Legionário, N.o 296, 15 de maio de 1938

7 DIAS EM REVISTA

É invariável norma desta Folha só se pronunciar sobre acontecimentos políticos na medida em que estes se relacionem com a doutrina católica e os interesses espirituais do povo brasileiro.

Os acontecimentos recentemente ocorridos no Rio de Janeiro ainda se conservam por demais enigmáticos para que emitamos juízo sobre suas conseqüências sob o ponto de vista religioso. Nada temos, pois, a dizer quanto a esse assunto.

Uma coisa, entretanto, é positiva, e não podemos deixar de lavrar, contra ela, nosso protesto. Houve uma subversão violenta da ordem, com o intuito de depor autoridades constituintes. Contra este fato, não pode deixar de se insurgir uma consciência católica bem formada, uma vez que a Santa Igreja nunca tolerou, e jamais tolerará, o erro liberal segundo o qual  um grupo de descontentes que interprete ou julgue interpretar a opinião pública pode, a qualquer momento, destituir as autoridades que incorrem em seu desagrado.

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O “Legionário” acolheu com ardente entusiasmo a notícia de que o Rev.mo Mons. Mac Dowell, Vigário do Engenho Velho no Rio de Janeiro, promoveu na sua Matriz um solene ato de desagravo a S.S. o Papa Pio XI, ofendido pela ostentação da cruz gamada na Capital da Cristandade.

Sob dois aspectos, esse fato merece nosso franco aplauso. Em primeiro lugar, porque constitui uma prova de filial união à Cátedra infalível da Verdade, e, em segundo lugar, porque é um ato daquele belo e vigoroso destemor tão próprio ao espírito da Igreja e que, em linguagem católica, se chama liberdade evangélica.

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De volta de Buenos Aires, chegou ao Rio de Janeiro o Sr. Café Filho, que se havia refugiado na Embaixada Argentina e posteriormente se asilara naquele País, por se sentir pouco seguro no Brasil com a repressão então feita contra a propaganda esquerdista.

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No dia da descoberta do Brasil, a 3 de maio, a Congregação Mariana do Sumaré promoveu uma das mais belas Comunhões pascais que se realizam entre nós: a dos lixeiros.

A Santa Igreja não se esquece dos humildes, como afirmam os seus adversários desonestos. Pelo contrário, é ela a sua única Protetora, porque vê em todos os homens, poderosos ou humildes, filhos de Deus remidos pelo Precioso Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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Quando o Sr. Hitler assaltou a Áustria, esta se achava com perto de 45% em ouro de sua circulação recolhida nos cofres públicos.

Agora, chega-nos a notícia de um empréstimo de 1 milhão de marcos que o nazismo pretende lançar para cobrir as despesas com o Anschluss.

Onde foi o dinheiro austríaco?

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Quem supôs que depois da tomada da Áustria o Sr. Hitler modificasse a sua política religiosa, já  devia ter perdido as esperanças, depois da recente visita do chefe do nazismo a Roma.

Se alguém ainda mantém ilusões a esse respeito, elas se desfarão por completo lendo um recente artigo do Ministro da Justiça da Áustria na revista “Akademie fur deutsches Recht”, no qual depois de enumerar as leis alemãs já  estendidas no território austríaco, diz que proximamente serão introduzidas a da limitação da natalidade, a lei contra os delinqüentes, e da defesa do sangue e da honra alemã, e a da defesa da saúde hereditária. Portanto paganização da Áustria também.

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Todos os ministros do ex-chanceler Schuschnigg foram conduzidos para um campo de concentração. É provável que, dentro de algum tempo, o Sr. Hitler os “suicide”.

Confere. Mas todos os católicos devem rezar ardentemente pela perseverança dessas pobres vítimas do paganismo.

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Falando numa recente reunião socialista, o ministro do Exterior da Bélgica, Spaak, afirmou que a maioria dos socialistas do mundo é hostil à união dos países democráticos contra o Fascismo, porque isso provocaria a guerra.

É interessante este surto de pacifismo dos socialistas belgas que não hesitaram alimentar, com a remessa de armas, a guerra na Espanha, e que obedecem a pressão de forças internacionais.

Nessa atitude de um socialista com a responsabilidade do Sr. Spaak, transparece a verdadeira razão da falta de resistência dos países democráticos contra o nazismo. É porque o nazismo e seus congêneres são apenas aparentemente da direita mas na realidade são a mesma coisa que o socialismo.

Quereríamos ver se o Sr. Hitler fosse um novo Dolfuss e atacasse o comunismo e o socialismo, se o Sr. Spaak se lembraria de não “provocar” a guerra.

 O caso é que até agora o nazismo só se lembrou de atacar o Catolicismo e a Áustria Católica. E isso é conforme aos planos comunistas que só têm um inimigo verdadeiro e leal: o Catolicismo.

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Causou agradável impressão o decreto do Sr. Interventor federal considerando facultativo o ponto nas repartições públicas no dia 11 de Maio, em Aparecida do Norte.

Seria até de se desejar que, nos anos vindouros, essa data fosse feriado em todo o território do Estado no qual a Providência quis fixar o trono da Rainha do Brasil.