Legionário, N.o 286, 6 de março de 1938

7 DIAS EM REVISTA

(...) Tiveram plena confirmação nossas previsões a respeito do verdadeiro móvel que levou o Sr. Hitler a exigir a soltura dos comunistas austríacos. Muito hipocritamente, os nazistas austríacos e seus correligionários alemães andam, agora, a bradar contra a propaganda comunista na Áustria, afirmando que até na Frente Patriótica (isto é, no partido nitidamente católico que apoia o Sr. Schuschnigg), os comunistas conseguiram criar células de propaganda. Daí a conseqüência tirada pelos nazistas, que já prenunciamos em nosso último número: só o nazismo salvará a Áustria do comunismo.

Se chamamos a atenção dos leitores para esta comédia, fazemo-lo com o único fito de demonstrar que o nazismo se serve do comunismo como mero pretexto para obter a simpatia do elemento anticomunista, mas que, na realidade, ele não tem a menor intenção de combater o comunismo a fundo.

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A propósito de nazismo e comunismo, o “Legionário” já publicou, em sua penúltima edição, uma oportuna e expressiva declaração do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, na qual aquele eminente purpurado afirma que “o Estado totalitário não é melhor do que o comunismo”, fazendo com isto alusão clara à Alemanha.

Agora, chegou-nos às mãos a magnífica Pastoral Coletiva do Episcopado Português, que, dentro desta mesma ordem de idéias, acentua que há hoje em dia dois materialismos, um da esquerda e outro da direita, ambos irremediavelmente incompatíveis com o pensamento católico.

Essas declarações são muito para se notar, porquanto o Episcopado Português e, à sua frente, o Cardeal Cerejeira, não tem recusado sua simpatia ao governo do Sr. Oliveira Salazar, que, como se sabe, pertence às chamadas “direitas”.

O episcopado Português tem portanto uma extraordinária insuspeição, mesmo aos olhos de certos elementos da direita, para condenar o nazismo e doutrinas congêneres, sem que lhe possam atirar as injúrias e calúnias com que a imprensa nazista assaltou o Cardeal Mundelein.

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As discussões travadas no Parlamento inglês a respeito da demissão do Sr. Eden foram sobremodo significativas. Até aqui, havia no Brasil e em outros lugares, alguns bonachões que consideravam o Partido Trabalhista inglês como uma pomba sem fel, na qual não há a menor influência comunista.

Realmente, o “Labour Party” tem um programa perfeitamente razoável e uma fachada política absolutamente honesta. Mas é incontestável que os comunistas tem grande influência nas suas fileiras. A prova disto é o interesse quase doentio que os deputados do Labour Party na Câmara dos Comuns demonstraram pelos comunistas espanhóis, insistindo vivamente em que a Inglaterra não deixasse de lhes dar apoio.

Aliás, temos razões para esperar que a substituição do Sr. Eden por Lord Halifax dê lugar a uma modificação na política externa da Inglaterra, levando-a a se dissociar dos comunistas espanhóis, e a apagar assim uma das mais negras nódoas da História inglesa.

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A respeito da morte de Gabriel d'Annunzio, nada temos a dizer senão o que disse uma nota publicada pelo “Osservatore Romano”, órgão oficioso da Santa Sé.

Louvando embora o patriotismo de que d’Annunzio deu provas como militar e como político, e o insigne feito que lhe ficou a dever a sua gloriosa pátria italiana com a anexação de Fiume, o órgão da Santa Sé acentua o mal imenso que produziram os livros do poeta, que a justo título foram considerados por um crítico católico como dos piores da literatura contemporânea.

Sobre as últimas disposições de d’Annunzio em matéria religiosa, os noticiários dos jornais não esclarecem grande coisa. Ao que parece, d’Annunzio recebeu ainda a absolvição sacramental, já perdidos os sentidos, pouco antes de morrer. Do que se pode depreender pela leitura dos jornais, d’Annunzio manifestara muito antes de sua morte, o desejo de ser enterrado com um Crucifixo, o que foi feito. Não sabemos de outro gesto do poeta, que autorize a suposição de uma emenda.

Em todo o caso, a Igreja, que é mãe, tendo em consideração que nenhum artigo do Código de Direito Canônico obstava a que se fizessem publicamente sufrágios por sua alma, permitiu sua realização.

Resta-nos apenas orar ardentemente para que o Senhor não recuse sua misericórdia àquele poeta que, hoje, já é pó.

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Na nau “Puglia”, onde o corpo de d’Annunzio foi exposto à visitação do Duque de Bérgamo representando o Rei Victor Emmanuel, do Sr. Mussolini, e do público, se colocou atrás do ataúde uma estátua de Vênus.

Não tem comentários este fato ocorrido em plena Itália, isto é no seio de um dos povos mais católicos e mais civilizados do mundo.

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Nada temos a dizer sobre os processos a que a URSS está submetendo alguns miseráveis que incorreram na ira de Stalin e que provavelmente serão mortos com crueldade. É normal que gangsters comunistas, apaches ou canibais cometam crimes.

Simplesmente queremos chamar a atenção de nossos leitores para o fato de procederem de Moscou todos os telegramas referentes aos processos em questão, razão pela qual se nota nestes telegramas uma manobra muito capciosa, que queremos desmascarar.

Em tais telegramas, há referências a supostas conspirações dos atuais réus, no sentido de organizarem uma larga propaganda de calúnias contra a Rússia no exterior, e de sabotarem o plano qüinqüenal no interior.

Daí se deduziria: 1) que a Rússia soviética não é tão feia quanto a pintam, mas que ela assim parece em virtude de manobras de seus detratores; 2) que o plano qüinqüenal fracassou não por ser mau em si, mas em virtude da sabotagem.

Não está bem feita esta manobrinha?

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Deu-nos a maior satisfação a notícia de que o general Franco abolirá o divórcio a vínculo em toda a Espanha Nacionalista.