Legionário, N.o 314, 18 de setembro de 1938

7 DIAS EM REVISTA

Inaugurou-se a Adoração Noturna do Ceará, e na primeira turma de adoradores achavam-se os Srs. Interventor e todos os membros do governo cearense que assim iniciavam, como estadistas cônscios de sua responsabilidade, os atos de adoração pública a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Esse belíssimo exemplo deve encher de esperanças os católicos quanto aos destinos do Ceará.

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No meio das angústias da situação contemporânea, está passando quase desapercebido um drama individual que corta o coração de qualquer pessoa que ainda tenha observado uma parcela, por menor que seja, de espírito de Fé.

Um telegrama de Viena informa que o Chanceler Schuschnigg se encontra em péssimas condições de saúde, por estar sofrendo de colapsos nervosos.

É fácil imaginar que brutalidades, que maus tratos, que atrocidades terá sofrido esse homem de têmpera de ferro – e quiçá a ação de que drogas criminosas – para estar reduzido a tão deplorável estado.

Schuschnigg galga assim, o seu calvário doloroso, mergulhado no isolamento e na desolação, enquanto Hitler obtém os mais brilhantes triunfos diplomáticos.

Mas uma voz que ninguém abafa, murmura certamente aos ouvidos de Schuschnigg a frase divina e consoladora: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”, enquanto segreda aos ouvidos de Hitler a ameaça tremenda e irremovível: “Ai de vós, os que agora rides, porque gemereis e chorareis”.

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Dir-se-ia, talvez, que essa notícia é falsa. A isto responderemos que o telegrama que no-la transmitiu veio de Viena, e que, segundo todas as aparências, não foi expedido sem passar pela censura implacável a que agora são submetidos todos os despachos que saem do “Reich”. Logo, a própria censura, consentindo na expedição do telegrama, reconheceu a veracidade do fato.

Isto posto, perguntamos: se o Evangelho elogiou tão magnificamente a caridade do Samaritano para com um desconhecido estendido pela estrada, a que caridade não somos nós obrigados para com Schuschnigg, vítima inocente que se expôs pela Igreja e pela Pátria, e que agora é imolada sem piedade pelas feras nazistas?

E, no entanto, qual o católico que se lembrou de fazer uma prece sequer por ele?

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A este propósito, cabe uma pergunta. Por que razão a França e a Inglaterra sacrificaram com tanta frieza a Áustria católica, conluiadas com o Sr. Mussolini? Elas, que arrastaram quase até à guerra a Europa por causa da Checoslováquia, por que não tentaram o mínimo esforço pela Áustria? É-se quase levado a admitir que a circunstância de ser governada por legítimos católicos constituiu para a Áustria uma agravante, aos olhos da França e da Inglaterra.

Todo esse aparato bélico, todas essas ameaças e mobilizações que foram tentadas para imobilizar, agora, o Sr. Hitler teriam sido muito mais eficientes quando este ainda não tinha anexado a Áustria e estava, pois, muito mais fraco.

Mas todo o mundo parece ter-se conluiado para sacrificar a Áustria católica!

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Há, porém, certos fatos que denunciam claramente a ação da Providência.

Todos se lembram da visita humilhante a que Schuschnigg se submeteu em Berchtesgaden pleiteando diante de seu atual algoz ao menos um pouco de liberdade para sua desditosa pátria.

Há dias, na mesma vila, e talvez no mesmo banco em que se sentou Schuschnigg, foi o Sr. Chamberlain, primeiro ministro da poderosa e altiva Albion, quem formulou suas súplicas e suas deprecações.

Se o Sr. Chamberlain tivesse apoiado Schuschnigg com mais vigor, evitando assim que este fosse forçado a ir implorar do próprio Hitler sua salvação, é impossível que hoje em dia a Inglaterra não fosse obrigada a mandar o seu primeiro ministro a Berchtesgaden, passando por humilhação idêntica.

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Os funerais do Cardeal Hayes, de Nova York, revestiram-se de grande imponência, tendo saído o enterro da catedral de St. Patrik situada no centro da Quinta Avenida.

A Quinta Avenida é a mais movimentada e barulhenta de Nova York. No entanto, o Cardeal Hayes se fez estimar de tal forma pelos americanos que durante o tempo que o corpo esteve na Catedral de St. Patrik, se observou na Quinta Avenida o maior silêncio. (...)