Legionário, N.º 342, 2 de abril de 1939

7 DIAS EM REVISTA

O esmagamento final do comunismo na Espanha constitui um fato auspicioso, que não pode deixar de alegrar os corações dos católicos.

Mais uma vez a Santa Sé tem manifestado sua condenação aos católicos que se têm julgado autorizados a assumir uma posição favorável ao tão tristemente famoso governo de Barcelona, ou a ostentar uma simples atitude de indiferença entre as duas facções em luta. Ainda recentemente, o “Osservatore Romano” infligiu uma censura expressa e severa ao jornal francês “La Croix”, porque este tomou, em certa circunstância, a posição de um expectador indiferente. Ao que “La Croix” respondeu transcrevendo na íntegra a censura, e a ela se submetendo sem reservas. Como complemento desta atitude, o “Osservatore Romano” exprimiu claramente seu gáudio pela derrota final do comunismo na Espanha.

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No quadro radioso deste dia de vitória, não falta quem aponte sombras de apreensões futuras. Quais as verdadeiras intenções de Franco? Exigirá ele agora a retirada dos alemães, italianos e mouros? Fiel à trajetória inicial da revolução, lutará ele contra o nazismo descristianizador, como lutou contra a descristianização comunista? Ou quererá fincar na Espanha a cruz suástica, que já projeta sobre a Itália sua sombra sinistra?

Não podemos jurar coisa nenhuma. O certo é que esta possibilidade é uma simples possibilidade. Enquanto a ação maléfica do comunismo é uma certeza. Entre uma possibilidade - uma probabilidade, digamos - e uma certeza total, quem pode vacilar?

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Se aplaudimos os valentes vencedores, não aplaudimos os mercenários que com eles lutaram ombro a ombro, na mesma trincheira, mas por ideais profundamente antagônicos. Realmente, se houve mártires de Cristo nas fileiras nacionalistas, ali houve também mártires do moderno Anticristo, cujos heróis não podemos aplaudir.

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Nesta semana que entra, especialmente voltada à piedade e à meditação, a compaixão tem um lugar todo especial.

Desça, pois, sobre todos os que tombaram, bons e maus, vermelhos, nazistas ou requetés heróicos, a misericórdia de Deus, para que alivie quanto antes as almas que partiram deste mundo em estado de graça, pela perseverança ou pela penitência final.

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A Rádio Educadora Paulista cede o seu microfone para uma propaganda espírita, em completa desarmonia com as convicções católicas de nosso povo. Ora, a mais alta e mais grave das finalidades do rádio é a educação dos seus ouvintes. Sendo a maioria dos ouvintes católicos, as irradiações espíritas são para ela absolutamente deseducativas e, por isto, inúteis e nocivas. Daí a obrigação em que estão os católicos de não apoiar tal estação.

Não é esta a primeira vez que somos obrigados a chamar a atenção de nossos leitores para essas campanhas anticatólicas, promovidas por algumas de nossas estações de rádio, que põem a serviço do mal esse potente meio de difusão.

E, por ser o rádio justamente um dos maiores agentes de veiculação de idéias, recomendamos sempre aos nossos leitores darem seu apoio decidido e eficaz a todos os esforços que visem dar a São Paulo uma estação de rádio genuinamente católica, livre de quaisquer outros compromissos, a fim de podermos opor ao mal veiculado pelas outras estações, o decidido desmentido que se faz mister, assim como propagar a doutrina católica em todos os lares paulistas.

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O Sr. François Le Grix, na “Revue Hebdomadaire”, de fevereiro deste ano, espanta-se com os testemunhos de catolicidade dos políticos franceses, quando da morte de S. S. o Papa Pio XI.

Diz o Sr. Le Grix: “Os nossos homens políticos mais atolados no laicismo o louvam com palavras piedosas, livres de todas as convenções; e o sr. Jeanneney, que não poderá, talvez, entrar no Eliseu por causa do seu ateísmo, pronuncia, a esse propósito, o nome de Deus diante do nosso Senado. Não se dirá que, ao lado do catolicismo, forma-se aos nossos olhos, uma extra catolicidade?”

O Sr. Le Grix percebeu perfeitamente a tática dos homens políticos de hoje, formando ao lado da Igreja uma extra catolicidade, toda feita de hipocrisia e perfídia, que não trepida em exaltar o catolicismo para depois, mais facilmente, apunhalarem pelas costas a Igreja, graças à ingenuidade de nossos católicos, que ficam embasbacados com os seus discursos sonoros e vazios de sentido.

Pouco antes de falecer, o Santo Padre Pio XI desmascarou essa manobra, lembrando que vivemos em um tempo em que o beijo hipócrita de Judas tem sido freqüentemente usado como arma de combate à Igreja.

É preciso que os católicos ponham de lado o hábito timorato, e deixem de elevar até às nuvens qualquer palavra de sentido mais ou menos católico de certos políticos, supondo que com isso fizeram um grande favor à Igreja. Se um homem de Estado é católico, não faz mais que o seu dever. Quanto à Igreja, não recebe dele, com isso, nenhuma esmola. Pelo contrário, é Ela quem lhe faz o favor inestimável de o ter por filho.