Legionário, N.o 326, 11 de dezembro de 1938

7 DIAS EM REVISTA

Com a eleição do Sr. Mosqueira Narvaez à presidência da República de sua pátria, dois países da América do Sul, o Chile e o Equador, estão sujeitos ao Komintern russo. Ambos os presidentes foram eleitos pelos partidos da esquerda, fiéis e indefectíveis executores das ordens de Moscou e é suficiente a ida do conhecido comunista espanhol Indalecio Prieto ao Chile a fim de assistir a posse do novo Presidente, para se ter uma idéia dos propósitos reais com que este ascende ao poder.

México, Equador, Chile! Sinistro eixo-latino-americano, que constitui um perigo para toda a América! Que providências tomará a Conferência de Lima para fazer cessar estes três focos de revolução e de guerra na América? Os Estados Unidos, em geral tão suscetíveis quanto à propaganda nazista, que medidas proporão para apagar a fogueira comunista? Não o sabemos.

Entretanto é certo que, tendo o Brasil dado o golpe de 10 de Novembro a fim de se libertar do comunismo e instituir uma ordem de coisas eminentemente anticomunista – é o que se diz ininterruptamente desde que o Estado Novo foi instaurado – está [ele] na obrigação de propor todas as medidas necessária para que o comunismo não se apodere da América do Sul.

Para conseguir tal objetivo, não lhe falta, na Conferência, quem o represente com talento e larga experiência das coisas públicas.

* * *

Chegando a Paris, declarou o Núncio Apostólico, Mons. Valério Valeri que o Sumo Pontífice, quando ouve falar da França, perde o caráter grave e preocupado que sempre conserva, e seu semblante se ilumina pela simples evocação da filha primogênita da Igreja.

Não há dúvida de que a situação política da França é das mais delicadas. Entretanto, é tão intenso e brilhante o renascimento religioso que ali se observa; é sobretudo tão grande o progresso das grandes organizações religiosas de operários, capitaneadas pela JOC, que a França continua a constituir uma das mais legítimas esperanças da Santa Igreja.

Note-se que, neste comentário, não entra qualquer sentimento político faccioso. Pio XI nasceu na Itália. Mons. Valério Valeri também. Mas a questão é que fazendo esse elogio à França exatamente neste momento, dão ambos ao mundo uma belíssima prova de que o nacionalismo excessivo não pode empanar o zelo pelas coisas da Igreja, e a caridade universal que deve ligar entre si todos os membros do Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo.

* * *

Um colaborador anônimo do jornal italiano “Fanfulla”, irritado pela atitude que esta folha tem mantido perante o Sr. Mussolini, escreveu uma nota que pode ser dividida em duas partes. Em uma, o autor elogia o Sr. Mussolini. Em outra, atribui à ignorância e à má vontade desta folha sua oposição a certos gestos do Sr. Mussolini, e prescreve algumas normas de conduta ao “Legionário”, entre as quais a de intervir menos em política, e se ocupar mais de assuntos religiosos.

O “Legionário” tem, a respeito desta questão, seu ponto de vista já formado. E fará tudo quanto estiver em seu poder, para prevenir a opinião católica contra os erros do totalitarismo e do nacionalismo exagerado.

Entretanto, nunca foi nosso desejo transformar a execução do que reputamos nosso dever, em ponto de atrito com a respeitabilíssima e excelente colônia italiana aqui estabelecida. Por isto mesmo, nunca quisemos criticar a “Fanfulla”, e sempre nos abstivemos de qualquer comentário ou crítica ao fascismo, baseado em notícia fornecida por aquele jornal. Note-se que chegamos, nesta precaução, a tal extremo, que agimos com a “Fanfulla” empregando uma reserva que nunca empregamos para com outros jornais desta Capital.

Não compreendendo esta atitude de nossa parte, vem um colaborador da “Fanfulla” romper a situação correta, até aqui existente entre as duas folhas. Lamentamo-lo.

* * *

Entretanto, não faríamos a observação que fica acima se o colaborador da “Fanfulla” se tivesse limitado a refutar nossas opiniões. Não seria demais que, em linguagem cortês e serena, se procurasse convencer o “Legionário” de que não lhe assiste razão.

Não foi, porém, o que se deu. O comentário se revestiu de um caráter hostil, e de uma ironia altissonante que culminou com os conselhos insólitos que o autor se julgou no direito de nos ministrar.

Isto nos força a uma declaração muito leal. O art. 1º do Decreto-Lei no. 383, de 18 de abril de 1938, veda “aos estrangeiros fixados em território nacional, imiscuir-se direta ou indiretamente em negócios públicos do país”. Ora, é evidentemente uma intromissão pretender ditar regras de conduta política e religiosa a um jornal que, pelas altas e preciosas manifestações de apoio que tem recebido, e pelo acolhimento que tem encontrado, poder afirmar sem temeridade que representa uma ponderável corrente de opinião.

Foi imprudente, pois, a “Fanfulla”, aliás sempre tão prudente e correta, em acolher aquela nota. E supomos que o fato não se repetirá.

* * *

Não são só os católicos que se acham horrorizados com os maus tratos infligidos ao Sr. Schuschnigg pelo nacional-socialismo, e que o “Legionário” já relatou. O historiador Hendryck van Loon, também indignado pelas torturas que o Sr. Hitler manda aplicar ao ex-chanceler austríaco, lançou um apelo ao presidente Roosevelt para que este ofereça abrigo ao Sr. Schuschnigg, transportando-o a bordo de um vaso de guerra para fora da Áustria. (...) Por maiores que sejam as barreiras entre todos os países, todas elas se desfazem quando preciso. Só os católicos estão sozinhos e se quiserem fazer algum bem, devem contar apenas com Deus e com suas próprias forças.