Legionário, n.º 339, 12 de março de 1939

7 DIAS EM REVISTA

Plinio Corrêa de Oliveira

Mons. Rosalvo da Costa Rego, Vigário-Geral do Rio de Janeiro, recebeu de S. Emcia. Revma. o Sr. Cardeal D. Sebastião Leme o seguinte telegrama:

"Apenas eleito, antes mesmo da cerimônia de adoração dos Cardeais, S. S. o Papa Pio XII disse textualmente:

"Para o Brasil, do qual conservarei duradoura lembrança, uma bênção especial e grandíssima".

"Ao prostrar-me aos seus pés, na cerimônia de adoração, S. S., osculando-me, continuou:

"Desde o momento em que tive a fortuna de conhecer o Brasil, incomparável pela beleza natural e espiritual, ficou definitivamente gravada em meu coração a sua pátria, para a qual renovo uma grande bênção apostólica".

Como se vê, Sua Santidade o Papa Pio XII aproveitou uma circunstância particularmente solene, para reafirmar a grande estima que nutre por nosso País. Essa estima é produzida pela grande esperança que o Brasil desperta no mundo católico, e a nós nos cabe a tarefa de orar e trabalhar cada vez mais para edificarmos um grande Brasil católico, além de não desmerecermos essa afeição particular de Sua Santidade para conosco, que é um índice da nossa maravilhosa vocação histórica e sobrenatural.

O júbilo universal do dia de hoje, que assinala a ascensão de um grande e santo Pontífice ao Trono de São Pedro, não pode, infelizmente, fazer esquecer o luto amargo da data de ontem, em que se comemorou o primeiro aniversário da conquista da Áustria pelos nazistas.

Esse crime monstruoso, certamente um dos maiores de nosso século, determinou o esmagamento brutal de uma nação de gloriosíssimas tradições históricas, de uma alta cultura e de uma personalidade muito marcada, pelo tacão das botas nazistas.

Há um ano que esse crime foi perpetrado com os aplausos do Sr. Mussolini e a indiferença vergonhosa da Inglaterra e da França.

Entretanto, esses 365 dias que decorreram não diminuíram nem por leve a dor dos verdadeiros católicos, que lamentam hoje aquele delito com uma amargura idêntica à que sentiram há um ano atrás.

Infelizmente sobram motivos para essa dor. O crime praticado contra a Áustria foi planejado diretamente para atingir a Santa Igreja de Deus.

Um ano fez ontem que a Áustria, cabeça do antigo e Sacro Império Romano Alemão, sofre a maior perseguição religiosa da História. Para comemorar sinistramente esse lúgubre aniversário, o governo nazista baixou um recente decreto.

A Áustria defendia cuidadosamente a fé de suas crianças, impedindo que pais que abjurassem sua antiga religião pudessem pedir nas escolas públicas que sua nova religião fosse ensinada a seus filhos.

O Sr. Hitler, nos menores detalhes, como bom perseguidor do catolicismo, procura combater a Igreja Católica. A fim de favorecer a abjuração do catolicismo nas famílias austríacas, ele revogou essa lei, substituindo-a por outra, que dá inteira liberdade aos pais de coagirem os filhos a aceitar também a sua nova religião.

E, depois disso tudo, ainda há quem diga que na Alemanha não existe perseguição religiosa, ou que o Sr. Hitler não participa diretamente dessa campanha que, dizem, é feita à sua revelia, exclusivamente pelos seus colaboradores. É o caso de se perguntar: quem é o "Führer"?

Não adianta, porém, que nos confinemos numa dor estéril: "opportet semper orare", orar na aflição como na alegria, porque é só de Deus que nos vem a salvação.

Por isto, o LEGIONÁRIO se fez representar na Missa que a colônia austríaca fez celebrar ontem na Basílica de São Bento, pedindo que a misericórdia de Deus baixe sobre a gloriosa Áustria e o grande Schuschnigg, que o mundo hodierno parece haver esquecido na mão de seus algozes.

O regime de exagerada limitação de liberdades individuais que o governo nazista inaugurou na Alemanha impede que o mundo conheça realmente a oposição que nela existe contra o Sr. Hitler.

Por meio de eleições fabricadas por especialistas e realizada sob as vistas da "Gestapo", consegue o "führer" alemão dar uma aparência de adesão dos países por ele assaltados e do povo alemão a ser governo.

Mas, naturalmente, a Áustria, em particular, não pode esquecer a liberdade que lhe foi tirada, assim como Dollfuss e Schuschnigg, seus heróis e verdadeiros defensores de sua soberania.

Um eco bastante significativo desse reconhecimento do povo austríaco para com os seus mais altos valores católicos e patrióticos é a Missa que ontem a colônia austríaca, aqui radicada, fez celebrar na Igreja de São Bento, por alma dos que deram a sua vida pela independência da pátria.

Na Áustria, o Sr. Hitler impede, à força de campos de concentração, essas provas de reconhecimento do povo austríaco para com seus verdadeiros chefes, mas cada austríaco sabe perfeitamente quais são seus defensores e não é a "Gestapo" que conseguirá obrigar esse glorioso povo a aceitar conscientemente a ditadura conquistadora.