O noticiário
político dessa semana se caracterizou por uma novidade que certamente terá
causado na opinião pública a maior surpresa.
Baseado em um
longo trabalho do promotor publico Dr. Leite Oiticica, o Dr. Juiz Costa Netto acaba de decidir que o movimento subversivo de 1935
em Pernambuco não se revestiu de caráter comunista, sendo apenas uma inocente conspirata contra as autoridades estaduais.
Não é curioso?
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Infelizmente, a
imprensa diária não transmitiu todas as razões em que se baseou S. Exa. Porém, das poucas que foram divulgadas,
nenhuma deixa de apresentar interesse. Vejamos:
a ) O comunismo
é contrário à Religião e à família; ora nenhum ato de profanação cometeram os
revolucionários contra templos e lares; logo, não eram comunistas;
b ) um dos
acusados casou-se perante um sacerdote católico, na prisão; ora quem se casa na
Igreja é católico; logo tal acusado é católico e não comunista;
c ) se não foi
comunista, o movimento só poderia ter tido como móvel a destituição das
autoridades estaduais, que realmente era odioso.
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Um glosador pertinente fez brincadeiras de mau gosto sobre
estes argumentos:
a ) Pelo
primeiro argumento, os revolucionários do Rio também não eram comunistas,
porque não destruíram nenhum lar e nenhum templo. Pelo contrário, o Sr. Luiz
Carlos Prestes chegou a se vestir de Padre enquanto estava fugindo da polícia.
Quem sabe lá se ele não estava mesmo pensando em visitar o Cardeal e pedir sua
matrícula no Seminário?
b ) o segundo
argumento implica na inversão de um processo infalível para descobrir crimes de
qualquer natureza. É casado, perante a Igreja, o criminoso. Então é católico. E
como um católico não pode cometer crimes, ele é inocente. E se ele teve o ardil
de se fingir de católico, que leve a breca.
c ) quanto ao
terceiro argumento, uma observação apenas: para que uma revolta contra o Sr.
Lima Cavalcanti, que se encontrava na Europa quando o movimento explodiu?
Mas tudo isto
são apenas irreverências...
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Depois de
termos celebrado com tão cordial afeto o centenário de Santo Estevão, não
podemos esquivar-nos ao pesaroso dever de deplorar a visita do Regente Horty ao Sr. Hitler.
Quando ainda
perdurava em todos os espíritos a grata impressão das homenagens do governo
húngaro ao Santíssimo Sacramento, o chefe do mesmo governo vai a Berlim em
visita a um dos piores inimigos de Nosso Senhor Jesus Cristo em nosso século.
Como não deplorar tal fato?
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A situação
religiosa na Itália parece ter readquirido sua normalidade, no tocante as
atividades da Ação católica.
Em entrevista
que tiveram, o presidente da Ação Católica e o secretário geral do partido
fascista reafirmaram estar em pleno vigor o acordo de 1921 que garante à Ação
Católica a liberdade de ação.
Graças a Deus
parece, pois, que o Sr. Mussolini soube ver a
necessidade de não entrar em conflito com a Igreja, que é a única base durável
de todos os regimes e todas as civilizações.
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Um comunicado
oficial acentuou, a este propósito, que na Itália fascista é proibido à Ação
Católica:
a ) ocupar-se
de questões sindicais;
b ) manter
organizações esportivas.
Ambas essas
atividades são privativas do partido fascista.
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Pena é que a
questão racial não tenha sido tão bem resolvida quanto a questão religiosa.
Continua em
certa imprensa fascista uma campanha anti-semítica que degenera francamente em
campanha anti-católica. Assim, o “Popolo
d’Italia” afirmou há dias que a Bíblia é uma
“emanação destrutiva da alma israelita”.
Ora, o mesmo “Popolo d’Italia” afirmou pouco
depois que a Igreja nada tem a ver com a campanha racista, que constitui
assunto político no qual a Ação Católica não se pode envolver, em virtude do
acordo com o partido fascista.
Veja-se, pois,
que interpretação capciosa esse acordo está sofrendo!
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De um discurso
do Santo Padre na semana pp., destacamos o seguinte trecho digno da mais
profunda reflexão:
“Nós vos
aconselhamos a que sejais cuidadosos com todas as coisas perigosas, mas acima
de tudo com o exagerado nacionalismo. Existem nações e nacionalismos,
mas o Todo Poderoso criou as nações, de sorte que há espaço para o justo e
moderado nacionalismo conjugado com todas as virtudes. Entretanto, tende
cuidado com o exagerado nacionalismo, visto que ele é uma verdadeira maldição.
“Parece que
tudo indica que temos razão quando dizemos ‘verdadeira maldição’, porque o
exagerado nacionalismo é uma verdadeira maldição, que resulta nas divisões e
nos contrastes.
“Para a tarefa
mais missionária, o exagerado nacionalismo é uma verdadeira maldição e esterilidade,
visto que não é ao longo desta estrada que as almas podem ser conduzidas ou que
pode florescer o apostolado”.