Continua a
sangrar de indignação e de dor nosso coração de católicos, em virtude da
pavorosa hecatombe austríaca. Para a Áustria, pois, nossos primeiros e mais
sentidos comentários.
Duas notícias de
Viena que evidenciam amplamente o cinismo e descaramento do nazismo,
reconhecendo os seus crimes, e procurando já de antemão justificar futuros atos
de vandalismo.
Uma, comunica
que serão exumados os restos mortais do assassino de Dolfuss,
Otto Planeta, e transportados para um túmulo de
honra, a fim de “reabilitar” a sua memória, concedendo-lhe assim as homenagens
de herói nacional.
A outra notícia
é que será revisto o processo que condenou Otto
Planeta, e que o ex-chanceler Schuschnigg
figurará como um dos réus no novo processo, pois é um dos co-responsáveis pelo
assassínio de Dolfuss.
É de uma tão
requintada infâmia essa calúnia contra o ex-chanceler
austríaco, que só a previsão de uma futura execução do Sr. Schuschnigg
projeta alguma luz sobre os motivos por que foi lançada.
O nazismo
prepara já o caminho para uma desculpa esfarrapada, tão comum em seus métodos
para o assassinato de Schuschnigg.
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O Sr. Hitler
manda noticiar que foi recebido na Áustria com um entusiasmo delirante. No
entanto, um telegrama de Viena comunica que a polícia organizou uma seção
especial motorizada de emergência, a fim de defender as ruas atracadas por
multidões amotinadas.
Essas multidões
que tanto amedrontam o Sr. Hitler serão as mesmas que foram aplaudi-lo? E será
que foi esse entusiasmo que motivou as 1742 prisões efetuadas?
Note-se, além
disso, o enorme número de suicídios que as agências telegráficas veiculam. É
muito difícil acreditar-se que essas pessoas não tenham sido “suicidadas”, a fim
de que Hitler possa depois desculpar-se perante a opinião mundial!
* * *
É de se notar a
dignidade e coragem com que se houve o Sr. Schuschnigg
depois de ter cedido ante a força bruta. Segundo transparece através dos
telegramas, os nazistas ofereceram ao Sr. Schuschnigg
o exílio, se desistisse de qualquer atividade política.
O Sr. Schuschnigg, porém, recusou a oferta, preferindo
conservar-se prisioneiro do nazismo a assumir o torpe compromisso de não mais
lutar pela Igreja e pela Áustria.
E Deus sabe
quanto é penoso um cativeiro nas mãos dos nazistas.
* * *
Os dois países
que protestaram com maior calor contra a invasão da Áustria foram o México e a
Rússia.
Espíritos menos
prevenidos poderiam supor que isso fosse uma prova de que a independência da
Áustria beneficiava a causa comunista. O argumento, entretanto, é tudo quanto
há de mais falho.
Quando o Papa
decretou a extinção da Companhia de Jesus, os dois únicos países que não a
dissolveram e continuaram a abrigar a Companhia foram a Prússia
protestante e a Rússia ortodoxa, inimigas irredutíveis da obra recatolisadora dos Jesuítas...
Estas atitudes
provam apenas que a Providência, nos seus desígnios misteriosos, se compraz em
tirar mel da boca dos leões, e a forçar os maus a reconhecerem a verdade.
Santo Inácio, foi
tentado certa vez pelo demônio que, aproveitando o cansaço do Santo, o
aconselhou a não ler o Breviário. Para punir o demônio, o Santo o obrigou a
segurar a vela enquanto lia...
* * *
Nossos mais
efusivos parabéns a “O operário” que dia 11 deste mês comemorou o seu jubileu de
prata.
Só quem conhece
de perto o quanto de sacrifícios e trabalhos exige um jornal católico de seus
redatores, pode reconhecer completamente a soma de energias despendidas pelos
nossos colegas do “O operário” durante esses 25 anos de lutas incessantes pela
causa da boa imprensa, da imprensa católica.
Que Nosso
Senhor continue a proteger o “O operário” e seus redatores, a fim de
prosseguirem na imensa tarefa de catolização da
classe operária do Brasil pela imprensa, são os votos do “O Legionário”.
* * *
Merece um
sorriso de piedade a recente afirmativa de S. Ex.a. de que feudalismo e
fascismo são a mesma coisa.
Será possível
que o primeiro magistrado de uma tão poderosa Nação ignore a tal ponto
História, que chegue a fazer ao feudalismo a injustiça de o achar parecido com
o fascismo?
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Devem ser
registradas com agrado as palavras que proferiu o Sr. Dr. Carlos Magalhães Lebeis, Diretor do Departamento de Assistência Social, ao
discursar como paraninfo das primeiras diplomandas da
Escola de Serviço Social.
Em harmonia de
vistas com o belo discurso da oradora da turma de diplomandas,
S. S. acentuou o caráter moral e religioso dos problemas sociais, repudiando a
opinião dos que, consciente ou inconscientemente marxistas, pretendem
reduzi-los a uma questão econômica.
É, sobretudo, consolador numa época tão carregada de socialismos,
totalitarismos como a nossa, verificar como o Diretor de um dos mais
importantes Departamentos do governo paulista sabe compreender perfeitamente a
missão do Estado em relação às instituições particulares, auxiliando-as e
respeitando sua autonomia e iniciativa, dentro das diretrizes traçadas pela
Encíclica Rerum
Novarum de Leão XIII.
O público
reconhecimento deste princípio por parte do Sr. Carlos Lebeis
é uma garantia da boa orientação que, em suas mãos, terá seu importante
departamento o qual, colocado em outras mãos, poderia ser até um instrumento de
combate à influência social do Catolicismo.
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Nossos
calorosos elogios ao “Centro XI de Agosto” [da Faculdade de Direito do Largo São
Francisco, na capital paulista] pelo seu vibrante protesto contra a intromissão
nazista no Brasil.
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Causou-nos
amarga decepção o telegrama publicado na 5ª feira p.p., em que o
General Franco felicita o Sr. Hitler pelo seu crime em relação à Áustria.
Então, será
para que a Espanha apoie a paganização da Áustria que
os católicos derramam o seu sangue heroicamente nas trincheiras da Pátria de
Santo Inácio?
Será possível
que Franco venha a escamotear em benefício de Hitler a vitória dos católicos
contra a hidra comunista?