Legionário, N.º 341, 26 de março de 1939

 

7 DIAS EM REVISTA

Durante a discussão do projeto de concessão de plenos poderes ao governo do Sr. Daladier, o Sr. Pierre Flandin, conhecido líder da direita e ex-chefe de governo, declarou que votava contra o projeto, pois forças secretas agiam em toda a Europa com o único fito de evitar a guerra a todo transe. Tais forças podem evitar que as potências antitotalitárias declarem a guerra para se opor ao imperialismo nazista. O que, porém, elas não têm conseguido é paralisar o Sr. Hitler. Em última análise, pois, elas só paralisam os adversários do Sr. Hitler - prestam a este um inestimável auxílio. Essa colaboração de forças secretas com o Sr. Hitler, que aparenta persegui-las, é um indício de que a luta entre direitas e esquerdas não é senão um imenso “bluff” destinado a ocultar a ofensiva de umas e outras contra a Igreja.

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O arcebispo protestante de Canterbury, falando na Câmara dos Lordes, fez um apelo a S. S. o Papa, pedindo-lhe que liderasse uma campanha mundial, com a participação de todos os países, destinada a levar a paz na Europa.

Todo o mundo sabe quanto são virulentos e velhos os preconceitos da igreja anglicana contra o catolicismo, e por isso mesmo, esse pedido do arcebispo de Caterbury é mais um atestado do prestígio que goza o Papado no mundo moderno, a ponto de pastores anglicanos, apesar de todo seu ódio, reconhecer que só a palavra do Romano Pontífice é capaz de trazer a paz sobre a terra, porque só a Igreja Católica tem, para tanto, suficiente autoridade moral no campo internacional.

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Cada novo país assaltado pelo Sr. Hitler e seus sequazes é imediatamente colocado debaixo da legislação pagã do nacional-socialismo. Anexação e paganização são termos que se eqüivalem.

A Tchecoslováquia não podia deixar de seguir a regra. Nem bem foi ocupada, e já o general von Braushitoch, comandante-chefe do exército alemão, introduziu o direito penal alemão.

Mais um país, dessa forma, é levado pelo Sr. Hitler a sofrer as agruras de uma legislação pagã, que irá arrancar de seus filhos a fé católica, para jogá-lo novamente na barbárie de que o retirou o catolicismo.

O Sr. Hitler, por outro lado, mais uma vez mostrou que seu único fito é perseguir a Igreja Católica, fazendo com que a perseguição se inicie imediatamente depois dos seus assaltos.

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Um diário desta capital transcreve um artigo interessante do Sr. N. P. Macdonald sobre as atividades dos governos fascista e nazista na América do Sul, aparecido na revista inglesa “The Fortuightly”.

Diz o autor que os países que mais sofrem a propaganda são o Brasil e a Argentina. No Brasil, o governo toma medidas sérias para reprimir essas atividades, mas, por outro lado, favorece por meio de outras medidas o alastramento dessas campanhas totalitárias em nosso país.

Assim, diz o articulista, ao lado de leis visando exterminar as atividades da Polícia Secreta Alemã em nosso país, as relações comerciais entre ele e a Alemanha crescem cada vez mais, a ponto de terem aumentado de 117 bilhões de marcos as importações para o Brasil e de 100 milhões de marcos as exportações, tudo isso num período de 4 anos. Além disso, várias concessões têm sido feitas a indústrias alemãs.

Com a Itália, dá-se o mesmo. A repressão das atividades políticas não obstou a que a expansão comercial crescesse a ponto de ser modificado o acordo comercial ítalo-brasileiro de 1935, que não satisfez os italianos, exclusivamente para que as exportações brasileiras para a Itália fossem cobertas totalmente por exportações italianas para o Brasil.

Termina o articulista chamando a atenção de seu governo para as atividades do eixo Roma-Berlim na América do Sul, que ameaçam continuamente o prestígio inglês.

Essa conclusão, aliás, não deixa de ser de uma ridícula impertinência. O Brasil é, então, um mero campo de luta entre as potências estrangeiras?

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Continua a resistência de Madri. Muita gente romântica acha isso lindo. Entretanto, esse sacrifício inútil de inúmeras vidas a uma causa perdida, reverte em grave crime para os comunistas animadores da resistência madrilenha.

Muita gente julga, infundadamente aliás, que é cruel o general Franco, porque bombardeia Madri. E tem a cegueira de não ver o crime que praticam os animadores e instigadores dessa louca e estéril resistência.