Legionário, N.º 337, 26 de fevereiro de 1939

 

7 DIAS EM REVISTA

O Carnaval está francamente em decadência de ano para ano, apesar de incentivado pelos cronistas carnavalescos de nossos jornais e por toda a sorte de imoralíssimos concursos, subvenções oficiais e espetáculos de músicas carnavalescas.

Nem mesmo aqueles que desejam a animação do Carnaval podem esconder o seu desapontamento, vendo que o povo paulista todo ano se abstém mais e mais do Carnaval. É suficiente a leitura das notícias sobre o Carnaval, para se ver o golpe de morte infligido pelos retiros marianos ao Carnaval.

Há quem pense que não houve subvenção oficial. No entanto, a única coisa diferente dos carnavais anteriores foi a falta dos postes pintados da Av. São João.

Em tudo o mais, a Prefeitura procedeu como nos anos anteriores. Nada faltou para que o Carnaval não tivesse animação provocada pelo governo.

O que se viu, no entanto, foi uma desanimação maior que a do ano passado. Não foi, pois, a falta de subvenção que matou o Carnaval, pois ele teve tudo que precisava para animar-se.

A nota interessante do Carnaval deste ano foi o verdadeiro exército de grilos que o departamento do tráfego colocou nas ruas, a fim de dirigir um corso que não existiu.

Isso por lembrar o Sr. Armando de Sales Oliveira, quando governador de São Paulo. Um político daqui não andava em boas graças com o governador. E este, para ridicularizá-lo, mandava colocar grilos por toda a parte por onde ele passava, com cordões de isolamento para conter o povo, que naturalmente não aparecia. Ficava então aquele número enorme de grilos contendo um povo que não existia.

O mesmo fez o Departamento de Trânsito com o corso. Parece que ele quis, dessa forma, ridicularizar o corso deste ano. E conseguiu.

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O perigo nazista, para muitos, não existe no Brasil. Para esses, o Brasil é um país infenso a doutrinas totalitárias e os nazistas não se animariam a propagar aqui a sua ideologia. Logo, não há o perigo nazista.

Os Estados Unidos são apontados como o protótipo da democracia, o que não impediu que os nazistas yankees fizessem um comício colossal, ao ponto de obrigar o prefeito da Guardia a movimentar, segundo suas declarações, 1.327 policiais, a fim de manter a ordem.

O “Osservatore Romano” por outro lado noticia o congresso da organização juvenil nazista “Hitlerjugend” de que participarão delegados de todas as partes do mundo, sendo que já lá se encontram 30 bolivianos.

Depois desses fatos, não podemos deixar de temer a infiltração nazista no Brasil. Se o Estados Unidos precisam de grande força policial para manter a ordem em um comício nazista, e prepara-se na Alemanha, tão ostensivamente, um congresso destinado a difundir o nazismo no mundo, como se pode afirmar que não existe perigo nazista no Brasil?

Em vez de se fechar os olhos à verdade, seria de maior conveniência procurar combater esse perigo que nos ameaça.

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Continuam os rumores sobre a instalação de fornos crematórios em São Paulo.

Não acreditamos que o Sr. Prestes Maia permita a sua instalação, depois de declaração positivas contra essa aberrante inovação.