Legionário, N.o 311, 28 de agosto de 1938

7 DIAS EM REVISTA

O noticiário político dessa semana se caracterizou por uma novidade que certamente terá causado na opinião pública a maior surpresa.

Baseado em um longo trabalho do promotor publico Dr. Leite Oiticica, o Dr. Juiz Costa Netto acaba de decidir que o movimento subversivo de 1935 em Pernambuco não se revestiu de caráter comunista, sendo apenas uma inocente conspirata contra as autoridades estaduais.

Não é curioso?

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Infelizmente, a imprensa diária não transmitiu todas as razões em que se baseou S. Exa. Porém, das poucas que foram divulgadas, nenhuma deixa de apresentar interesse. Vejamos:

a ) O comunismo é contrário à Religião e à família; ora nenhum ato de profanação cometeram os revolucionários contra templos e lares; logo, não eram comunistas;

b ) um dos acusados casou-se perante um sacerdote católico, na prisão; ora quem se casa na Igreja é católico; logo tal acusado é católico e não comunista;

c ) se não foi comunista, o movimento só poderia ter tido como móvel a destituição das autoridades estaduais, que realmente era odioso.

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Um glosador pertinente fez brincadeiras de mau gosto sobre estes argumentos:

a ) Pelo primeiro argumento, os revolucionários do Rio também não eram comunistas, porque não destruíram nenhum lar e nenhum templo. Pelo contrário, o Sr. Luiz Carlos Prestes chegou a se vestir de Padre enquanto estava fugindo da polícia. Quem sabe lá se ele não estava mesmo pensando em visitar o Cardeal e pedir sua matrícula no Seminário?

b ) o segundo argumento implica na inversão de um processo infalível para descobrir crimes de qualquer natureza. É casado, perante a Igreja, o criminoso. Então é católico. E como um católico não pode cometer crimes, ele é inocente. E se ele teve o ardil de se fingir de católico, que leve a breca.

c ) quanto ao terceiro argumento, uma observação apenas: para que uma revolta contra o Sr. Lima Cavalcanti, que se encontrava na Europa quando o movimento explodiu?

Mas tudo isto são apenas irreverências...

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Depois de termos celebrado com tão cordial afeto o centenário de Santo Estevão, não podemos esquivar-nos ao pesaroso dever de deplorar a visita do Regente Horty ao Sr. Hitler.

Quando ainda perdurava em todos os espíritos a grata impressão das homenagens do governo húngaro ao Santíssimo Sacramento, o chefe do mesmo governo vai a Berlim em visita a um dos piores inimigos de Nosso Senhor Jesus Cristo em nosso século. Como não deplorar tal fato?

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A situação religiosa na Itália parece ter readquirido sua normalidade, no tocante as atividades da Ação católica.

Em entrevista que tiveram, o presidente da Ação Católica e o secretário geral do partido fascista reafirmaram estar em pleno vigor o acordo de 1921 que garante à Ação Católica a liberdade de ação.

Graças a Deus parece, pois, que o Sr. Mussolini soube ver a necessidade de não entrar em conflito com a Igreja, que é a única base durável de todos os regimes e todas as civilizações.

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Um comunicado oficial acentuou, a este propósito, que na Itália fascista é proibido à Ação Católica:

a ) ocupar-se de questões sindicais;

b ) manter organizações esportivas.

Ambas essas atividades são privativas do partido fascista.

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Pena é que a questão racial não tenha sido tão bem resolvida quanto a questão religiosa.

Continua em certa imprensa fascista uma campanha anti-semítica que degenera francamente em campanha anti-católica. Assim, o “Popolo d’Italia” afirmou há dias que a Bíblia é uma “emanação destrutiva da alma israelita”.

Ora, o mesmo “Popolo d’Italia” afirmou pouco depois que a Igreja nada tem a ver com a campanha racista, que constitui assunto político no qual a Ação Católica não se pode envolver, em virtude do acordo com o partido fascista.

Veja-se, pois, que interpretação capciosa esse acordo está sofrendo!

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De um discurso do Santo Padre na semana pp., destacamos o seguinte trecho digno da mais profunda reflexão:

“Nós vos aconselhamos a que sejais cuidadosos com todas as coisas perigosas, mas acima de tudo com o exagerado nacionalismo. Existem nações e nacionalismos, mas o Todo Poderoso criou as nações, de sorte que há espaço para o justo e moderado nacionalismo conjugado com todas as virtudes. Entretanto, tende cuidado com o exagerado nacionalismo, visto que ele é uma verdadeira maldição.

“Parece que tudo indica que temos razão quando dizemos ‘verdadeira maldição’, porque o exagerado nacionalismo é uma verdadeira maldição, que resulta nas divisões e nos contrastes.

“Para a tarefa mais missionária, o exagerado nacionalismo é uma verdadeira maldição e esterilidade, visto que não é ao longo desta estrada que as almas podem ser conduzidas ou que pode florescer o apostolado”.