Legionário, N.o 299, 5 de junho de 1938

7 DIAS EM REVISTA

Não é conforme a realidade dos fatos a impressão provocada em certos círculos desta Capital, pela notícia referente à Missa em ação de graças celebrada em Belo Horizonte em virtude de terem o Sr. Getúlio Vargas e Família saído ilesos do atentado que, contra eles, se fez recentemente.

Lemos com atenção o que a este respeito publicaram os nossos brilhantes confrades católicos do “Diário”, e especialmente o sermão então pronunciado pelo Rev. Mons. Arthur de Oliveira.

S. Rev.ma começou por mostrar quais os casos extremos em que a Santa Igreja reconhece o direito de revolução, e, depois de manifestar sua opinião de que o governo do Sr. Getúlio Vargas não atentou contra os direitos fundamentais da Igreja e da Pátria, concluiu congratulando-se pelo fato de S. Ex.a e sua Família não terem sido mortos. Finalmente, salientou que os católicos estão sempre dispostos a cooperar e obedecer à autoridade constituída.

Este sentimento de respeito à Autoridade é tão inerente à doutrina católica que São Paulo aconselha que se obedeçam a todos os governos, bons ou maus.

No que fica exposto, nada se pode apontar que signifique o abandono da linha de conduta apolítica e extra-partidária do “Diário” ou dos católicos mineiros como tais.

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O Sr. Roberto Sisson e outros próceres da extinta Aliança Nacional Libertadora enviaram um telegrama ao Sr. Getúlio Vargas, congratulando-se com S. Ex.a. por ocasião do malogro do movimento subversivo de 11 de maio.

Também telegrafaram ao Sr. Presidente da República os Srs. Miguel Costa e Agildo Barata.

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O “Legionário” não tem publicado os resumos telegráficos dos discursos pronunciados durante o Congresso Eucarístico de Budapeste e particularmente os de S. Ema. o Cardeal Pacelli, reservando-nos para fazê-lo quando o “Osservatore Romano” nos fornecer o texto completo de tais orações.

Foi desoladora a atitude de toda a imprensa fascista [Nota: leia-se “católica” em vez de “fascista”, conforme retificação feita no “Legionário” N. 300] italiana que noticiou com a mais inteira frieza e laconismo o Congresso Eucarístico de Budapeste.

A imprensa italiana ou não notícia de todo os discursos do Cardeal Pacelli, ou limita-se a registrar apenas que S. Em.a os pronunciara.

Essa atitude dos jornais do Sr. Mussolini revela o perfeito acordo existente entre ele e o Sr. Hitler, pois só pode ser explicado como uma represália dos jornais italianos contra o “Osservatore Romano” que não publicou nem uma linha sequer sobre a visita do “füehrer” alemão a Roma".

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Decidindo uma ação movida pela Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz da Glória do Rio de Janeiro contra a União Federal, atendendo uma representação do Sr. Arcebispo do Rio de Janeiro e suspenso o pagamento de juros de apólices pertencentes àquela Ordem, o juiz Castro Nunes deu ganho de causa à União declarando que as Irmandades “são associações religiosas, existem no interesse dos fins espirituais da Igreja, são instrumentos desta e, por isto mesmo, não é possível libertá-las inteiramente da sujeição em que se acham em relação aos bispos”.

Infelizmente, não deve nosso público estranhar que certas Irmandades se choquem nesta censurável atitude de indisciplina, pois é sabido que há irmandades do Rio infiltradas (...) que se esquecem de sua finalidade, se secularizam e laicizam inteiramente, perdendo todo e qualquer caráter religioso.

É conhecido o caso de uma das tais “irmandades” que mantendo um hospital negou-se a colocar o Crucifixo nas suas salas, alegando que a irmandade não tinha fim religioso.

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A classe médica, associação científica, amigos e admiradores prestarão dentro de poucos dias grandes homenagens ao professor Celestino Bourroul pela passagem do seu 25º aniversário de atividade professoral.

É muito justa essa homenagem à qual se devem associar em espírito todos os católicos, pois que o professor Celestino Bourroul, durante esses 25 anos de atividades na Faculdade de Medicina, foi um magnífico exemplo de virtudes católicas realçadas por seu grande valor profissional.

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O Sr. Hitler, a fim de impedir completamente a audição da rádio Moscou, acaba de condenar à morte todo alemão que a ouvir.

Essa medida do nazismo, que tem na Alemanha todos os meios de propaganda possíveis, vem mais uma vez evidenciar o poder do rádio, pois a tal ponto o Sr. Hitler teme a infiltração bolchevista por seu intermédio, que chega ao extremo de condenar a morte os seus ouvintes.

Todo esse cuidado do Sr. Hitler prova a necessidade dos católicos, no Brasil, apoiarem as estações de rádio simpáticas ao Catolicismo e que procuram imprimir em alguns números de seus programas um cunho nitidamente católico, porque o poder de propaganda é imenso e o bem que poderá fazer, portanto, incalculável.