Legionário, N.º 338, 5 de março de 1939

 

7 DIAS EM REVISTA

O “Legionário”, que tantas vezes reclamou o reconhecimento do governo de Burgos pelo Brasil, se rejubila pelo fato de, afinal, tal reconhecimento ter sido feito.

O governo comunista já não era, ultimamente, senão um agrupamento de fantasmas revolucionários, aos quais somente uma certa politicagem subversiva e capciosa poderia emprestar as aparências de um governo legalmente constituído. Impunha-se absolutamente a necessidade de uma ruptura do Brasil com tal gente.

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Foi notável o senso da realidade que o Sr. Getúlio Vargas demonstrou quando fez abortar os famosos projetos de lei, recentemente discutidos pela imprensa, a respeito do divórcio, do imposto para os celibatários e do exame pré-nupcial. Tais projetos - inclusive o que se referia aos celibatários - eram clara e nitidamente contrários à doutrina católica. Transformando-os em lei, o Governo se colocaria em posição hostil aos católicos, isto é, ao Brasil. Ora, por mais sólidas que possam parecer certas combinações políticas de gabinete e de quartel, o Sr. Getúlio Vargas, que conhece melhor do que ninguém a verdadeira arte política, bem sabe a precariedade de condições em que se coloca um governo que entra em colisão com 99% da população. Por isto, com aquela altíssima finura diplomática que é a grande característica de sua personalidade, soube ele evitar o escolho, e pôr de lado, decididamente, aqueles inábeis e miopíssimos projetos de lei.

Isto não obstante, certa imprensa não desanima. Ainda há dias, o “Correio Paulistano” publicou uma “Crônica da Metrópole” a favor do exame pré-nupcial. E essa crônica não se limitou a defender o exame pré-nupcial facultativo, que a Igreja não condena, mas pleiteou o exame pré-nupcial obrigatório.

Indubitavelmente, certos amigos do Sr. Getúlio Vargas lhe causam mais embaraços do que seus mais decididos inimigos...

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Infelizmente, não é este o único desatino que temos a lamentar. Pior do que isso, fez o “Diário da Noite”, publicando as “profecias” que a alma do Barão do Rio Branco teria feito sobre o novo Papa, seu nome, duração de seu pontificado etc. O Papa seria o Cardeal Piazza, com o nome, se não nos falta a memória, de Gregório XVI.

Parece incrível que um jornal publicado em um país católico como o Brasil dê tão grande destaque a um embuste dessa natureza, quando, não raramente, em suas colunas, falta espaço para a publicação de matéria religiosa da mais autêntica e transcendental importância.

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Não é só em São Paulo que o Carnaval fracassou lamentavelmente. No Rio de Janeiro, seu declínio é tão manifesto, e tão grande o desinteresse do comércio, que o presidente de um de seus maiores clubes carnavalescos, os Fenianos, fez significativas declarações ao “Diário de S. Paulo”, que as resumiu no seguinte telegrama:

“O presidente do Congresso dos Fenianos, o clube carnavalesco vencedor do concurso de préstitos deste ano, declarou à reportagem que, em face das dificuldades que lhe são criadas, o carnaval carioca parece mesmo fadado a declinar sensivelmente. Para os grandes clubes, então essas dificuldades sobem de ponto, representadas pelos impostos, multas e outras taxas. A subvenção oficial é de 30:000$ e, só este ano, o préstito ficou em 80:000$000.

“O Sr. Manoel da Cunha Júnior, presidente dos Fenianos, também fez declarações pessimistas a respeito do futuro do Carnaval, dizendo que as dificuldades se apresentam não só em relação ao poder público, mas também ao comércio que, de ano para ano, reduz o seu auxílio aos clubes. Os 30:000$ de subvenção desaparecem todos, revertendo aos cofres públicos em impostos, licenças e outras taxas. Assim, tudo parece indicar que o tradicional carnaval carioca desaparecerá mesmo.

“Seja como for - concluiu o entrevistado - este foi o último carnaval em que trabalhei. Encerro aqui os meus 25 anos de atividades carnavalescas, porque reconheço que é impossível satisfazer a tanto encargo e a tanta exigência”.

E ainda há quem suponha que o comércio do Rio lucra com o carnaval, em virtude do afluxo de turistas. Se assim fosse, deixaria ele morrer o carnaval, quando gasta milhares de contos em reclame?

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O “Diário de S. Paulo” mantém um serviço telegráfico proveniente da Itália, de onde é diretamente transmitido ao Brasil. Esse serviço, que tem um colorido evidentemente fascista, sem o qual a polícia italiana não o toleraria, é, aliás, muito informativo e interessante.

É curioso notar que nesse serviço telegráfico se incluiu na semana passada uma informação sobre o acordo comercial ítalo-russo, que mostra a intensidade das relações comerciais entre as duas potências. Transcrevemos alguns tópicos desse telegrama:

“Roma, fevereiro. (Via aérea) - Desenvolveram-se em Roma, durante algumas semanas, entendimentos entre os governos da Itália e da URSS para o estabelecimento do acordo comercial de que mandei notícia cabográfica.

O acordo é de largo alcance, de importância muito maior do que a que apresentavam os precedentes. A Rússia fornecerá à Itália, entre os produtos constantes da relação, grande quantidade de matérias primas combustíveis, entre as quais gasolina, óleos minerais, manganês, madeiras, carvão, sementes, determinadas espécies de gramíneas etc.

“Considera-se, tomando-se por base cálculos feitos pela embaixada soviética, que a cifra das respectivas exportações e importações entre os dois países possa alcançar a soma anual de um bilhão. Tal importância, já por si considerável, surgirá em todo seu alto valor, quando se relembrar que, pelo último tratado, o valor das trocas se mantinha na base dos quatrocentos milhões de liras.

“É interessante registrar - acentua a notícia - que justamente nestes dias foi assinado outro importante acordo entre a Alemanha e a Rússia dos sovietes”.

Ninguém ignora, hoje em dia, que não há boas relações comerciais sem boas relações diplomáticas.