Por ocasião das festas de Ano Bom, é hábito que os
Chefes de Estado troquem entre si telegramas de cortesia e votos de felicidade.
Evidentemente, no terreno diplomático, empresta-se a tais votos um significado
muito superficial, mais ou menos como se faz, no trato entre particulares, com
certas formas de polidez, como por exemplo o “prazer em conhecê-lo”, “prazer em
vê-lo”, “um criado às ordens”, e outras do mesmo jaez.
Assim como o “prazer em conhecê-lo” é de rigor
entre pessoas que são apresentadas, assim também os telegramas de ano bom são
de rigor entre Chefes de Estado, ainda que muito tensas as relações entre eles.
E os repórteres se comprazem em acentuar maliciosamente o contraste entre as
amabilidades protocolares do ano bom, e as intenções verdadeiramente hostis que
animam não raramente os Chefes de Estado
gratulantes.
No fundo, evidentemente, há em tudo isto boa dose
de palhaçada, pois que ninguém toma a sério tais votos. Quem poderia crer, por
exemplo, na sinceridade dos votos que o Sr. Hitler dirigiu a S. S. o
Papa Pio XI? Há dias, o Santo
Padre denunciou-o como insigne fautor de heresia, e a afirmação de S. S. é
certamente verdadeira. Que intenções cordiais poderá ter um fautor de heresia
em relação ao Chefe da Igreja?
Ciente de tudo isto, o Santo Padre mandou, no
entanto, a Hitler um telegrama
paternal e sobriamente cordial, um telegrama de paz, amoroso com quanto
ofendido, que deseja a felicidade do filho pródigo conquanto tenha dele a mais
grave razão de queixa. Que um fautor de heresia tenha de ser necessariamente um
inimigo da Santa Sé, ninguém o contesta. Mas nem por isto a Santa Sé será
inimiga do fautor de heresia. Porque a Mãe, mesmo quando castiga, quando
condena, quando censura, não deixa de ser Mãe.
Em outro local, comenta-nos a fundação duma igreja
católica brasileira da qual, parodiando Voltaire, poderíamos dizer que não é nem católica, nem brasileira,
e nem mesmo igreja.
Do jornal “Ação”, transcrevemos a seguinte carta
fornecida ao Sr. Salomão Ferraz pelo Ex.mo Sr.
Ministro das Relações Exteriores:
“Gabinete do Ministro das Relações Exteriores -
Rio, em 21 de Setembro de 1937. - Ex.mo Sr. Pedro de Morais Barros, - Ministro do Brasil em Haia.
“Tenho o prazer de apresentar e recomendar a Vossa
Excelência D. Salomão Ferraz, eleito bispo da Igreja Católica Livre do Brasil e
que vai a Holanda a fim de sagrar-se.
“Peço a Vossa Excelência o obséquio de atender o
meu recomendado com sua solicitude costumeira, cercando-o de todas as
facilidades possíveis no cumprimento do alto desígnio que o leva a esse país.
“Aproveito o ensejo para reiterar-lhe os protestos
de perfeita estima e distinta consideração com que me subscrevo.
“De Vossa Excelência, collbr.
e amgo. mto. atto. - a. Pimentel Brandão. Ministro das Relações
Exteriores”.
Convém acrescentar que o Ex.mo Sr. Ministro do
Exterior, em nota distribuída à imprensa, afirmou não ter sido sua intenção
auxiliar a fundação da pseudo-igreja, que S. Ex.a
qualifica de impostora.
* * *
São merecedoras de todo o elogio as belas palavras
que o Ex.mo Sr. José Bonifácio de Andrada e Silva, embaixador do Brasil junto a Santa Sé, pronunciou por ocasião da entrega de suas credenciais ao
Santo Padre Pio XI.
Entre outros tópicos dignos de registro, destacamos
os seguintes:
“Católico, diz o embaixador, educado em uma
atmosfera de sentimentos cristãos dos mais puros, pertencendo a uma família em
que o culto da religião católica é praticado diariamente, considero esta honra
como uma graça divina.”
“De acordo com os sentimentos do meu país e do
governo brasileiro, e obedecendo às exigências do meu dever de católico,
empregarei todo o meu ardor, todas as minhas energias para consolidar cada vez
mais as tradicionais relações de amizade entre o meu país e a Santa Sé, feliz
em poder servir junto à Vossa Santidade os interesses do Brasil e da Igreja,
coluna e fundamento da verdade”.
* * *
A descoberta de material de propaganda subversiva
enviada da Espanha ao Brasil pelo
correio, vem provar mais uma vez que os governantes da Espanha vermelha não
passam de um grupo de malfeitores internacionais, empenhados em semear a guerra
social no mundo inteiro.
É, pois, muitíssimo de se desejar que o atual
Estado brasileiro rompa de vez relações com Valência, estabelecendo-as com os autênticos representantes da
Espanha católica e nacionalista à testa dos quais está o General Franco.
A dissolução dos centros espanhóis da esquerda é um
feliz prenúncio da realização desse nosso desejo. Devemos esperar que a ruptura
completa com Valência não tarde.
* * *
Enquanto o Sr. Roosevelt se manifestou, na
sua oração de Ano Bom, tão hostil aos Estado fortes, que ele qualifica de
opressivos e de tirânicos, não teve uma palavra de censura para com a Rússia ou
o pobre México, entregues uma e outro à pior tirania que se conhece em nossos
tempos.
Seja qual for o juízo que se faça da política do
Sr. Roosevelt, esta omissão não pode deixar de ser objeto da mais grave
censura por parte dos católicos. Tome lá S. Ex.a a posição internacional que
preferir, que isto não nos importa. Mas tenha a bondade de não fingir ignorar o
que, de cruel e dramático, se passa por assim dizer nas barbas de sua Pátria,
com a cumplicidade criminosa de homens de Estado yankees.
* * *
É curioso o empenho com que (...) divulga notícias
alarmantes sobre o estado de saúde do Santo Padre.
Ainda há dias, a referida agência o dava como
seriamente doente.
Esse desejo dos inimigos da Santa Igreja de ver
morto quanto antes o Papa, são indireta e involuntariamente um esplêndido
reconhecimento da grande sabedoria e incomparável eficiência com que Pio XI dirige a barca de
São Pedro.
O que os inimigos da Igreja ignoram porém, é que um
Papa pode morrer, mas o Espírito Santo não morre, e que é Ele que na realidade
dirige a Santa Igreja de Deus.