Legionário, N.o 275, 19 de dezembro de 1937

Sete dias em Revistas

Registramos com viva satisfação o gesto do Sr. Interventor Federal em Pernambuco, Dr. Agamenon Magalhães, que incluiu na lista de seus Secretários de Estado alguns nomes da maior projeção nos círculos católicos daquele Estado.

Para a Secretaria da Fazenda, foi nomeado o Sr. Manoel Lubambo, diretor da magnífica revista de cultura católica “Fronteiras”, um dos mais notáveis órgãos de publicidade com que os católicos contam no Brasil. Além de católico militante, o Sr. Manoel Lubambo é abalizado técnico em assuntos financeiros.

À testa das atividades educacionais do Estado ficará o Sr. Nilo Pereira, advogado e jornalista católico de renome que, como professor que é, também ocupa seu novo cargo na qualidade de técnico. Finalmente, o Sr. Apollonio Salles, o novo Secretário da Agricultura, é colaborador em diversas revistas especializadas de agricultura e agronomia e também figura de projeção nos círculos católicos daquele Estado.

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Segundo as informações que recebemos não apenas dos círculos católicos, mas dos próprios jornais leigos, vem sendo notada em Santos com a maior simpatia a magnífica atuação que S. Ex.a Rev.ma, o Sr. Dom Paulo de Tarso Campos, Bispo daquela vizinha Diocese, vem desenvolvendo em prol das populações recentemente flageladas pelas enchentes de nosso litoral. Multiplicando discreta e eficientemente as providências necessárias para aliviar a desgraça que tão duramente feriu aquela parte de sua Diocese. S. Ex.a Rev.ma, cooperando com as autoridades civis, tem dispensado benefícios inestimáveis aos necessitados.

Registrando o fato, lembramos a nossos leitores o dever em que se encontram de secundar com suas preces e seus auxílios a obra magnífica daquele grande Prelado cujo zelo ardente é tão bem conhecido em São Paulo.

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Em alocução pronunciada na semana transacta, o Santo Padre Pio XI manifestou mais uma vez sua veemente condenação às perseguições que a Santa Igreja está sofrendo, não apenas entre os comunistas que se ufanam em ser o “inimigo n.º 1” do Catolicismo, mas ainda do nazismo, que gosta de assumir “poses” de pretenso defensor da civilização cristã.

Quem conhece o alto senso diplomático do Santo Padre, e as esplêndidas tradições de prudência e longanimidade da política do Vaticano não pode duvidar de que este novo brado de alarme do Santo Padre contra o nazismo constitui necessariamente uma réplica a novos atos de hostilidade do III Reich contra a Igreja Católica. Desfazem-se assim, infelizmente, os boatos segundo os quais o III Reich tenderia a melhorar sua posição perante a Igreja.

Não seria necessário, aliás, fazer esta observação, para ficar conhecendo a situação político-religiosa da Alemanha. As notícias que nos vem diretamente daquele país são as piores. Ainda na semana transacta, o jornal das “Tropas de Assalto” do partido nazista fez a apologia do confisco de todas as propriedades da Igreja na Alemanha, e o famoso Angriff”, jornal nazista de grande cotação, acaba de ameaçar S. Ex.a Rev.ma o Bispo de Berlim, de duras represálias.

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À vista disto, se torna pasmoso, profundamente deplorável que o Ex.mo Sr. Cônsul Geral da Alemanha em São Paulo, em entrevista concedida ao “Diário de São Paulo”, tenha declarado desejar que “daqui para o futuro nenhum brasileiro mais acreditasse que na Alemanha a Religião Católica é perseguida, não havendo nada mais vil que a mentira espalhada por certas rodas interessadas, nos países católicos, por baixos motivos políticos e econômicos”, de que a Igreja sofre na Alemanha qualquer hostilidade governamental.

Se os católicos do mundo inteiro - não apenas os de alguns países, como insinua S. Ex.a - protestam contra a perseguição na Alemanha, é porque Sua Santidade o Papa Pio XI afirmou solenemente que essa perseguição existe. E, para nós, ainda que não houvesse outras provas exuberantíssimas, esta bastaria plenamente.

Negando a existência de tais perseguições, e afirmando que constitui “mentira baixa” afirmar que a Igreja na Alemanha é perseguida, o Sr. Cônsul Geral da Alemanha fere profundamente os sentimentos religiosos do nosso país.

Estas nossas observações, que se não revestem de qualquer hostilidade para a grande República Alemã que altamente prezamos, nem à colônia alemã no Brasil - convém acentuá-lo para evitar explorações fáceis - atingem tão somente as declarações daquela autoridade consular.

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Nossos aplausos pelo gesto da polícia do Rio, que apreendeu diversos livros subversivos e imorais, entre os quais “Capitães de Areia” e “Suor”, de Jorge Amado, “Lapa”, de Luis Martins, e Tarzan, o invencível”, de Rice Burroughs.

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Devemos esclarecer que as notícias telegráficas referentes a uma ruptura religiosa entre o Egito e a Abissínia, e a nomeação de bispos coptas abexins independentes dos do Cairo, à testa dos quais ficaria um novo “Patriarca”, absolutamente não se referem ao Clero católico.

Instaurado o Império Etíope anexado ao Reino da Itália, quiseram as autoridades italianas que o clero cismático copta da Abissínia não ficasse mais dependente do Patriarca copta do Egito, o que significaria uma dependência espiritual de súditos italianos a uma autoridade religiosa influenciável pela Inglaterra.

Mas como se trata de cismáticos, isto é, de pessoas em revolta secular contra a Santa Igreja e a Santa Sé, nada temos que ver com estes fatos, que só servem para provar como todas as igrejolas separadas de Roma perdem sua independência e se transformam em ridículos joguetes da rivalidade colonial da Inglaterra com a Itália.

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Registramos com satisfação o telegrama que anuncia que serão criadas mais 3 Dioceses e 2 Arquidioceses católicas nos Estados Unidos, índice expressivo dos progressos que o Catolicismo tem feito naquela República. 

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No dia 12, realizaram-se as eleições gerais na Rússia. Como se vê, tais eleições, como as da Alemanha, foram mera burla, pois que o voto a descoberto, dado obrigatoriamente em favor do Governo, sob severas ameaças, é uma irrisão.

Mas essa irrisão prova que o governo russo está mais fraco do que se pensa. Porque, diga-se o que se disser, o governo que receia eleições livres tem medo do resultado das apurações, e com isto confessa sua fraqueza. Não há sofisma capaz de encobrir este fato.

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Não queremos dizer com isto que todo governo deve ser necessariamente de base eleitoral e democrática. Longe de nós semelhante erro. Mas se um governo se diz democrático e não pratica a democracia, como o governo russo, a razão disto é óbvia: é que não lhe convém o veredicto daquela mesma opinião popular que ele mentirosamente qualifica de soberana. (...)