Legionário, N.o 327, 18 de dezembro de 1938

7 DIAS EM REVISTA

O Sr. Getúlio Vargas, em declarações à imprensa sobre a Conferência de Lima, afirmou que o Brasil era pacifista e que qualquer relação com outros países era desejável, sendo o comunismo a única forma de governo que tornaria indesejável um estreitamento de relações entre algum país estrangeiro e o Brasil. 

Essa declaração nos parece muito importante.

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Todos estão lembrados de que quando as leis racistas foram aprovadas na Itália pelos altos órgãos políticos do país, o Santo Padre escreveu ao Rei da Itália e ao Sr. Mussolini mostrando que com isto se violava o Tratado de Latrão.

O soberano respondeu ao Sumo Pontífice que estudaria com toda a atenção os termos de sua missiva e faria todo o possível para atendê-la.

Ao que parece, o “possível” foi pouquíssimo: o Duce, ao que nos consta, não respondeu ao Papa e agora a Câmara italiana aprovou tais leis, dando-lhes pleno vigor jurídico.

Aprovou-as a Câmara e dissolveu-se, aplaudindo com delirante entusiasmo sua própria dissolução.

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Acha-se no Ministério do Trabalho, aguardando sugestões, um anteprojeto do decreto-lei que regula a profissão de músico e a duração do seu respectivo trabalho.

Entre outras disposições, o anteprojeto obriga as Igrejas a celebrarem contratos com seus músicos e só permite aos músicos dotados de carteira profissional fornecida pelo Ministério do Trabalho que exercerem suas atividades nas funções religiosas.

Ficará dessa forma impedido o concurso espontâneo e gratuito de muitos músicos nas Igrejas do  Brasil, caso passe  esse anteprojeto? É o que os telegramas não esclarecem convenientemente.

De modo que as sugestões que serão apresentadas a ele devem inquerir sobre a situação em que ficarão as muitas pessoas que, por puro apostolado, se oferecem para cantar nas Igrejas e que não têm necessidade nem querem exercer com lucro monetário essa função. De mais a mais, à música da Igreja não se pode aplicar sem grande injustiça e inconveniência a legislação referente aos músicos de bailes, cafés, concertos ou bandas teatrais. Na  escolha de um músico da Igreja se exigem circunstâncias especialíssimas que uma caderneta do Ministério do Trabalho não pode comprovar. É preciso que ele seja um católico realmente fervoroso e que sua execução musical seja não apenas de um valor técnico suficiente, mas de uma piedade real. Quem irá comprovar estas qualidades? Uma banca de examinadores meramente burocráticos, da qual poderá até não fazer parte qualquer católico?

É possível que muita gente sorria ante a atenção que damos ao assunto. Mas os vigários que nos lerem saberão perfeitamente os embaraços que uma tal legislação lhes pode trazer.

Como o Ministério teve a bela e nobre idéia de pedir sugestões antes  de convertido o projeto em lei, convém que numerosas sugestões, animadas de um espírito de cooperação franco e respeitoso,  cheguem às mãos do titular daquela pasta, aliás católico praticante.

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Realizou-se no dia 14, no Brás Politeama, um festival em benefício do Natal dos órfãos republicanos da guerra civil espanhola, que residem em território daquela república.

Se o festival foi no dia 14, dificilmente o dinheiro apurado servirá para o Natal na Espanha republicana. Esse dinheiro servirá, no entanto, possivelmente, para as despesas do governo espanhol, já há muito tempo necessitando de dinheiro do estrangeiro para se defender.

É incompreensível como uma iniciativa tão evidentemente parcial e imprudente encontre benfeitores, como a  Empresa Serrador que cedeu de graça o Teatro Politeama, ainda mais que o governo brasileiro se acha empenhado em combater o comunismo no Brasil.

Houve isenção de selos nas entradas.

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Mais uma prova da perfeita concordância entre o nazismo e o comunismo, que o “Legionário” tem sempre frisado, é o fato do ministro do Reich no México ter exigido a prisão e o julgamento de um chefe sindicalista que criticara o Sr. Hitler, dando como justificativa desse pedido a necessidade de fazer calar os raros jornais mexicanos  que não são dirigidos por alemães.

O México, sendo comunista, tem necessariamente o apoio desses jornais dirigidos por alemães que o embaixador alemão olha com tanta simpatia. Portanto, se não existe identidade de objetivos entre o nazismo e o comunismo, como explicar esse fato?

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O governo de Barcelona baixou um decreto instituindo a liberdade de culto no território sujeito à sua jurisdição.

Trata-se evidentemente de uma mistificação destinada a fazer crer que os “republicanos” estão abandonando seu comunismo rubro para se aproximar da Igreja.

É uma impostura que, para ser desmascarada, nem sequer exige argumentação.