Legionário,  N.º 329, 1º de janeiro de 1939

 

7 DIAS EM REVISTA

Publicamos, em nossa penúltima edição, uma nota a respeito do protesto feito pelo grande estadista espanhol Gil Robles contra acusações que lhe eram assacadas, não apenas nos círculos comunistas - o que não causa espanto - mas ainda em certos círculos nacionalistas.

A este propósito, devemos acrescentar que, ao público brasileiro, o referido protesto chegou por intermédio de um telegrama de Barcelona, contendo uma notícia publicada por um jornal daquela cidade.

É óbvio acrescentar que não teríamos dado crédito a esta notícia se não tivéssemos tido dela uma confirmação absolutamente segura, por intermédio de insigne sacerdote espanhol, muito ao corrente do que sucede em sua gloriosa e heróica pátria.

Já o dissemos quando publicamos a notícia vinda de Barcelona. Repetimo-lo agora, para que não se pense que nos contentamos com notícias provenientes de fonte tão suspeita.

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O Congresso de Estudantes recentemente reunido no Rio de Janeiro deu oportunidade a uma bela demonstração de quanto pode um pugilo de moços católicos realmente aguerridos, que repelem decididamente a funestíssima tática de fazer da água de flor de laranjeira o único modo de apostolado.

Ninguém ignora que aquele Congresso estava minado por forças da esquerda. O Sr. Amoroso Lima, Presidente da Ação Católica Brasileira, escreveu um artigo em que denunciou francamente este deplorável fato. Tanto bastou para que, em um almoço realizado pelos membros do Congresso, se levantasse um imenso vozerio contra aquele conhecido escritor católico.

Em meio à algazarra, dois membros da delegação mineira tomaram a palavra. O primeiro, Sr. Vilhena de Andrade, fez uma defesa da grande figura do laicato católico, que estava sendo tão rudemente atacada. O segundo, Sr. Waldemar Maciel, fez um elogio, não apenas a Tristão de Athayde, mas ao próprio catolicismo, do qual traçou uma vigorosa apologia.

A princípio, o vozerio aumentou. Mas quando cresceu o diapasão dos valorosos defensores da boa causa, serenou rapidamente o ambiente. E tudo terminou em um estrondoso fracasso dos que procuraram servir-se de Tristão de Athayde como pretexto para atacar a Igreja.

Certamente não teria sido o mesmo o resultado com o clássico processo de calar, sorrir ou quando muito falar muito de mansinho...

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Contam os jornais que o Sr. Adolf Hitler passou o Natal inteiramente só.

Vae soli”, ai do que se conserva só, exclama a Sagrada Escritura. Realmente, quando o homem que vive em paz com Deus se retira para a solidão, ele encontra assim um ambiente propício para o recolhimento e a meditação, que constituem um convívio espiritual com Deus. Por isto mesmo a solidão do homem reto e batizado é uma solidão aparente. Na realidade, não está só quem está com Deus. E por isto mesmo um santo exclamou: “O beata solitudo, o sola beatitudo”, ou seja: “Ó bem-aventurada solidão, ó única e real felicidade”. Mas, quando se retira para a solidão quem está mal com Deus, essa solidão é um lúgubre colóquio com a consciência. E, nela, o homem sente todo o peso do remorso que suas ações despertam.

Enquanto bimbalhavam os sinos, as igrejas se enchiam e se iluminavam os lares com os esplendores da alegria cristã do Santo Natal, o Sr. Hitler, e só ele talvez, na vasta cidade de Munich, se conservava só. Só, perante sua consciência. Só, perante os remorsos e as tristezas de sua pobre alma vazia de Deus.

E, em toda a Alemanha, ninguém teve, certamente, um Natal tão triste quanto o temível senhor do III Reich, a quem toda a Alemanha obedece, e que desfruta todos os elementos para ser humanamente feliz...

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Um outro homem também passou o Natal só. Não em um quarto suntuoso, mas em uma triste moradia de prisioneiro. Enquanto os sinos bimbalhavam, enquanto subia da rua o ruído das multidões que iam rezar e, quiçá, receber o Cordeiro de Deus, ele se encontrava imerso na solidão. Do outro lado da porta, um passo duro e cadenciado de sentinela. Ao longe, talvez, o eco de blasfêmias e canções imorais da guarnição. Sua família, separada dele. Sua obra política, que fora o grande sonho e a grande obra de sua vida, inteiramente fracassada, sob o golpe duro do infortúnio. Sua saúde, talvez irremediavelmente comprometida por drogas tóxicas. Esse homem era Kurt von Schuschnigg.

Mas, no fundo desse coração amargurado, cantava uma grande esperança: a esperança infinita que o Sermão das Bem-Aventuranças abre para os que sofrem e têm fome e sede de justiça.

E o Menino Jesus não terá deixado de espargir, no mais profundo desse coração amargurado, o bálsamo de preciosas consolações.

O Natal do prisioneiro foi certamente mais alegre do que o de seu onipotente algoz...

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Dissemos repetidas vezes que, no século XIX, a ação dos inimigos da Igreja se caracterizou por um furor desabrido e cruel, comparável ao ódio implacável e sangrento de Herodes. E que a grande característica das perseguições do século XX seriam o mesmo furor herodiano, disfarçado porém pela carícia abjeta do beijo morno e úmido de Judas.

Uma eloqüente prova disso está na afirmativa, que nos chega de Barcelona, de que os republicanos “respeitam todas as religiões”, do que teriam dado provas autorizando a celebração de ofícios religiosos, recentemente, em alguns setores de combate.

Como se os cadáveres profanados de numerosos religiosos, os tabernáculos violados em inúmeras igrejas, as imagens ultrajadas em quase toda a Espanha, não provasse muito claramente o cunho satânico que anima a revolução comunista.

É um sinal dos tempos. Hoje em dia, mais do que nunca talvez, se queremos lutar pela Igreja, devemos saber discernir entre as manifestações de Fé falsas e verdadeiras, ante o carinho sincero e santíssimo da Verônica, e a asquerosa dissimulação do discípulo infiel.

E ainda há quem ache o “Legionário” por demais desconfiado...

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Nisto mesmo, nesta dissimulação, se atesta cada vez mais a identidade entre as pseudo-direitas e a esquerda.

Os nazistas, antigamente, se salientavam pela hipocrisia de sua violenta campanha anticatólica, que timbrava em se conservar, entretanto, incruenta. Os comunistas, pelo contrário, se destacavam pelas perseguições desabridas e sangrentas movidas contra a Santa Igreja de Deus.

Agora, as táticas se somaram. Sem deixar de ser pérfido, o nazismo começou a ser sangrento. E o comunismo, como vemos pela notícia acima, aliás corroborada por mil outras, sem deixar de ser sangrento, começou a ser pérfido.

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Por isso, transcrevemos, a título de confirmação, o seguinte tópico, muito recente, do “Osservatore Romano”, órgão oficioso do Vaticano:

O órgão do Vaticano, aproximando as concepções soviéticas das idéias pregadas pelo nacional-socialismo, declara: “Os extremos se tocam na demolição da fé, da moral, dos pensamentos e dos costumes cristãos que se opõem aos desejos de ambos, que consiste em renegar a glória de Deus, para atribuí-la aos homens. Voltando nossos olhos para as diferentes partes do mundo e particularmente para esses países que negam obstinadamente, verificamos que entre eles não há tranqüilidade, não há paz nem entre o povo nem entre as classes, nem em suas consciências, porque não estão ao lado da justiça, da caridade e da solidariedade humana”.