Legionário, N.o 298, 29 de maio de 1938

7 DIAS EM REVISTA

O Legionário recebeu com o mais vivo pesar a notícia de que seis Sacerdotes haviam sido recolhidos presos no Palácio Episcopal de Niterói, por estarem comprometidos no último movimento revolucionário.

Em primeiro lugar, não críamos que tais Sacerdotes, direta ou indiretamente, houvessem concorrido para a subversão da ordem.

Em segundo lugar, doer-nos-ia imensamente ver violadas as imunidades da Santa Igreja pelo julgamento, por tribunais temporais, de pessoas colocadas, em virtude do Sacramento da Ordem, sob a jurisdição dos tribunais eclesiásticos.

Verdade é que sendo o Estado Brasileiro inteiramente laico, não pode reconhecer tribunais eclesiásticos. Esta posição laica errada não tem, no entanto, o dom de tirar à Igreja as imunidades que não lhe vem de Estado nenhum, mas só de Deus. E que, portanto, nenhum Estado lhe pode válida e licitamente tirar.

O comunicado da Chefia de Polícia do Estado do Rio, declarando que aqueles Sacerdotes não haviam sido presos mas simplesmente inquiridos, e que contra eles nada se apurara, causou-nos um verdadeiro desafogo.

Manda, aliás, a justiça que se reconheça que dentro das normas impostas pelo cunho laico do Estado, soube a Polícia fluminense agir com notável cortesia.

* * *

Um jornal carioca noticiou há dias que é tão elevado o número de alemães residentes no Brasil que solicitaram seu repatriamento, que assume quase as proporções de uma emigração em massa. Entrevistado a este propósito por um diário desta Capital, um alto funcionário do consulado da Alemanha não escondeu que realmente é grande o número de seus patrícios que desejam sair de nosso País, explicando clara e positivamente que a causa disto está no decreto que veda aos alemães o exercício de suas atividades nazistas. Como se vê, não se pode ser mais franco.

Nós também queremos ser francos: tal emigração é um imenso benefício para o Brasil e para a grande parte sã e laboriosa da colônia alemã aqui existente. Para o Brasil, porque ele não precisa de infusões sub-reptícias de nazismo para prosperar. Para os alemães ordeiros e laboriosos que aqui residem, porque não terão a justa simpatia que gozam aqui, comprometida por agitadores enviados pelos pagãos do III Reich.

* * *

Como exemplo da decadência do protestantismo, 17.000 pastores protestantes juraram obediência a Hitler sem restrições.

A Igreja Católica é a única a opor-se com êxito à paganização da Alemanha, porque são os católicos os únicos que, por estarem convencidos da verdade, não se curvam às imposições do füherer quando este pretende arrancar à Alemanha a sua alma católica.

* * *

Quando da visita do Sr. Hitler a Roma, os estudantes da universidade de Roma interpelaram o prof. Virgilio Gayda, catedrático da universidade e redator do “Giornalle d´Italia”, apresentando-lhe  os seus artigos de 1934 e de 1938 sobre o Anschluss. Nos primeiros ele se manifestava contra o Anschluss, e depois do assalto de Hitler, a favor. Não podendo explicar as suas contradições o Sr. Virgilio Gayda, “ofendido em sua dignidade”, retirou-se.

Conseqüência: a juventude universitária fascista assim como o corpo diplomático foram dispensados de receber o Sr. Hitler.

* * *

Em virtude de recente decreto governamental, foi nomeado para a direção do Gabinete de Investigações e Capturas o Sr. Brasílio de Mendonça Filho, nome já sobejamente conhecido pelos católicos em razão da larga e simpática cooperação que, em cargos anteriores, S.S. soube manter com entidades católicas e especialmente a Assistência Vicentina e o Abrigo da Vila Mascote.

O Gabinete de Investigações estende suas atividades às delegacias de Repressão à vadiagem, Falsificações, Vigilância e Capturas, Furtos, Costumes, etc. Essa simples enumeração mostra o enorme benefício que se pode esperar da atuação do novo chefe do Gabinete de Investigações, em boa hora nomeado pelo Governo do Estado.

* * *

O “Diário Popular” de 16 de maio de 1938 publica o seguinte anúncio: “Dá-se criança de mais de dois anos, boa saúde e beleza. Propostas a F.K. nesta folha”.

Este anúncio é um índice expressivo da miséria física e moral que reina nas classes mais modestas de São Paulo, enquanto alguns dos elementos que podiam e deviam socorrê-la se preocupam mais com os seus cachorros, mantendo para eles Hospitais, Escolas e Cemitérios, etc.

Contra essa monstruosa aberração, só a Caridade haurida na Religião de Nosso Senhor Jesus Cristo pode trazer remédio eficaz, sendo inúteis e até nocivos os remédios apontados pelo espírito socialista, que é visceralmente pagão e revolucionário.

* * *

O Sr. Assis Chateaubriand, em um belo artigo, comentou no “Diário de São Paulo” de 20 deste mês o declínio da civilização ocidental, culpando exclusivamente a queda da natalidade da Europa e da América por este fato.

Tem o Sr. Chateaubriand toda a razão em ver no horror ao filho, que é uma das expressões mais características da abjeção em que jaz o homem contemporâneo, um dos maiores perigos para a civilização. No entanto, ele deveria ter ido mais longe, pois que não basta denunciar o mal, mas é preciso indicar o remédio.

O que de fato está atirando a civilização ocidental à ruína e à desnaturalização é exclusivamente o seu afastamento da doutrina católica, a única que é capaz de impor um freio ao egoísmo humano. E é porque os jornalistas e escritores modernos disto se esquecem, que estamos no triste estado em que nos encontramos.

* * *

Os Estados Unidos mostram-se atualmente com muita boa vontade com os outros povos americanos. Assim é que o Sr. Cordell Hull realizou no Departamento de Estado uma reunião com os professores a fim de estudarem o melhor meio de formar uma seção especial com o fim de propugnar o intercâmbio intelectual com a América do Sul.

Não há razão alguma que justifique esse estreitamento de relações intelectuais entre os Estados Unidos e os países da América, pois se há país que na América constitua exceção é justamente os Estados Unidos.

Seria de desejar uma maior colaboração entre os países da América do Sul que muito se assemelham e cuja identidade de convicções religiosas e tradições históricas é notável. Mas com os Estados Unidos que em nada se assemelha à nós e que principalmente se afasta de nós pelo protestantismo, é absolutamente impossível e indesejável uma colaboração intelectual mais intensa.