Legionário, N.º 346, 30 de abril de 1939

 

7 DIAS EM REVISTA

Não há muito tempo, a propaganda soviética, que estende seus tentáculos pelo mundo inteiro, fazia constar que o exército e a marinha russa não tinham rival no mundo, pela eficiência de seu aparelhamento bélico, pela perfeição de suas concepções estratégicas e pelo número incontável de homens de que dispunha.

Uma propaganda jornalística, habilmente desenvolvida, concorreu para reforçar essa convicção por meio de fotografias de imensas paradas realizadas em Moscou etc.

Para a civilização, diversos inconvenientes decorriam dessas notícias, que só tinham por fruto a consolidação do prestígio mundial do regime bolchevista.

Graças a Deus, porém, os acontecimentos diplomático-militares desenrolados na Europa de um ano para cá provaram à saciedade que a Rússia, inteiramente desprestigiada no campo da política internacional, não dispõe, para apoio de sua orientação diplomática, dos recursos militares de que se jactava sua falaciosa propaganda.

Daí o recuo internacional da Rússia, e o declínio da influência soviética no mundo inteiro.

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Essa situação tão favorável para a civilização, transformar-se-á? Diversos indícios fazem supor que sim, uma vez que a Rússia resolveu remodelar largamente seu aparelhamento bélico. E um dos mais expressivos dentre esses indícios de intenso e vigoroso rearmamento é que a marinha russa se enriqueceu agora com o cruzador mais veloz do mundo inteiro.

Nossos leitores não apreenderão sem surpresa, porém, uma circunstância realmente curiosa. É que esse cruzador, cujo nome é “Taschkent”, foi construído por ordem do governo fascista nos estaleiros de Livorno, e levado a Odessa por uma guarnição de marinheiros fascistas. Lá, o navio foi entregue às autoridades russas, regressando a tripulação italiana para a sua pátria a bordo do navio “Orlando”. É o que publicou, na imprensa desta capital, a agência T.O., inteiramente insuspeita para o fascismo...

É em um estaleiro fascista, pois, que a Rússia encontra recursos para aumentar a eficiência de sua ação bolchevista no mundo.

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Desta notícia merece ser tirada, entre outras, entretanto, uma conclusão fortemente anti-soviética. Se amanhã a propaganda soviética começar a se jactar novamente de possuir navios de guerra de grande valor etc., ninguém suponha, com isto, que a administração bolchevista dá boas provas de sua eficácia industrial.

O que ficará patente é, pelo contrário, que os estaleiros russos se sentiram tão ineficazes para completar os recursos da marinha de guerra russa, que foram obrigados a ir bater às portas dos estaleiros estrangeiros.

A ineficácia técnica e administrativa do regime bolchevista fica, com isto, provada. E os leitores ficam com direito de imaginar a inocuidade da marinha russa, se as potências estrangeiras não concorressem para equipá-la.

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O Sr. Dr. Nelson Noronha Gustavo, juiz criminal no vizinho município de Santos, acaba de proferir uma decisão na qual afirma que a infidelidade conjugal não constitui crime para o homem. S. Ex.a reforça essa deplorabilíssima tese com um argumento igualmente: a quase totalidade dos maridos, segundo S. Ex.a, viola o dever da fidelidade conjugal, pelo que o dispositivo legal considerando crime tal fato já não seria exeqüível.

É curioso aproximar essa argumentação da de Karl Marx. Este, quando pregou a destruição da família no mundo inteiro, afirmou que todos os maridos não cumprem seus deveres, e que, portanto, as mulheres não têm também a obrigação de os cumprir. Assim, a infidelidade, sendo lícita para ambas as partes, melhor seria destruir a família.

Não parece compatível com a índole da forma do Estado criado a 10 de novembro que uma alta autoridade judiciária sustente suas decisões com uma argumentação de tal estilo.

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Centenas de marinheiros da divisão naval norte-americana, que ora se encontra no Rio de Janeiro, assistiram incorporados à Missa na Candelária, com um visível respeito e recolhimento.

É assim que conseguirão os Estados Unidos a simpatia dos brasileiros, e não com congressos do Exército da Salvação e outros desse gênero, que não têm outro fim senão implantar no Brasil católico os germes protestantes, destruidor de toda brasilidade.

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O Sr. Ministro da Guerra, em gesto de compreensão dos interesses vitais do Brasil, acaba de conceder todas as facilidades que forem necessárias para a realização da Páscoa dos Militares.

Os atos como esse, do Sr. Ministro da Guerra, a aparelhar nosso Exército a ser o paladino das tradições brasileiras e vanguardeiro do fiel cumprimento do dever, que primordialmente exige o cumprimento dos deveres para com Deus e a Igreja Católica.

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O general Franco restituiu aos ex-soberanos espanhóis todos os bens pessoais do ex-rei Afonso XIII e de sua família, ao contrário do que fez o Sr. Hitler com os Habsburgos.

Enquanto o Sr. Hitler procede de um modo comunista com a casa real austríaca, o general Franco, mais uma vez, tem uma atitude e dá esperanças de que edificará a Espanha católica, tão desejada pelos espanhóis e por todo o mundo.