Legionário, N.º 349, 21 de maio de 1939

7 DIAS EM REVISTA

Publicamos, em outro local desta folha, o comunicado da Cúria Arquidiocesana do Rio de Janeiro em que esta participa a convocação do próximo Concílio dos Bispos do Brasil. Não é necessário insistir sobre o alcance excepcional dessa reunião em que os Bispos, colocados pelo Espírito Santo na direção dos interesses espirituais do nosso povo, vão deliberar a respeito dos assuntos de maior importância da vida religiosa no Brasil.

Estamos nas vésperas do Concilio, que se reunirá dentro de menos de 60 dias. Para os membros da Igreja discente, isto é, o laicato, um duplo dever se impõe. De um lado, o da prece, para que o Divino Espírito Santo favoreça com a abundância suas luzes o Episcopado Brasileiro durante as sessões. De outro lado, o da prece ainda para que todo o laicato aproveite a ocasião para se afervorar ainda mais no amor à Santa Igreja de Deus, recebendo com modelar acatamento todas as diretrizes que o Concílio, na sua sabedoria, traçar. A esse último dever, cumpre acrescentar o de fazermos um ato de firme propósito no sentido de cooperarmos energicamente com a graça  divina para que a virtude da obediência seja em nós efetiva e minuciosa, não se restringindo, pois, a uma veleidade sem frutos e sem mérito.

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O Ex.mo Sr. Dr. Adhemar de Barros, Interventor Federal, na quinta-feira p.p., concedeu uma verba especial de 200.000$000 para a construção da Catedral de S. Paulo.

Supérfluo é justificar esse ato, imperiosamente reclamado pelos interesses não apenas espirituais mas sociais de nosso povo. Por um lado, a Catedral de S. Paulo deve constituir uma prova de que nosso povo, tão empreendedor e tão amigo da magnificência quando se trata de levantar arranha-céus e monumentos de toda a ordem, não é menos cioso do esplendor do culto do que do fausto e conforto da vida  material. Por outro lado, pela magnificência de suas proporções e raro valor artístico de suas linhas, a Catedral de São Paulo constituirá um monumento digno de destacar nossa cidade como das mais notáveis da América, embelezando singularmente nosso centro urbano e exercendo sobre a população uma preciosa ação educativa de verdadeiro senso artístico.

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Na quinta-feira e na sexta-feira santas p.p., tivemos o prazer de elogiar altamente um importante grupo de casas comerciais desta cidade que cerraram suas portas em observância à santidade daqueles dias, no que destacaram felizmente de inúmeras outras casas comerciais de nossa praça.

No dia 18 p.p., as mesmas casas baixaram novo comunicado em que enunciavam a suspensão de suas atividades em observância do dia santo de guarda, estabelecido pela Igreja para comemorar a Ascensão do Senhor.

Este belo ato de coerência merece francos elogios. Um patrão católico deve absolutamente observar os feriados estabelecidos pela Igreja. A obrigação que ele tem é, a este respeito, tão grave que, se ele fizer funcionar seu estabelecimento, terá tantos pecados mortais quantos forem os empregados que, sem justa, causa tiverem sido forçados a trabalhar.

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Parecem não ter desanimado os defensores do exame pré-nupcial obrigatório. Por isto, segundo noticiaram largamente certos jornais “neutros”, realizaram-se a 16 p.p., no Rio de Janeiro as comemorações do “Dia da noiva” destinado a propagar a convicção de que o exame pré-nupcial obrigatório é condição indispensável da felicidade da família.

Não nos cabe, nas reduzidas proporções deste tópico, mostrar a razão pela qual a Igreja, sem condenar o exame pré-nupcial facultativo, é contraria à obrigatoriedade deste. É curioso notar, entretanto, a divulgação que a imprensa dita neutra costuma dar a esses pequenos movimentos pseudo científicos, enquanto lhe falta quase sempre o espaço necessário para noticiar como de direito as maiores e mais importantes manifestações católicas...

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S. Ema o Cardeal-Arcebispo de Florença acaba de condenar uma obra póstuma de D'Annunzio, intitulada “Solus ad Solan” considerada ofensiva à moral e sobretudo à santidade do casamento.

Como se sabe, aquele conhecido poeta italiano deixou escritos inéditos, publicados depois de sua morte, entre os quais a obra acima mencionada. Estes escritos, bem como a totalidade das demais obras de D'Annunzio, foram intensamente propagados pela Itália, e reeditados em larga escala, depois da morte do poeta, por iniciativa do governo fascista.

Entretanto, as obras de D'Annunzio foram condenadas severamente pela Santa Sé, bem como proibida sua leitura, por conterem doutrina diametralmente oposta à Fé e à moral ensinadas pela Igreja.

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O “Legionário” já tem declarado mil vezes que, se vê com desprazer a aliança da Itália à Alemanha e ao Japão, inspira-se exclusivamente na convicção de que essa aliança constitui um meio de difusão do paganismo totalitário, e nunca por qualquer animosidade contra os povos daqueles três grandes e gloriosos países.

Hoje, temos, infelizmente, mais um indicio da atividade doutrinária e funesta a que tal aliança serve, aliás mais de uma vez criticada pelo “Osservatore Romano”. Esse indicio é a fundação, na  Alemanha, de uma revista chamada “Roma-Berlim-Tokio”,  que se destina a intensificar as relações culturais entre os três povos.