vigário Capitular da Arquidiocese e pelo Rev.mo Sr. D. Paulo Pedrosa, Reitor do Ginásio São Bento, desfazem absolutamente essa manobra mostrando que tal boato não tem em seu favor nem a mais leve verossimilhança.

Quanto a nós, outra coisa não temos a dizer senão o que disse o Ex.mo Rev.mo Mons. João B. Martins Ladeira ao redator destas linhas: “não poderia jamais haver no Brasil um bom Padre ou um bom católico, que fosse contrário ao uso da batina”.

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Por ocasião do Conclave que elegeu o Papa Pio XII, gloriosamente reinante, mostramos como o então Cardeal Pacelli julgou preferível adiar de um dia a eleição do novo Pontífice, a permitir a violação do preceito que manda “guardar os domingos e dias de festa”.

Insistimos hoje, neste particular, pois que o espetáculo de dias como o 18 p.p. em que, enquanto a Igreja comemorava a Ascensão do Senhor, tudo funcionou normalmente, é para nós insuportável.

Estamos ou não estamos em um país católico? E, então, onde estão os chefes e patrões católicos que deveriam ter cerrado as portas de seus estabelecimentos?

É absolutamente necessário que os patrões católicos reflitam a este respeito, fazendo cessar esse deplorabilíssimo escândalo quanto antes.

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São irrepreensíveis e belíssimas as palavras com que o general Franco fez a oferta de sua espada a Deus, por ocasião das festas da vitória realizadas em Madrid. Fazendo a Deus a súplica de assisti-lo para que possa conduzir o povo espanhol à liberdade, acrescentou que esta deve ser “para glória de Deus e de sua Igreja”, acrescentando ser preciso “que todos os homens saibam que Jesus é o Cristo, filho de Deus vivo”.

Essas palavras têm uma lógica que os fatos hão de confirmar, nós o esperamos ardentemente.

Que essa espada invicta e gloriosa se desembainhe no momento oportuno contra aqueles que, na direita, tanto quanto na esquerda, negam que “Jesus Cristo é o filho de Deus Vivo”.

São esses nossos mais fervorosos rogos.

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Os deputados do Partido Socialista Francês, do Partido Radical e do Partido Radical Socialista acabam de apresentar uma proposta de lei tendente a revogar as disposições legislativas que atingem, na França, as Congregações Religiosas. Por esta proposta, as Congregações gozarão de “personalidade civil”, poderão receber contribuições e adquirir sem autorização, a título gratuito ou oneroso, bens móveis ou imóveis.

Os partidos que apresentaram a proposta são os mesmos que, em começo do século, mais se encarniçaram na luta anticlerical. A eles se devem exatamente as medidas iníquas e odiosas que agora querem revogar.

Mais uma vez os políticos querem servir-se da Igreja para a obtenção de seus fins puramente humanos, como seja no caso o intuito de fortalecer a influência católica para combater o nazismo. Mais uma vez também a Igreja eterna não lhes servirá de instrumento cego. Poderão ser revogadas, a pedido dos partidos da esquerda, as leis anticlericais existentes na França; não será esse, porém, motivo para que a Igreja modifique sua posição doutrinária diante do socialismo e do comunismo.

A atitude dos partidos esquerdistas franceses, que agora se refugiam à sombra da Igreja, constitui também uma advertência ao Sr. Hitler: Canossa se tem repetido muitas vezes! Hoje é a esquerda, tão insolente há 20 anos atrás, que chega à Canossa; daqui a 20 anos, onde estará o totalitarismo da direita?

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O “Legionário” tem assinalado várias vezes a afinidade ideológica existente entre o Nazismo e o Fascismo. Mais do que um acordo apenas político ou militar de caráter temporário, há entre os dois regimes uma semelhança de concepções do mundo que deve ser acentuada pela imprensa católica. A recente assinatura da aliança ítalo-germânica confirma essa afinidade, como se pode ler nos trechos seguintes extraídos do texto do tratado tal como foi transmitido pela agência oficiosa alemã T.O. (Trans-Ocean).

“O Chanceler do Reich e S. M. o rei da Itália acreditam que chegou o momento para se confirmar, com este solene ato, as estreitas relações de amizade e de comunhão que existem entre a Alemanha Nacional Socialista e a Itália Fascista”.

“Intimamente ligadas por afinidades essenciais de suas ideologias é bem assim a ampla solidariedade de seus interesses, estão os povos alemão e italiano decididos a batalhar também para o futuro de comum acordo...” etc.

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Declarações feitas após a assinatura do tratado trazem novos argumentos em favor da identidade doutrinária dos regimes. Disse o conde Ciano:

“O pacto agora firmado é a consagração de duas políticas e de dois regimes da Alemanha Nacional Socialista e da Itália Fascista”.

E o Sr. von Ribbentrop:

“Este acontecimento histórico é a conclusão da evolução das duas revoluções, fascista e nazista, e torna mais estreitos ainda os interesses dos dois povos”.

Finalmente uma declaração feita em conjunto pelos dois ministros:

“As idênticas finalidades do Nacional Socialismo e do Fascismo deviam fatalmente associar os dois povos, que possuem comunidade de interesses, e tornar ainda mais profunda a sua solidariedade”.

Como se vê, é a tese do “Legionário” confirmada por lábios bem insuspeitos.