Aprovamos sem restrições a resolução do Conselho de
Imigração e Colonização, que eliminou, a 22 p.p., qualquer exigência de limite
numérico para a entrada de portugueses no Brasil.
Essa medida veio completar a deliberação anterior
de nossas autoridades, de permitir aos portugueses - à diferença do que
acontece com estrangeiros de outras procedências - que constituam núcleos
coloniais em nosso país.
São tão evidentes as vantagens dessa orientação, para
a conservação e revigoramento das tradições
brasileiras, que dispensam explicação.
Por outro lado, os católicos devem estar tão
empenhados na conservação de nossas tradições, que não podem deixar de encarar
com simpatia essa resolução.
* * *
A nota mais curiosa do noticiário político da
semana passada foi fornecida, sem dúvida, pelos rumores insistentes sobre uma
aproximação teuto-russa.
À primeira vista, essa versão tem contra si fortes
probabilidades. Dada a campanha espetacular que o nazismo e o comunismo dirigem
um contra o outro, seria deveras surpreendente que ambos se reconciliassem um com
o outro...
* * *
Os observadores menos superficiais, entretanto, não
consideram tão inverossímil essa hipótese.
Em primeiro lugar, nenhuma pessoa medianamente culta
poderá negar a íntima afinidade ideológica existente entre o totalitarismo e o
comunismo.
Ambos se distinguem
por seus princípios estritamente igualitários. Se, na Rússia, o bolchevismo procurou nivelar todas as classes sociais
pela força, Hitler procura fazê-lo
pela astúcia. Depois de ter afastado peremptoriamente qualquer possibilidade de
restauração monárquica, Hitler prossegue na sua política niveladora, chegando a
proibir os funcionários públicos a freqüentarem os círculos aristocráticos por
ser o espírito nazista avesso às diferenças de classe. Pequeno indício, entre
mil outros, da proletarização da vida social na
Alemanha, que é a grande característica da ação social do nazismo.
* * *
Quanto às concepções políticas, são comuns a ambos
os regimes, e consistem no surradíssimo mito da
soberania popular de Rousseau.
Hitler afirma que, se exerce o governo, deve-o
única e exclusivamente à delegação do verdadeiro soberano, que é o povo. Eleito
pelo povo, é só do povo que lhe vem todo o poder. E a tal ponto não é ele senão
um preposto do povo, que, periodicamente, ele convoca
plebiscitos para pedir a aprovação popular. Se a aprovação não lhe for dada,
deixará ele o poder...
O regime nazista, se é antiliberal,
não é antidemocrático. Pelo contrário, Hitler sustentou em
recente discurso que a democracia alemã é muito mais autêntica que a inglesa.
(...)
* * *
Restaria a questão religiosa, que parece separar
ambos os regimes. O nazismo tem deuses, e o comunismo é ateu.
Entre o ateísmo e o panteísmo, a distância será tão
grande? Não demonstra a História que as épocas de maior incredulidade são ao
mesmo tempo as de maior superstição?
Aliás, do que vale, como barreira ao ateísmo
comunista (que tem tonalidades fortemente panteísta) o panteísmo nazista?
* * *
Quanto à colaboração efetiva de direitas e
esquerdas no cenário da política internacional, colaboração que é muito mais do
que uma convergência doutrinária, uma verdadeira “entente”,
o “Legionário” se tem estendido tanto a este respeito que não deve senão
relembrar alguns fatos.
Quando Hitler entrou na Áustria, os comunistas franceses paralisaram as reações,
provocando a queda do gabinete por questiúnculas de política interna.
Enquanto isto, o México comunista rompe
carinhosamente o cerco econômico em que está a Alemanha, para lhe mandar petróleo e outros artigos de primeira
necessidade.
Por outro lado, Hitler se recusa formalmente a
apoiar um movimento ucraniano de caráter
anticomunista que esteve a pique de explodir. E assim por diante, os indícios
se somam uns aos outros, constituindo um conjunto impressionante.
* * *
Nesta semana, é da Rússia que vieram as principais
indicações sobre o assunto.
Segundo tudo indica, a Rússia, conservando embora
seu caráter comunista, está assumindo ares nacionalistas que lhe dão muita
analogia com o nazismo.
Nesta ordem de idéias, um fato expressivo é que a
fórmula de juramento do exército russo foi recentemente modificada.
Antigamente, o juramento era de defender a causa do proletariado. Há pouco,
passou a ser de defender a Rússia. (...)
* * *
Que deduzir de toda essa história?
(...) A Alemanha é nacional-socialista.
A Rússia está ficando nacionalista sem deixar de ser comunista.
Pesem-se bem as palavras: entre um “nacionalismo
socialista” e um “nacionalismo comunista”, que diferença há?