Legionário, N.o 289, 27 de março de 1938

7 DIAS EM REVISTA

Continua a sangrar de indignação e de dor nosso coração de católicos, em virtude da pavorosa hecatombe austríaca. Para a Áustria, pois, nossos primeiros e mais sentidos comentários.

Duas notícias de Viena que evidenciam amplamente o cinismo e descaramento do nazismo, reconhecendo os seus crimes, e procurando já de antemão justificar futuros atos de vandalismo.

Uma, comunica que serão exumados os restos mortais do assassino de Dolfuss, Otto Planeta, e transportados para um túmulo de honra, a fim de “reabilitar” a sua memória, concedendo-lhe assim as homenagens de herói nacional.

A outra notícia é que será revisto o processo que condenou Otto Planeta, e que o ex-chanceler Schuschnigg figurará como um dos réus no novo processo, pois é um dos co-responsáveis pelo assassínio de Dolfuss.

É de uma tão requintada infâmia essa calúnia contra o ex-chanceler austríaco, que só a previsão de uma futura execução do Sr. Schuschnigg projeta alguma luz sobre os motivos por que foi lançada.

O nazismo prepara já o caminho para uma desculpa esfarrapada, tão comum em seus métodos para o assassinato de Schuschnigg.

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O Sr. Hitler manda noticiar que foi recebido na Áustria com um entusiasmo delirante. No entanto, um telegrama de Viena comunica que a polícia organizou uma seção especial motorizada de emergência, a fim de defender as ruas atracadas por multidões amotinadas.

Essas multidões que tanto amedrontam o Sr. Hitler serão as mesmas que foram aplaudi-lo? E será que foi esse entusiasmo que motivou as 1742 prisões efetuadas?

Note-se, além disso, o enorme número de suicídios que as agências telegráficas veiculam. É muito difícil acreditar-se que essas pessoas não tenham sido “suicidadas”, a fim de que Hitler possa depois desculpar-se perante a opinião mundial!

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É de se notar a dignidade e coragem com que se houve o Sr. Schuschnigg depois de ter cedido ante a força bruta. Segundo transparece através dos telegramas, os nazistas ofereceram ao Sr. Schuschnigg o exílio, se desistisse de qualquer atividade política.

O Sr. Schuschnigg, porém, recusou a oferta, preferindo conservar-se prisioneiro do nazismo a assumir o torpe compromisso de não mais lutar pela Igreja e pela Áustria.

E Deus sabe quanto é penoso um cativeiro nas mãos dos nazistas.

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Os dois países que protestaram com maior calor contra a invasão da Áustria foram o México e a Rússia.

Espíritos menos prevenidos poderiam supor que isso fosse uma prova de que a independência da Áustria beneficiava a causa comunista. O argumento, entretanto, é tudo quanto há de mais falho.

Quando o Papa decretou a extinção da Companhia de Jesus, os dois únicos países que não a dissolveram e continuaram a abrigar a Companhia foram a Prússia protestante e a Rússia ortodoxa, inimigas irredutíveis da obra recatolisadora dos Jesuítas...

Estas atitudes provam apenas que a Providência, nos seus desígnios misteriosos, se compraz em tirar mel da boca dos leões, e a forçar os maus a reconhecerem a verdade.

Santo Inácio, foi tentado certa vez pelo demônio que, aproveitando o cansaço do Santo, o aconselhou a não ler o Breviário. Para punir o demônio, o Santo o obrigou a segurar a vela enquanto lia...

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Nossos mais efusivos parabéns a “O operário” que dia 11 deste mês comemorou o seu jubileu de prata.

Só quem conhece de perto o quanto de sacrifícios e trabalhos exige um jornal católico de seus redatores, pode reconhecer completamente a soma de energias despendidas pelos nossos colegas do “O operário” durante esses 25 anos de lutas incessantes pela causa da boa imprensa, da imprensa católica.

Que Nosso Senhor continue a proteger o “O operário” e seus redatores, a fim de prosseguirem na imensa tarefa de catolização da classe operária do Brasil pela imprensa, são os votos do “O Legionário”.

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Merece um sorriso de piedade a recente afirmativa de S. Ex.a. de que feudalismo e fascismo são a mesma coisa.

Será possível que o primeiro magistrado de uma tão poderosa Nação ignore a tal ponto História, que chegue a fazer ao feudalismo a injustiça de o achar parecido com o fascismo?

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Devem ser registradas com agrado as palavras que proferiu o Sr. Dr. Carlos Magalhães Lebeis, Diretor do Departamento de Assistência Social, ao discursar como paraninfo das primeiras diplomandas da Escola de Serviço Social.

Em harmonia de vistas com o belo discurso da oradora da turma de diplomandas, S. S. acentuou o caráter moral e religioso dos problemas sociais, repudiando a opinião dos que, consciente ou inconscientemente marxistas, pretendem reduzi-los a uma questão econômica.

É, sobretudo, consolador numa época tão carregada de socialismos, totalitarismos como a nossa, verificar como o Diretor de um dos mais importantes Departamentos do governo paulista sabe compreender perfeitamente a missão do Estado em relação às instituições particulares, auxiliando-as e respeitando sua autonomia e iniciativa, dentro das diretrizes traçadas pela Encíclica Rerum Novarum de Leão XIII.

O público reconhecimento deste princípio por parte do Sr. Carlos Lebeis é uma garantia da boa orientação que, em suas mãos, terá seu importante departamento o qual, colocado em outras mãos, poderia ser até um instrumento de combate à influência social do Catolicismo.

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Nossos calorosos elogios ao “Centro XI de Agosto” [da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, na capital paulista] pelo seu vibrante protesto contra a intromissão nazista no Brasil.

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Causou-nos amarga decepção o telegrama publicado na 5ª feira p.p., em que o General Franco felicita o Sr. Hitler pelo seu crime em relação à Áustria.

Então, será para que a Espanha apoie a paganização da Áustria que os católicos derramam o seu sangue heroicamente nas trincheiras da Pátria de Santo Inácio?

Será possível que Franco venha a escamotear em benefício de Hitler a vitória dos católicos contra a hidra comunista?